Fiscal, tragédia no RS e interferência política preocupam investidores, diz analista

O lado positivo é que houve melhora do ambiente externo e o resultado no 1T24 das empresas no Brasil foram marginalmente bons

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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O sentimento dos investidores estrangeiros com relação ao Brasil piorou nos últimos tempos. Uma série de acontecimentos levaram a esse quadro e justifica em parte a saída de investimentos no mercado secundário da Bolsa.

Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, que participou nesta segunda-feira (20) do Morning Call da XP, disse que a casa tem conversado com uma série de investidores aqui no Brasil e lá fora com o objetivo de entender o sentimento com relação aos ativos brasileiros.

“A gente tem visto uma piora e vem observando isso ao longa das últimas semanas. Essa piora tem a ver com alguns fatores”, disse, emendando-os.

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Fiscal, Copom e RS

“O primeiro, com riscos fiscais, que não são uma novidade no Brasil. Mas depois da revisão das metas em abril feita pelo governo, percebe-se que os investidores e o mercado passaram a ver os resultados fiscais ainda piores adiante”, ressaltou.

O segundo risco, segundo ele, é o da condução da política monetária após a última votação do Copom da taxa Selic, com dissenso entre seus membros. “O mercado começou a debater como será a condução da política monetária à frente e colocou um prêmio de risco na curva DI”, destacou.

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A terceira preocupação é qual será a implicação econômico do desastre ambiental no Rio Grande do Sul. “É um desastre que vem impactando centenas de milhares de pessoas”, afirmou.

“Agora, o mercado começa a debater qual será o impacto econômico tanto no PIB, que certamente terá uma queda no 2º trimestre, como na inflação, principalmente de itens agrícolas”, complementou.

E, ainda, de acordo com o estrategista da XP, quais serão os impactos fiscais também de todo esforço de reconstrução que será necessário no Rio Grande do Sul.

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Interferências na Petrobras e Vale

Fernando Ferreira apontou ainda que há uma preocupação dos investidores estrangeiros na interferência do governo em grandes empresas, como a Petrobras (PETR4) e a Vale (VALE3).

“A consequência dessa piora de sentimento vem de duas formas. Primeiro, no fluxo – no ano, já são R$ 33 bilhões de saída de investimentos na bolsa brasileira. Em maio, a gente tem visto uma pequena entrada, mas precisa acompanhar se é uma tendência ou não, já que isso  é muito relevante para fazer preço no Brasil”, disse.

Previsão de inflação alta

O segundo impacto, de acordo com o analista, é aumento do prêmio de risco colocado na curva de juros brasileira. “Quando a gente olha os horizontes mais longos, a gente vê o DI acima de 12% a partir de 2027, ou seja, o mercado espera que o Copom corte os juros, mas volte a subir em algum momento”, afirmou.

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Ele crê que isso representa uma inflação implícita que está embutida dentro desses títulos muito próxima de 6%. “Ela é o dobro da meta do Banco Central, que é de 3%. Ou seja, o mercado já colocou na conta um aumento enorme de prêmio de risco, precificando essa inflação de longo prazo no Brasil de 6%”, comentou.

EUA e China estão melhores

Sobre os pontos positivos, o primeiro deles é fato do cenário externo estar melhorando. “A gente está vendo uma desaceleração da economia americana junto com dados melhores de inflação, o que tem feito que o mercado precifique que o Fed volte a poder cortar juros já em setembro”, disse.

Outro ponto é a China. “Ela é muito relevante para o Brasil. A China se recuperando tem feito com que os preços de commodities melhorem”, destacou. “Ambiente externo está melhor”, pontou.

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Temporada do 1T24 não foi ruim

Por fim, ele destaca o resultados das empresas no primeiro trimestre. “O que a gente viu é que na margem foi uma temporada melhor do que os resultados passados. Há alguns pontos de inflexão no Brasil. No agregado, uma surpresa positiva de Ebitda e de lucro operacional 3% acima do que a gente esperava”, destacou.

Não foi uma temporada fantástica, mas na margem vimos bons resultados, com bastante destaque para o setor de alimentos, e também no setor de varejo e imobiliário”, complementou.