Ibovespa fecha em queda com temores de 2ª onda da Covid nos EUA, mas noticiário corporativo mitiga perdas

Mercado encerra o pregão com leve baixa diante da fraqueza no exterior

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta segunda-feira (26) pressionado pelo movimento das bolsas internacionais. O principal driver do pessimismo foi o novo recorde em casos diários de coronavírus nos Estados Unidos, que levou até o petróleo a se desvalorizar diante de preocupações com a demanda diante de uma segunda onda da Covid-19.

Os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram entre 1,64% e 2,29% no pior pregão desde o início de setembro. Já o petróleo recuou 3,16% a US$ 40,45 o barril do Brent – usado como referência pela Petrobras – e 3,21% a US$ 38,57 o barril do WTI.

Na sexta-feira (23) e no sábado (24) os EUA tiveram mais de 83 mil novas infecções, ultrapassando o recorde anterior, registrado em  julho, quando o país teve 77.300 contágios em um só dia.

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Há também menos entusiasmo quanto à aprovação de um novo pacote de estímulos para lidar com a crise causada pela pandemia na maior economia do mundo. Larry Kudlow, assessor econômico da Casa Branca, admitiu hoje que as negociações entre democratas e republicanos se desaceleraram, mas ressaltou que não estão completamente paralisadas.

Além disso a produtora alemã de softwares corporativos SAP revisou para baixo as projeções sobre seus resultados para os próximos anos, impactando as bolsas na Europa, especialmente na Alemanha.

Os investidores também monitoraram o aumento das restrições no velho continente com a alta dos casos de coronavírus por lá. A partir desta segunda, a Itália fechará cinemas e academias. Bares e restaurantes fecham a partir das 18h. A Espanha está iniciando um toque de recolher às 23h.

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Na semana passada, a França já havia ampliado um toque de recolher no país, e Londres voltara a restringir encontros entre pessoas que não vivem na mesma residência, entre outras medidas.

O Ibovespa teve leve baixa de 0,24%, aos 101.016 pontos com volume financeiro negociado de R$ 21,979 bilhões.

Por aqui, o desempenho foi bem melhor que no exterior. Essa aparente calmaria se deveu à defasagem da nossa Bolsa em relação aos índices americanos na retomada dos mercados posterior ao crash do coronavírus e também ao noticiário corporativo.

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Os fortes números da Hypera (HYPE3) no terceiro trimestre e as boas notícias para frigoríficos colaboraram para o dia de perdas apenas moderadas na B3. Para mais destaques de ações, clique aqui.

Enquanto isso, o dólar comercial teve leve queda de 0,27% a R$ 5,611 na compra e a R$ 5,612 na venda. O dólar futuro com vencimento em novembro registrava leve variação negativa de 0,08%, a R$ 5,618.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu dois pontos-base a 3,41%, o DI para janeiro de 2023 teve queda de dois pontos-base a 4,85%, o DI para janeiro de 2025 recuou dois pontos-base a 6,58% e o DI para janeiro de 2027 registrou variação negativa de três pontos-base a 7,42%.

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No Brasil, a maioria dos empresários tem otimismo quanto à melhora da economia. Porém pouco mais da metade cita desconfiança quanto à política econômica do governo como um fator que traz perspectivas negativas. Do lado dos consumidores, a maioria diz que está adiando compras devido a temores quanto à economia, especialmente por causa do coronavírus.

Também por aqui, o noticiário político continua marcado pela disputa em torno da vacinação contra o coronavírus. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diz que a vacinação não será obrigatória, enquanto o governador João Doria (PSDB) afirma que ela será obrigatória em São Paulo.

Já há ações no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo que o modelo de vacinação fique a critério dos governos estaduais, e pressionando para que o governo federal compre vacinas da chinesa Sinovac, como anunciado na terça-feira pelo ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que foi desautorizado pelo presidente.

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Entre os indicadores, os economistas do mercado financeiro projetam uma queda menor do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, mostrou o Relatório Focus do Banco Central. A expectativa mediana foi de um recuo de 5% na semana passada para uma retração de 4,81% agora.

Para 2021, a projeção mediana foi reduzida de um crescimento de 3,47% para uma expansão de 3,42%.

Já em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) as estimativas subiram de 2,65% para 2,99% em 2020. Para 2021 a previsão do IPCA subiu de 3,02% para 3,10%.

Sobre o dólar a projeção também foi elevada e agora os economistas esperam que a moeda encerre o ano cotada a R$ 5,40, acima dos R$ 5,35 previstos na semana passada. Para 2021 a expectativa é de que o dólar feche o ano em R$ 5,20, ante R$ 5,10 projetados na semana anterior.

Por fim, a expectativa para a taxa básica de juros, Selic, manteve-se em 2,00% ao ano para 2020, mas foi elevada de 2,50% para 2,75% ao ano para 2021.

Índices de confiança

Sondagem do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) FGV publicada no domingo na Folha de S. Paulo indica que 67,8% dos empresários brasileiros espera que o ambiente de negócios melhore no Brasil.

Quando questionados sobre fatores que influenciam positivamente as expectativas, o destaque é para a perspectiva de melhora da economia mundial, citada por 56,1% das pessoas questionadas. Além disso, 51,6% citam a consolidação da recuperação em seu setor como um fator positivo.

Quanto aos fatores que influenciam negativamente as expectativas, 70,8% citam incerteza econômica; 64,9% incerteza em relação à pandemia; e 52,1% falta de confiança na política econômica do governo e 42,1% as perspectivas negativas para a economia mundial.

Apenas 27,1% citam o fim de auxílios emergenciais aos consumidores como um fator negativo, e outros 23,9% citam o fim de programas emergenciais às empresas. O consumo de bens voltou em julho ao nível anterior ao da pandemia. Em agosto, estava em 0,8% acima do nível de fevereiro. O indicador é impulsionado pelo auxílio emergencial.

O governo e o Congresso vêm estudando formas de criar um programa substituto ao auxílio emergencial e ao Bolsa Família, sem, no entanto, estourar o teto de gastos.

As negociações em torno deste objetivo têm sido acompanhadas por investidores, à medida que o aumento de gastos fora do teto poderia impactar negativamente a imagem das contas públicas e as expectativas sobre a economia brasileira.

Além disso, sondagem feita pelo Ibre, da FGV, e divulgada na segunda-feira mostra desconfiança do lado dos consumidores, dentre os quais 58% afirmaram que têm adiado compras de bens e serviços. A principal justificativa, em 53% dos casos, é a incerteza quanto à pandemia de covid.

Já no noticiário político, o Estadão destaca que o Centrão chega ao Senado e faz articulação pró-governo. A formação do grupo – que só existia na Câmara – envolve negociações para a reeleição do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e distribuição de cargos e verbas na gestão Bolsonaro.

A Casa também prepara a retomada da pauta econômica antes das eleições municipais. Votação prevista para o próximo dia 3 de novembro de dois projetos para blindar o BC, com autonomia e criação dos depósitos voluntários; no dia 4, está prevista a votação de vetos presidenciais à lei de saneamento e prorrogação por um ano da desoneração da folha de pagamento das empresas, e de projetos de remanejamento de recursos entre ministérios.

Vacinação no Brasil

O noticiário continua marcado pela disputa em torno da vacinação contra o coronavírus.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou a fala do ministro da Saúde Eduardo Pazuello segundo a qual o governo federal compraria 46 milhões da vacina da chinesa Sinovac, produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

O estado é governado por João Doria, potencial opositor de Jair Bolsonaro nas próximas eleições presidenciais.

Os dois políticos também disputam abertamente o modelo de vacinação a ser seguido. Doria diz que a vacina será obrigatória em São Paulo, enquanto Bolsonaro afirma que seu governo não instituirá a obrigatoriedade da vacina.

Na sexta-feira, o presidente do Supremo, Luiz Fux, afirmou que deve haver uma “judicialização” dos critérios para vacinação. Ele disse avaliar que o Supremo Tribunal Federal será chamado a decidir sobre o assunto.

O PDT pediu que o Supremo conceda autonomia para que os governos estaduais decidam se a vacina é ou não obrigatória em seus territórios.

E a Rede Sustentabilidade ingressou com ação, pedindo que o governo Bolsonaro assine protocolo de intenções para comprar 46 milhões de doses da CoronaVac, a vacina da Sinovac a ser produzida no Instituto Butantan.

Essa discussão pode ter impacto direto sobre o ritmo de imunização da população brasileira. Estudo feito pelo Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública, da Unb (Universidade de Brasília), a partir com 2.771 pessoas indicou que 78,1% se mostraram favoráveis a receberem algum tipo de imunização.

Mas, quando são informados que a vacina viria da China, o interesse cai em 16,4%, segundo informações reproduzidas pela Folha de S. Paulo. Quando são informados de que a vacina seria russa, a intenção de se vacinar cai 14,1%.

Na sexta-feira, a farmacêutica União Química informou que assinou um acordo com o Fundo Russo de Investimento Direto para produzir a vacina russa Sputnik V contra Covid-19, a partir da segunda quinzena de novembro. O laboratório ainda precisa de autorização da Anvisa.

Segundo informações publicadas nesta segunda-feira pelo jornal britânico Financial Times, a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em colaboração com a AstraZeneca, gera uma resposta de imunização robusta entre idosos, de acordo com os resultados de testes clínicos ainda não divulgados. Esta é uma das principais vacinas previstas pelo governo federal para o Brasil.

Radar corporativo

Na sexta-feira (23) à noite, o Cade aprovou a venda da Biopalma, da Vale, para a BBF. Mas o negócio é contestado na Justiça pela Marborges Agroindústria, que está interessada na Biopalma, e afirma que teria ocorrido “falta de transparência e tratamento isonômico” no negócio. Também na sexta, unidades de BRF e Marfrig tiveram autorização para voltar a exportar para a China.

Na sexta, a empreiteira Método Engenharia pediu aval para realizar uma oferta pública inicial de ações.

Na sexta-feira, a farmacêutica União Química informou que assinou um acordo com o Fundo Russo de Investimento Direto para produzir a vacina russa Sputnik V contra Covid-19, a partir da segunda quinzena de novembro. O laboratório ainda precisa de autorização da Anvisa.

Maiores altas

Ativo Variação % Valor (R$)
SANB11 3.74332 34.92
CIEL3 3.46667 3.88
GNDI3 3.40379 66.53
HAPV3 3.09117 65.7
ABEV3 2.23182 14.2

Maiores baixas

Ativo Variação % Valor (R$)
MULT3 -4.29043 20.3
CVCB3 -4.24685 14.43
GOLL4 -3.60956 18.96
BRML3 -3.60551 9.09
AZUL4 -3.54244 26.14

No sábado, o Ministério Público Federal acusou BHP e Vale de conluio para reduzir pagamentos a vítimas do rompimento de barragem da joint venture Samarco, em Mariana, em 2015. Em nota publicada na segunda, o Morgan Stanley encarou o pedido como um sinal de que há alguma “deterioração no trato dos promotores com a Vale”, o que pode atrasar um acordo final.

A Hypera divulgou resultado na sexta à noite, com seu lucro de julho a setembro somando R$ 345,6 milhões, alta de 29,4% sobre mesma etapa de 2019. O Credit Suisse recomendou na manhã de segunda as ações da Hypera Pharma como outperform (perspectiva de ganhos acima da média dos mercados).

Na segunda, a Research XP reiniciou a cobertura da Ambev, com recomendação de compra.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.