Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4): o que esperar dos resultados das aéreas no 3º trimestre?

Empresas devem reduzir prejuízos com receitas maiores, mas custos seguem pressionados por dólar e combustíveis em patamares elevados

Mitchel Diniz

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Os resultados trimestrais das companhias aéreas listadas na Bolsa brasileira tendem a ser marcados por crescimento nas receitas, impulsionado por uma sólida demanda de passagens aéreas. Por outro lado, os custos elevados devem continuar exercendo pressão negativa sobre os números. Novos prejuízos são esperados, ainda que menores.

Para os analistas, dificilmente as empresas vão conseguir apresentar geração de caixa positiva e seus níveis de endividamento devem seguir elevados. Do lado positivo, espera-se que tanto Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) apresentem maior faturamento, com melhores volumes e tarifas que se mantiveram em níveis mais altos ao longo de todo o período.

Os trimestres de “meio de ano” costumam ser historicamente mais fracos para as empresas do setor. Contudo, os números operacionais divulgados recentemente pelas companhias ficaram próximos e até mesmo acima dos patamares de antes da pandemia.

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“As companhias aéreas estão tentando repassar o custo para as passagens, mas conforme elas sobem o preço, mais vazio voa o avião”, explica João Abdouni, analista da Inv. Mesmo parecendo caro para o consumidor final, Abdouni avalia que o atual patamar de preço das tarifas não é alto o suficiente para compensar os custos elevados das empresas.

“As passagens precisariam ser muito mais caras para o negócio parar de pé. É que as companhias aéreas brasileiras aceitam operar com prejuízo durante anos seguidos”, diz Abdouni.

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Os analistas da Genial Investimentos lembram que, apesar de reduções nos preços de querosene de aviação, anunciados pela Petrobras (PETR3;PETR4), o impacto do ajuste para as companhias aéreas tem uma defasagem de aproximadamente 45 dias.

“Apesar de o preço do querosene ter diminuído pouco mais de 10% no 3T22, a medida só terá impacto no resultado do quarto trimestre”, diz o relatório da casa, assinado pelo analista Ygor Araújo.

O dólar também deve pesar desfavoravelmente sobre os resultados, já que a moeda americana esteve próxima das máximas do ano em julho e também em setembro. “Ao longo dos meses do terceiro trimestre, a média de fechamento [do dólar] ficou 3,7% maior que a média do 1T22 e 5,4% acima do 2T22”, calculam os analistas da Genial.

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Como os pagamentos de arrendamento das aeronaves são contabilizados no último dia de cada mês, a expectativa é que as despesas financeiras das aéreas tenham crescido no período. As provisões para manutenção dos aviões também são dolarizadas.

Ainda que as aéreas reportem prejuízos menores, Abdouni acredita que a temporada de resultados deve ter impacto marginalmente negativo para as ações da companhia.

“Vai ser mais um período de deterioração da parte financeira das empresas. A dívida que, já está cara, deve crescer mais um pouco, com os juros altos no Brasil e subindo no exterior. O balanço fica mais difícil de gerenciar e as empresas, vez por outra, precisam chamar aporte de capital para não entrar em situação de insolvência”, afirma.

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O que esperar dos resultados da Gol no terceiro trimestre

A Gol divulgará seus resultados amanhã (27), antes da abertura da Bolsa. O consenso Refinitiv prevê um prejuízo líquido reportado de R$ 577,67 milhões no terceiro trimestre. Entre abril e junho deste ano, a última linha do balanço da companhia havia ficado negativa em R$ 2,851 bilhões. Um ano antes, o prejuízo tinha sido de R$ 2,527 bilhões.

A média das projeções do mercado também aponta para lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 561,85 milhões, alta de 28% em relação ao segundo trimestre e de 20,9% comparando com o resultado de um ano antes. As receitas devem ultrapassar os R$ 4 bilhões.

A prévia operacional da companhia, divulgada no início deste mês, já indicou resultados melhores, com alta na oferta de assentos (ASK) e na demanda (RPK) por voos. A XP calcula receita líquida da ordem de R$ 3,8 bilhões, já que os RPKs reportados previamente pela companhia indicam crescimento de 42% na comparação anual e de 21% na trimestral. Soma-se a isso, preços unitários estáveis em relação ao segundo trimestre.

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“Em relação à rentabilidade, esperamos uma margem Ebtida de 15%, seguindo a normalização contínua dos preços dos combustíveis. Por fim, as despesas financeiras ainda devem pressionar o resultado líquido da empresa”, diz a análise da XP.

A Genial observa que mesmo com números sólidos, a prévia ficou abaixo do período pré-pandemia. A oferta ainda é 23% inferior ao terceiro trimestre de 2019 e a demanda 25% menor, na mesma base de comparação. Para o analista Ygor Araujo, o combustível mais alto é maior empecilho para uma melhor no resultado da companhia.

A Gol espera que o custo operacional por assento (CASK), sem contar com o combustível, recue 25% na comparação com um ano atrás. Contando com o querosene de aviação, o indicador cresce 87% na mesma base de comparação. Além de mostrar o impacto do combustível, a Genial avalia que o número mostra um ganho de eficiência por parte da Gol.

“Além disso, destacamos a contínua inserção dos novos Boeing 737 MAX-8 na frota. Segundo a empresa, as novas aeronaves apresentam 15% a mais de economia de combustível quando comparados aos Boeing 737 NG”.

Também foi no terceiro trimestre que a companhia anunciou o desembolso de US$ 41 milhões em um acordo com o departamento de justiça dos Estados Unidos. A companhia era investigada por subornar autoridades estrangeiras em troca da aprovação de leis que beneficiariam a empresa. Com o pagamento milionário, a investigação foi encerrada.

O que esperar dos resultados da Azul no terceiro trimestre

A Azul divulgará seus resultados apenas no dia 10 de novembro. O consenso Refinitiv prevê prejuízo líquido reportado de R$ 674,3 milhões, inferior aos R$ 2,480 bilhões negativos do segundo trimestre. Um ano antes, a Azul reportou prejuízo de R$ 2,196 bilhões.

O Ebitda da empresa no período, segundo a média das projeções, deve ficar positivo em R$ 847,17 milhões. A cifra é quase o dobro da de um ano atrás (R$ 485,6 milhões) e 37,8% maior que a do segundo trimestre de 2022 (R$ 614,60 milhões).  A receita esperada para o período é de R$ 4,253 bilhões.

De acordo com prévias operacionais, os RPKs da Azul já melhoraram 22% em relação ao ano passado e 10% na comparação com o segundo trimestre. Os preços unitários subiram 37% em bases anuais e o CASK , com combustíveis, tem mostrado estabilidade, à medida que a inflação de custos começa a diminuir. Esta é a análise da XP – a casa acredita que a companhia vai publicar resultados em recuperação, com receita líquida sólida.

Os analistas preveem crescimento da margem Ebitda para 20%. “Dito isso, o lucro líquido deve ser pressionada mais uma vez pelos resultados financeiros líquidos”, diz o relatório da equipe de análise.

A Genial observa que o RPK da Azul já superou os níveis pré-pandemia em 3% e o ASK, em 7%.

Ainda que também sofra com defasagem na diminuição dos preços do querosene de aviação, o CASK ex-combustível tende a ser menor. Para a Genial, a empresa tem ganhado eficiência com a renovação de frota e a entrada dos novos Embraer E2.

“Em relação às receitas voltadas para o Azul Cargo, é possível que tenhamos uma leve queda na comparação trimensal. O aumento do preço dos combustíveis e de demanda por viagens não só diminui os pedidos de transporte de carga, como também leva a uma menor alocação do espaço dos bagageiros voltada para esse tipo de operação”, diz a análise.

A casa projeta lucro operacional de R$ 406 milhões e Ebitda de R$ 890 milhões. “Assim como em Gol, acreditamos que o bottom line [lucro] divulgado deverá ser impactado por uma média cambial elevada ao final dos meses do 3T22″.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados