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Nem estrangeiro, nem institucional: Saiba quem puxa os ganhos da Bolsa em 2023

Cenário de aversão ao risco retirou dinheiro estrangeiro da Bolsa, reduzindo sua contribuição no Ibovespa, mas efeito pode ser momentâneo

Rodrigo Petry

B3 Bovespa Bolsa de Valores de São Paulo (Germano Lüders/InfoMoney)

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Quem acompanha de perto o movimento diário da Bolsa costuma notar o quanto o fluxo de recursos estrangeiros para o mercado secundário da B3, geralmente, explica boa parte do movimento – seja positivo ou negativo.

Atrás do “gringo”, aparecem, em ordem de grandeza por aportes financeiros, os recursos de investidores institucionais, de pessoas físicas, de bancos e de “Outros”.

Até meados de maio, na Bolsa brasileira, era ponto pacífico que o dinheiro do estrangeiro vinha puxando os ganhos do Ibovespa, que voltou a operar no positivo, no acumulado de 2023.

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Entretanto, o cenário de aversão ao risco, pelas incertezas em relação à aprovação do aumento do teto da dívida, fez o dinheiro “gringo” evaporar da Bolsa, no final de maio.

Apenas no dia 31 de maio, ou seja, na véspera da aprovação pela Câmara da proposta que elevou o patamar de endividamento nos EUA, evitando um colapso econômico global, o investidor estrangeiro sacou R$ 2,421 bilhões da B3, ajudando a Bolsa a fechar em queda de 0,5%.

O cenário de aversão ao risco levou ainda o saldo líquido de recursos estrangeiros no mercado secundário da B3 a encerrar maio com saídas de R$ 4,279 bilhões.

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Dessa forma, o saldo líquido positivo foi reduzido, no acumulado de 2023, para R$ 6,877 bilhões.

Investidores da Bolsa: quem puxa ganhos em 2023?

Indo para o segundo maior grupo de movimentação na Bolsa, que é o investidor institucional, ele teve uma forte recuperação no mês de maio, sendo responsável pelo ingresso líquido de recursos de R$ 2,034 bilhões, no mercado secundário da B3.

No entanto, olhando com maior atenção aos números, se observa que, ao longo de 2023, o investidor institucional sacou já R$ 16,584 bilhões.

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Assim, foi o grupo com maiores retiradas líquidas da Bolsa, só perdendo para os bancos, que retiraram R$ 258 milhões, de janeiro a maio. Ou seja, exerceu influência negativa sobre o Ibovespa.

Em seguida, vêm os investidores individuais. De fato, a pessoa física, aparentemente, se aproveitou da Bolsa barata, com baixos múltiplos de valuation e vem aumentando os seus aportes.

Dessa forma, do dia 1º de janeiro a 31 de maio, os investidores individuais acumulam entradas líquidas de recursos no mercado secundário da B3 de R$ 3,074 bilhões.

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Quem são os “outros” da Bolsa

Por fim, chegando, aparentemente, à resposta sobre quais são os investidores que puxam os ganhos da Bolsa, ela está em “Outros”.

Mesmo que seu volume financeiro seja menor, na comparação, principalmente, com o estrangeiro e o institucional, sua contribuição positiva foi maior.

Veja a seguir o saldo líquido de recursos no mercado secundário da B3, considerando a diferença entre as entradas e saídas, em maio e no acumulado de 2023, conforme dados da B3, compilados pelo Credit Suisse.

Fluxo estrangeiro em maio (em milhões de reais)

Tipo de investidor Compras na B3 Vendas na B3 Saldo líquido
Individual 79,021 80,036 -1,015
Institucional 159,771 157,737 2,034.6
Estrangeiro 307,136 311,416 -4,279.5
Bancos 21,477 21,534 -56.4
Outros 6,345 3,029 3,316.5

Como se observa na tabela acima, o fluxo estrangeiro contribuiu negativamente para o saldo do Ibovespa, mesmo com a Bolsa subindo 3,7% no acumulado do mês.

Especialmente no mês passado, o institucional registrou saldo líquido de R$ 2,034 bilhões.

No entanto, como veremos na tabela logo abaixo, no ano de 2023, o investidor institucional registra forte saída de recursos, de mais de R$ 16,5 bilhões.

De janeiro ao final de maio, o estrangeiro se destaca, com fator de saldo líquido, mas ficou atrás de “Outros”, não só no acumulado de 2023 como no mês de maio.

Tipo de investidor Compras na B3 Vendas na B3 Saldo líquido
Individual 362,308 359,234 3,074.5
Institucional 685,449 702,034 -16,584.4
Estrangeiro 1,445,031 1,438,153 6,877.9
Bancos 94,396 94,654 -258.2
Outros 23,165 16,274 6,890.2

Quem puxa Ganhos da Bolsa em 2023?

Dito tudo isso, o InfoMoney entrou em contato com a Bolsa, além de consultar analistas, gestores de Bolsa e especialistas, para tentar entender e explicar quais são fatores que puxam esses ganhos da Bolsa em 2023.

Por meio da assessoria de imprensa, a B3 não soube detalhar quais são os itens que puxaram o saldo líquido, individualmente, mas enviou uma lista completa [que segue no final deste texto] com todos os itens que contemplam “Outros”.

Recompras de ações e outros

Conforme apurou o InfoMoney, o que vem ocorrendo é um movimento, por parte de empresas da Bolsa, de compras estratégicas. O que seria basicamente as companhias fazendo recompras de ações. Essa demanda pelos papéis consegue ajudar na valorização das ações, por conta da redução do capital na mão de terceiros (free float).

De acordo com dados da B3, são atualmente 110 programas de recompras de ações em andamento, incluindo pesos pesados do Índice, como Vale (VALE3), Ambev (ABEV3), B3 (B3SA3), Bradesco (BBDC4), Gerdau (GGBR4), Itaú Unibanco (ITUB4) e JBS (JBSS3).

Apenas a Vale renovou, em abril, seu programa de recompra, com mais 500 milhões de ações, até 15 de dezembro deste ano. Com base na cotação desta segunda-feira (5) da Vale (VALE3), de R$ 67,30, seriam mais de R$ 33 bilhões em retirada de papéis do mercado, caso todo programa seja concluído – ajudando na valorização do ativo.

No balanço do primeiro trimestre, a mineradora destacou que foram recomprados US$ 763 milhões – cerca de R$ 3,8 bilhões. “Ao todo, o terceiro programa de recompra está 47% concluído, com um desembolso de US$ 3,7 bilhões (R$ 18 bilhões) para recompra de 233,7 milhões de ação”, informou a mineradora, que sozinha representa mais de 15% do Ibovespa – a maior contribuição individual da Bolsa.

“Além dos dividendos mínimos, a Vale deve continuar a utilizar seus recursos extras de fluxo de caixa para recomprar agressivamente suas ações, dada a recente queda no preço das ações”, destacaram, em relatório, recentemente os analistas do Credito Suisse, após os resultados da Vale.

O racional, portanto, do movimento estratégico é aproveitar os múltiplos descontados (valuation) e atrativos para fazer a recompra dos papéis – valorizando o preço do ativo em Bolsa.

Isso não deixa de ser um movimento comum, sobretudo nos Estados Unidos, onde os analistas avaliam muito o lucro por ação, para fazer uma melhor análise dos ativos.

Mas no Brasil isso se destaca quando o funding (o custo de captação de recursos) fica muito alto, como agora por conta do atual patamar de taxa Selic. Assim, neste momento, o movimento de recompras acaba fazendo sentido.

Ainda conforme apuração do InfoMoney, outros itens da lista da B3 que podem ajudar a explicar são os segmentos de Wealth (consultoria de investimento) e Holdings.

O segmento de consultoria vem crescendo, com alguns bancos privados se beneficiando dos recentes problemas do Credit Suisse, com clientes passando sua carteira de recursos.

Gringo deve voltar a ganhar espaço

Passado o risco de possível default americano, com o aumento do teto da dívida encaminhado, a expectativa, porém, é de que o estrangeiro volte a ganhar participação na Bolsa.

Dados preliminares de junho, referentes ao primeiro pregão deste mês, quando a Bolsa saltou 2,06% (o fluxo do dia 2/6 ainda não foi divulgado), já mostram isso.

Dia 1º/6, o estrangeiro aportou, de forma líquida, R$ 176,6 milhões, enquanto o institucional ingressou com R$ 365 milhões.

Não por acaso, o Ibovespa saltou da região dos 108 mil para os 112 mil pontos, após o pior momento de aversão ao risco.

Dinheiro em ações na Bolsa (por tipo de investidor últimos 12 meses em R$)

Fonte: B3; elaboração: Credit Suisse

Saiba mais

Fluxo no mercado secundário da B3: “Outros” – Fonte: B3

–  Entidade Sindical de Trabalhadores;

–  Depositário de ADRs;

–  Templo De Qualquer Culto;

–  Serviços Ind. de Utilidades;

–  Atv. Não Especif./Classificadas;

–  Comércio;

–  Comércio Atacadista;

–  Comércio Varejista;

–  Condomínio;

–  Consultorias de Investimento;

–  Educação;

–  Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – Eireli;

–  Empresa Pública;

–  Holding – Controladora de Participação;

–  Indústria;

–  Indústria da Construção;

–  Indústria de Material Elétrico;

–  Indústria de Produtos De Materiais;

–  Indústria do Mobiliário;

–  Indústria Editorial e Gráfica;

–  Indústria Mecânica;

–  Indústria Metalúrgica;

–  Indústria Têxtil;

–  Indústrias Diversas;

–  Intermediação na Compra, Venda e Aluguel de Imóveis;

–  Micro e Pequenas Empresas;

–  Serv. Auxiliares Diversos;

–  Serv. de Administração e Locação;

–  Serv. de Alojamento e Alimentação;

–  Serv. de Reparo e Manutenção;

–  Serviços;

–  Serviços Comunitarios e Sociais;

–  Serviços de Comunicação;

–  Serviços de Saúde;

–  Serviços de Transporte;

–  Serviços Pessoais;

–  Escritórios Centrais e Regionais;

–  Indústria de Produtos Farmacêuticos;

–  Indústria de Artefatos de Couro, Artigos para Viagem e Calçados;

–  Importação e Exportação;

–  Entidades Sem Fins Lucrativos;

–  Empr.Agrop.,Cooperat.,Benef.Prods.Agricolas;

–  Indústria de Madeira;

–  Indústria de Produtos Minerais;

–  Indústria de Matéria para Transporte;

–  Ind. de Produtos Alimentícios;

–  Ind. do Vestuário, Artefatos;

–  Indústria Química;

–  Refino de Petróleo e Destilação;

–  Ind. de Papel, Papelão E Celulose;

–  Informação e Comunicação;

–  Indústria de Bebidas;

–  Consórcio;

–  Extração de Minerais;

–  Extração Vegetal;

–  Serv. de Radiodifusão, Televisão;

–  Cooperativa;

–  Instituição de Caráter Filantrópico, Recreativo e Cultural;

–  Administração Pública, Defesa e Seguridade Social;

–  Demais Pessoas Jurídicas no Exterior;

–  Indústria de Borracha;

–  Indústria de Artefatos de Couro Artigos para Viagem e Calçados;

–  Arrendamento Mercantil;

–  Pesca e Aquicultura.

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