Ethereum 2.0: o que realmente muda na próxima grande atualização da rede?

Atualização marcada para setembro é apenas uma das fases de mudança profunda planejada para a segunda maior cripto do mundo

Equipe InfoMoney

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Não é de hoje que o Ethereum (ETH), segunda maior criptomoeda do mundo, vem roubando a cena do Bitcoin (BTC). Depois de subir quase cinco vezes mais que o BTC no ano passado, o criptoativo começou 2022 com grande expectativa em torno da sua maior e mais importante atualização até aqui, chamada de “Ethereum 2.0”.

A principal promessa do novo Ethereum é reduzir drasticamente as taxas cobradas para transacionar na rede, além do tempo de confirmação das operações. Em uma só tacada, a plataforma que é a campeã de projetos de smart contracts acabaria com seus principais gargalos. É por isso que muita gente vê a atualização como o maior evento da história das criptomoedas desde o próprio surgimento do Ethereum, em 2015.

Toda essa reformulação, no entanto, está sendo feita em etapas. A primeira delas foi realizada em dezembro de 2021 e preparou o caminho para a mudança que será realizada em setembro de 2022, chamada de “Merge” ou “Fusão”, que acaba com a mineração convencional de ETH. A terceira etapa, que deverá trazer transações mais rápidas e baratas para a rede, deve começar em 2023. Entenda o que muda com esse processo.

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Conceitos importantes para entender o Ethereum 2.0

O que muda com a atualização do Ethereum

A principal atualização do Ethereum em 2022, que faz parte do cronograma do Ethereum 2.0, deixa especialistas em blockchain animados porque se trata de algo que nunca foi feito no mundo das criptomoedas: o Ethereum mudará, em setembro, seu modelo de consenso, alterando as regras do mecanismo de verificação de dados na rede.

A rede passará de um modelo de prova de trabalho (Proof-of-Work, ou PoW) similar ao do Bitcoin, para um de prova de participação (Proof-of-Stake, ou PoS), considerado mais ecológico por utilizar 99,9% menos energia. Essa mudança era esperada há pelo menos cinco anos.

“É demorado, mas estão trocando o pneu do carro com o carro andando. É para ser demorado mesmo, para tomar cuidado”, explicou a desenvolvedora e professora de blockchain Solange Gueiros, da Chainlink Labs, durante participação no Cripto+.

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A atualização impactará a rede de pelo menos três maneiras diferentes:

Fim da mineração

A blockchain atual do Ethereum, que depende de mineradores com alto poder computacional, vai se fundir com a nova rede do projeto, chamada “Beacon Chain”, que foi criada em 2020 e desde então vem rodando de forma paralela.

Essa nova cadeia lançada há dois anos já não usa a mineração tradicional para gerar ETH. Nela, os mineradores são substituídos por validadores – participantes que, em vez de supercomputadores, precisam manter uma quantia específica da cripto (no mínimo 32 ETH) na rede para ajudar a verificar transações e, em troca, receber criptos como recompensa. É essa a principal mudança esperada para setembro.

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“Os validadores não vão mais precisar fritar o seu computador para fazer uma prova de trabalho (cálculo matemático complexo), mas sim ter uma quantidade de moedas para participar da validação dos blocos”, explicou Solange.

Para além das mudanças técnicas, a adoção do PoS também traz uma redução significativa no consumo de energia para validar dados da blockchain, em tese afastando críticas sobre o impacto ambiental da mineração. A expectativa, portanto, é que o Ethereum 2.0 seja mais sustentável.

Diferença entre Proof-of-Stake e Proof-of-Work

No Proof-of-Stake, os mineradores precisam se conectar à blockchain para ajudar a processar as transações dos usuários e ajudar na segurança do sistema. Aquele que consegue confirmar o bloco (local onde estão as informações sobre as transferências) ganha uma recompensa. Em 2022, no caso do Bitcoin, o “prêmio” para o vitorioso são 6,25 BTC.

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A grande crítica em relação ao PoW é que, como existe uma competição ferrenha para confirmar as transações e embolsar os criptoativos, os mineradores precisam usar equipamentos super potentes para sair na frente dos outros. Esse processo, apesar de dar segurança para a rede, gera um alto gasto de energia.

O PoS, que o Ethereum está prestes a implantar, tem uma lógica diferente. Em vez de exigir que os participantes comprem sofisticadas máquinas de mineração, o algoritmo pede para eles “armazenarem” uma quantidade de criptomoeda na rede para credenciar o computador a ajudar na segurança e confirmar transações. Em troca, o usuário recebe unidades de ETH como recompensa.

De acordo com o projeto, para se tornar uma validador é preciso manter pelo menos pelo menos 32 ETH (R$ 282 mil) “trancados” no software. Apesar de mais ecológico, o mecanismo também é alvo de críticas por causa do valor excessivo. Muitos usuários cripto dizem que a rede está se tornando elitista, o que vai na contramão do que defende o setor cripto.

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Renda passiva

Outra mudança se dá na forma de obter renda passiva com Ethereum. Se agora usuários são obrigados a recorrer a empresas ou protocolos muitas vezes inseguros para ganhar juros sobre suas criptos, a Fusão permitirá que o usuário instale um programa no computador, deposite os 32 ETH e ajude a validar transações em troca de um percentual das taxas pagas pelos usuários.

Criptos rivais como Solana (SOL) e Cardano (ADA) já funcionam dessa maneira.

Segurança

Apesar dos benefícios do modelo, defensores ferrenhos do Bitcoin associam o mecanismo de Proof-of-Stake a uma suposta fragilidade contra hackers. Eles apoiam a tese de que a mineração comum deixa a rede mais segura justamente pela dedicação de alto poder computacional e energia. A desenvolvedora da Chainlink Labs, porém, não vê a mudança para Proof-of-Stake como negativa.

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“Não vejo nenhuma mudança nesse sentido. Pelo contrário. O Ethereum atual vai ser um pedacinho do Ethereum 2.0, e vão existir sub-redes assim como é o Ethereum hoje, e será possível trabalhar em qualquer uma delas, com validadores funcionando em todas elas. Então a tendência é que isso até aumente a segurança”, explicou.

Data de lançamento

A equipe da Ethereum Foundation informou em texto publicado no dia 12 de agosto em seu blog que a previsão para a conclusão da Fusão é 15 de setembro. No entanto, escreveram, essa “estimativa pode ter até uma semana de erro”.

Em julho, o engenheiro de suporte da organização, Tim Beiko, já havia falou em uma reunião e também em posts nas redes sociais que a tão esperada atualização poderia ocorrer próximo dessa data – ele citou o dia 19 de setembro.

Roadmap Ethereum 2.0

As fases e datas da atualização do Ethereum, um processo extremamente complexo e demorado, foram descritas no roadmap (roteiro, em tradução livre) da criptomoeda. No total, são três principais etapas.

A primeira delas começou em 1º de dezembro de 2020. Naquele dia, os desenvolvedores criaram a cadeia “Beacon Chain”, que já tem em seu código o mecanismo PoS, e a colocaram para “rodar” paralelamente à rede principal do Ethereum.

As duas cadeias – a PoW, que em breve deixará de existir, e a PoS, a nova – vão se fundir na segunda fase da atualização, chamada de Fusão, prevista para acontecer em setembro de 2022. A previsão é que a mudança seja implementada no dia 15/09, ou próximo dele.

Vale lembrar que nesse meio tempo entre a junção das duas redes, os responsáveis pelo projeto realizaram testes em três testnets (Goerli, Ropsten e Sepolia) para detectar e prevenir possíveis problemas na fusão. Tudo correu bem.

Fase 3 só em 2023

O término da fusão, no entanto, é a metade do caminho da atualização do Ethereum 2.0, disse Vitalik Buterin, criador do Ether, na Ethereum Community Conference, realizada em Paris no início de agosto. A terceira fase do “upgrade” vai ser subdivida em cinco subfases: “The Surge”, “The Verge”, “The Purge” e “The Splurge”.

Em resumo, nessas etapas os programadores vão deixar a rede mais escalável (com força para suportar o aumento das transações) e com maior capacidade para armazenar dados. Além disso, vão tornar o processo de validação da blockchain mais eficiente.

A principal mudança dessa terceira fase é a divisão do Ethereum em 64 cadeias, chamadas de “shards”. Sharding é um conceito em ciência da computação que dimensiona aplicativos para que eles possam suportar mais dados. Na prática, essa fragmentação vai reduzir o congestionamento do protocolo e aumentar o número de transações.

Outro ponto alto dessa etapa é a criação dos “rollups”, que também são uma solução de escalabilidade. Essa tecnologia permite que as transações da rede sejam realizadas fora da blockchain principal, mas depois sejam incluídas nela. Ou seja, é uma ferramenta que vai desafogar a cadeia do ETH, que vive congestionada por causa do excesso de transações, sem diminuir a segurança.

Essas alterações “pós-Merge” devem começar em 2023. Importante ressaltar, no entanto, que podem ocorrer atrasos, e isso já aconteceu várias vezes ao longo da história do projeto.

Ethereum pode valorizar com a atualização?

Especialistas ouvidos pelo InfoMoney acreditam que a criptomoeda pode não valorizar no curto prazo. “É importante lembrar que, quando chegar a Fusão, vai haver mais ETH no mercado, porque tem várias pessoas com ETH travado e podem querer vender. Então eu acredito bastante que logo após a Merge podemos ter uma queda considerável”, falou Ney Pimenta, CEO do marketplace de criptomoedas BitPreço, no programa Cripto+.

No longo prazo, no entanto, a situação é diferente. Pimenta disse que após a Fusão o mercado pode ver um crescimento proporcionado pela atualização, especialmente em aplicações de finanças descentralizadas. Além disso, falou, a mudança da blockchain do projeto deve impactar nos custos de operação da rede, e atrair mais usuários.

Portanto, finalizou ele, o Ethereum continua na lista de criptoativos com alto potencial de valorização no longo prazo.

E como ficam as blockchains rivais?

A expectativa em torno do Ethereum 2.0 também aumenta por causa do potencial impacto sobre as blockchains rivais do projeto, conhecidas como “Ethereum Killers”  – Solana e Cardano são dois exemplos – que até aqui cresceram pela promessa de resolver os problemas que serão resolvidos pela Merge e as outras mudanças.

Segundo Solange Gueiros, da Chainlink Labs, a sobrevivência desses projetos está ligada à capacidade dessas diferentes redes conversarem no futuro.

“A gente está falando de um universo gigantesco, tem espaço para todo mundo. Espero que a gente use blockchain da mesma que a gente usa Internet hoje. Eu vejo um caminho muito importante relacionado à interoperabilidade. Sim, vão existir várias blockchains, mas ao mesmo tempo tem que ter interoperabilidade entre eles.”

O mesmo valeria para blockchains que hoje funcionam como auxiliares do Ethereum. Uma delas é a Polygon (MATIC), que deverá oferecer um tempo de confirmação de transações bem menor mesmo após o Ethereum ficar mais rápido no ano que vem.

Até lá, a expectativa é que rivais e aliados sigam crescendo enquanto se preparam para o Ethereum mudar de vez.

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