CVC (CVCB3): Receitas aumentaram, mas dívidas corroeram lucro; analistas estão cautelosos com a ação

A CVC reduziu o prejuízo, mas terminou o terceiro trimestre ainda no negativo, em R$ 75 milhões

Mitchel Diniz

(Roberto Tamer / Divulgação)

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Os números da CVC (CVCB3) no terceiro trimestre de 2022 trouxeram impressões diferentes entre os analistas de mercado que acompanham o papel. Ainda que a empresa tenha apresentado um aumento de 46,6% na receita líquida (para R$ 337,6 milhões), com avanço nas reservas e no valor médio das viagens, o alto endividamento da empresa (com uma Selic mais alta) impediu que a operadora de turismo voltasse ao azul.

A CVC reduziu o prejuízo, mas terminou o trimestre ainda no negativo, em R$ 75 milhões.

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O BofA observa que as reservas da CVC no mercado doméstico alcançaram 73% dos níveis do terceiro trimestre de 2019, antes da pandemia. Porém, esse percentual estava em 78% no segundo trimestre deste ano. As reservas internacionais também caíram de 67% para 63% do nível pré-pandemia entre o segundo e o terceiro trimestre.

O percentual de receita líquida sobre as reservas (take rate) cresceu 40 pontos-base na comparação trimestral, para 8,4%. Contudo, na avaliação do BofA, as altas nos preços das tarifas aéreas parecem estar reduzindo gastos do consumidor em hotéis e experiências com take rate mais elevados.

“As viagens internacionais são ainda mais impactadas pela demora na espera por vistos e contínuas limitações referentes a equipes de voo. Como resultado, acreditamos que esse tipo de fricção vai continuar desacelerando a recuperação das viagens de lazer”, diz o relatório do banco.

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Diante desse cenário, o BofA acredita que a tendência é que os consumidores procurem por preços mais atraentes, estadias mais curtas e outras alternativas. Sendo assim, a tendência é de maior busca por pechinchas e reservas diretas.

“Enquanto a CVC continua a apresentar melhoras sequencias na normalização de padrões de viagem, o declínio dos salários, preços mais altos, juros e capacidade limita continuam a ofuscar a recuperação”, escreveram os analistas do BofA. O banco manteve classificação neutra para CVCB3, com preço-alvo de R$ 9.

A Eleven Financial avaliou o resultado como misto, impactado por ventos contrários do cenário macroeconômico.

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“Apesar da recuperação de receita e melhora de Ebitda ajustado na base de comparação anual, o lucro segue pressionado por maiores despesas financeiras”, diz a análise de Victoria Minatto.

Ainda assim, a analista observa que a CVC deu mais um passo para fechar o gap dos níveis pré-pandemia. O ponto positivo na avaliação da Eleven foi a melhora das receitas na comparação anual, com bom desempenho do canal B2B, das vendas na Argentina e no aumento do ticket médio.

take rate por outro lado, decepcionou e a retração de 27,8% no número de passageiros no Brasil foi visto como outro ponto negativo.

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Vendas B2C no Brasil não foram satisfatórias, admite CEO

Na teleconferência sobre os resultados, Leonel Andrade, CEO da CVC, admitiu que as vendas B2C no Brasil não foram satisfatórias. As reservas confirmadas dentro do segmento somaram R$ 1,22 bilhão no período, uma queda de anual de 2,2%. Juros altos e restrição ao crédito impactaram vendas ao consumidor final no mercado brasileiro.

“Talvez a gente sofra mais que o mercado sazonalmente”, disse o CEO. “Nosso ticket médio de viagem subiu substancialmente, o que afeta as classes mais populares, as mais atendidas pela CVC”, complementou.

“Vemos a CVC como um caso binário. Assim como foi uma das companhias mais afetadas pela pandemia, a companhia está bem posicionada para retomada do turno no Brasil e no mercado internacional, apoiada em sua posição de liderança no mercado”, afirma a analista da Eleven.

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Na teleconferência com analistas, o CEO da CVC afirmou que o processo de digitalização de digitalização foi concluído e a empresa está pronta para competir agências de viagem on-line.

“A CVC, que sempre foi atacada pelo mercado, a partir de agora pode competir com OTA’s (sigla em inglês para agências de viagem on-line)”, disse. Ele destacou que a empresa atualmente possui 1.100 lojas e acrescentou: “os competidores vão demorar muito tempo para ter uma rede igual à nossa”.

O problema, segundo análise da Eleven, é que o endividamento muito alto da companhia continua onerado o lucro. A casa tem classificação neutra para CVCB3 com preço-alvo de R$ 12.

Também na teleconferência sobre o resultado do terceiro trimestre, Marcelo Kopel, CFO da CVC, disse que o vencimento de dívidas está concentrado no primeiro trimestre do ano que vem. No entanto, a empresa quer alongar a dívida para não interromper o seu ciclo de crescimento.

“As conversas estão adiantadas e o mercado bem receptivo nessa conversa”, explica.

Para o Bradesco BBI, projetos estratégicos da CVC lançados ao longo do terceiro trimestre devem gerar resultados para a empresa no longo prazo.  A nova plataforma  Atlas deve ajudar em vendas cruzadas e de maior valor agregado via diferentes canais, enquanto seu marketplace de crédito deve ajudar a reduzir recebíveis do segmento B2C no balanço da companhia.

“Além disso, foi lançado o programa de fidelidade, que deve contribuir com uma melhor manutenção e frequência do cliente”, afirmam os analistas do BBI. A casa manteve rating neutro para CVCB3 e reduziu o preço-alvo do papel de R$ 11 para R$ 10 ao final de 2023.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados