Ibovespa fecha sessão em alta de 0,77% e amplia ganhos do mês: confira os três fatores que levaram à nova alta do índice

Após "susto" no início da tarde, benchmark da Bolsa voltou a registrar fortes ganhos, com fatores internos e externos corroborando otimismo

Lara Rizério Vitor Azevedo

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O Ibovespa teve uma nova sessão de alta nesta sexta-feira (26), subindo 0,77%, aos 110.905 pontos. Com isso, o principal índice da Bolsa brasileira pode fechar o mês de maio (na próxima quarta, 31) com os maiores ganhos desde janeiro de 2022, quando subiu 6,98%.

Ainda que com alta modesta na semana, de 0,15%, o Ibovespa, no mês, acumula alta de 6,20%.

Na máxima do dia, o benchmark da Bolsa avançou 1,50%, a 111.750 pontos,  No início da tarde, o índice chegou a zerar os ganhos e assustou os investidores, mas depois se recuperou, ainda que tenha fechado longe das máximas.

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Em parte, o que pode ter afastado o índice das máximas é o fato de segunda-feira (29) ser feriado nos Estados Unidos, com investidores desmontando posições.

Além disso, uma entrevista do ministro da Fazenda Fernando Haddad no fim da tarde também deixou investidores atentos. Ele afirmou que os indicados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Banco Central não irão formar uma bancada de oposição na autarquia e também voltou a defender uma revisão da meta de inflação, para que essa seja avaliada de forma contínua, com o percentual fixado no longo prazo.

Cabe destacar que ontem o índice subiu 1,15% muito por conta da surpresa do IPCA-15 de maio abaixo do esperado (com alta mensal de 0,51% ante projeção de avanço de 0,64%), mas sem contar com apoio do exterior e das commodities. Já desta vez, o noticiário mais positivo lá fora corroborou o movimento de alta do benchmark da Bolsa.

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A recuperação do minério após fortes quedas, levando à alta das ações de Vale (VALE3) e siderúrgicas, os sinais mais fortes de acordo sobre o teto da dívida nos EUA e a continuidade do maior ânimo com a inflação abaixo do esperado por aqui foram fatores que animaram o mercado nesta sessão.

Confira abaixo:

1. Ações domésticas fecham em alta com visão de que a Selic pode cair antes do que era esperado

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A semana foi positiva para quem aposta num cenário antecipado de queda dos juros. Além da aprovação do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados com algumas alterações que foram bem recebidas pelos investidores, os últimos dados de inflação e recentes falas de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, corroboraram um cenário mais otimista para um cenário de início do ciclo de flexibilização monetária.

Na véspera, o IPCA-15 de maio mostrou desaceleração de núcleos de inflação, com alta de 0,51% mensal, ante projeção do mercado de avanço de 0,64%. Significativamente abaixo das projeções, o resultado revelou uma composição mais benigna da inflação, com destaque para a deflação de bens duráveis e a desaceleração de serviços subjacentes. A média dos núcleos cedeu de 6,5% para 6,2% na métrica de 3 meses dessazonalizada e anualizada.

“As medidas subjacentes ainda se mostram pressionadas e acima das metas, mas devem desacelerar ao longo do ano. O resultado pode levar a uma revisão importante das projeções de inflação para 2023 e, em alguma medida, as de 2024. Nesse caso, a discussão sobre o início do ciclo de afrouxamento monetário deve se intensificar”, avalia o Bradesco.

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Segundo aponta a equipe da Necton, a desaceleração do IPCA-15 desencadeou apostas de que o BC pode começar seu ciclo de afrouxo monetário em agosto. Antes da divulgação, as previsões no mercado apontavam para o corte em setembro da taxa básica de juros, atualmente em 13,75% ao ano.

Além do alívio da inflação, a equipe da Tullett Prebon Brasil também apontou o tom “menos hawk” (duro) do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, que afirmou na véspera que o avanço do arcabouço fiscal impacta as expectativas de inflação e já reflete em um recuo nos juros futuros.

Em entrevista ontem para a GloboNews, Campos Neto mencionou ainda que a leitura do IPCA-15 “veio melhor, com grande surpresa nos preços de vestuário e com medidas de núcleo [comportando- se] melhor”. No entanto, enfatizou que “o processo desinflacionário tem sido um pouco mais lento do que esperavam, apesar de verem sinais positivos pela frente”.

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Campos reconheceu que “no geral, as perspectivas são melhores, mas [a questão de] quando [a queda dos juros] vai acontecer, se acontecer, é uma questão da diretoria (…)”, reforçando que há três fatores a serem analisados ​​nesse sentido: “inflação de curto prazo, capacidade de crescimento sem gerar inflação e expectativas”.

Neste sentido, o Citi manteve as suas projeções de inflação, já abaixo do consenso (5,5% para 2023 e 4,0% para 2024, contra consenso respectivo em 5,8% e 4,1%), vendo cortes da taxa Selic a partir do 4T23 (encerrando o ano a 12,25%).

O Bank of America, revisou suas projeções de inflação deste ano para baixo, de 6,0% para 5,5%, enquanto a XP revisou sua estimativa para o IPCA de 6,2% para 5,4% em 2023.

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No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 13,175%, ante 13,186% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,435%, ante 11,477% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,895%, ante 10,939% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,94%, ante 10,994%.

Neste cenário, ações de empresas mais sensíveis a taxa de juros, como de consumo doméstico e construção civil, além das endividadas, tiveram mais um dia de disparada. Gol (GOLL4), Azul (AZUL4), Soma (SOMA3), Locaweb (LWSA3), Renner (LREN3) e Arezzo (ARZZ3) ficaram entre os maiores ganhos do dia no índice. CVC (CVCB3), com a escolha de um novo CFO e em movimento de ajuste, subiu 11,19%.

2. Vale (VALE3) também em dia de alta

Mas não são só as empresas ligadas ao consumo doméstico que subiram na sessão. As ações da Vale, que correspondem à maior participação individual do índice, também avançaram após uma forte pressão nas última sessões com a queda do minério de ferro. Os ganhos de VALE3 foram de 2,28%, a R$ 66,33.

Nesta sexta, apesar de acumular queda semanal, a commodity teve ganhos., o que impulsiona a mineradora. O contrato de referência do ingrediente siderúrgico de junho na Bolsa de Cingapura subia durante a manhã 4%, a US$ 99,55 a tonelada, depois de ter recuado 1,8% para US$ 94 no início do dia, atingindo seu ponto mais fraco desde novembro.

O minério de ferro mais negociado em setembro na Dalian Commodity Exchange da China chegou a cair até 2,5%, para 665,50 iuanes (96,28 dólares) a tonelada, o nível mais fraco desde 2 de dezembro, antes de encerrar as negociações diurnas com alta de 4%, a 709,50 iuanes. A queda foi de 3,5% nesta semana.

Fornecendo algum suporte aos preços do minério de ferro, a consultoria da indústria e provedora de dados Mysteel relatou um aumento na taxa de utilização da capacidade do alto-forno entre 247 siderúrgicas chinesas cobertas em sua pesquisa semanal. Contudo, cabe destacar que as perspectivas gerais do mercado permanecem pessimistas para a commodity o que, associado à perspectiva de corte de juros pelo Banco Central brasileiro, tem levado mais analistas a enxergarem uma rotação no mercado. 

Petroleiras como a Petrobras (PETR4) também registraram ganhos, de 1,66% para PETR3 e de 1,32% para PETR4. Os preços do petróleo subiram nesta sexta-feira, com as autoridades dos Estados Unidos parecendo perto de fechar um acordo sobre o teto da dívida e com o mercado avaliando mensagens conflitantes sobre a oferta da Rússia e da Arábia Saudita antes da próxima reunião de política da Opep+.

O petróleo Brent teve alta de 0,9%, a US$ 76,95 o barril. O petróleo dos EUA WTI fechou em alta de 1,2%, a US$ 72,67 o barril.

Na véspera, os índices de referência do brent e WTI tiveram queda depois que o vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak, minimizou a perspectiva de novos cortes de produção da Opep+  na próxima reunião do grupo, em Viena, em 4 de junho.

Os comentários russos contrastaram com os comentários desta semana do ministro da Energia da Arábia Saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman, que alertou aos vendedores a descoberto na commodity para terem “cuidado”. Alguns interpretaram isso como um sinal de que a Opep+ poderia considerar novos cortes na produção, o que impulsionou os preços na quarta-feira.

3. Sinais positivos de acordo nos EUA 

Ao contrário da sessão da véspera, quando Wall Street teve uma sessão mista, a alta nesta sexta-feira foi generalizada. O Dow Jones subiu 1%, o S&P500 teve alta de 1,30% e o Nasdaq avançou 2,19%.

Os principais índices de Wall Street avançaram impulsionados pelo progresso nas discussões sobre o aumento do teto da dívida dos Estados Unidos, apesar de dados terem apontado para uma inflação ligeiramente acima do esperado.

Após várias rodadas de discussões, o presidente Joe Biden e o líder republicano do Congresso, Kevin McCarthy, estão finalizando um acordo para aumentar o teto de dívida do governo de US$ 31,4 trilhões por dois anos, ao mesmo tempo em que limitam os gastos em várias áreas, disse uma autoridade norte-americana à Reuters.

O vice-secretário do Tesouro dos EUA, Wally Adeyemo, também disse nesta sexta-feira que os parlamentares estão progredindo nas discussões.

Na frente de dados econômicos, o índice de preços PCE do Departamento de Comércio, considerado o indicador de inflação preferido do Federal Reserve, permaneceu em 0,4% em abril. Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o índice, no entanto, subiu 0,4% no mês passado, ligeiramente acima das expectativas de 0,3%.

Operadores do mercado monetário agora veem uma chance de quase 60% de um aumento de 25 pontos-base pelo Fed em sua reunião de política monetária de junho, ante cerca de 40% antes dos dados.

Além disso, especialistas também mencionaram que as ações de empresas de tecnologia voltaram a avançar, na esteira do aumento do guidance da Nvidia de ontem.

“Bolsas americanas tiveram ganhos relevantes. As companhias de tech ainda puxam, com desempenhos favoráveis do lado dos resultados, com a Ford fazendo um acordo com a Tesla”, diz  Victor Beyruti, analista da Guide Investimentos. “Esses setores, de tecnologia, acabam puxando a Bolsa americana”.

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.