Cancelamento e adiamento de IPOs refletem momento desafiador para ações, afirma Morgan Stanley

No ano passado, banco previu "ressaca" nos mercados após onda de ofertas públicas

Mitchel Diniz

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – A onda de ofertas públicas de ações (IPOs) que começou no ano passado, em plena pandemia de Covid-19, dá sinais de arrefecimento agora na reta final de 2021. Os analistas do Morgan Stanley avaliam que o arrefecimento das operações é mais um sinal do momento desafiador enfrentado pelo mercado de ações no Brasil. O relatório assinado pelos analistas Guilherme Paiva, Juan Ayala e Julia Nogueira, destaca o volume de recursos movimentado nas ofertas até agora e também os setores que se mostraram mais rentáveis.

O Morgan Stanley nota que os volumes negociados no mercado de ações estão 80% acima do nível pré-pandemia, com os investidores demonstrando maior apetite por empresas da economia doméstica, que ficaram descontadas no último ano. Isso acontece em um momento de recuperação econômica e juros historicamente baixos, apesar de indicadores recentes mostrarem que essa tendência pode estar se invertendo.

O Morgan Stanley menciona 73 IPOs entre 2020 e 2021 movimentando um total de US$ 20 bilhões em 21 meses. Empresas do setor de bens duráveis, saúde e indústria foram responsáveis por mais da metade do volume dessas operações.

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A análise aponta que quantidade de IPOs é mais que o triplo da média histórica, de 11 operações por ano. Por outro lado, a média do volume movimentado por oferta é historicamente menor. “O tamanho médio do negócio é de US$ 250 milhões, metade da média dos últimos 19 anos, de US$ 500 milhões”, diz o texto.

De 39 operações feitas em 2021, 27 negociaram na faixa de US$ 100 milhões a US$ 500 milhões; três operações movimentaram entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão e apenas um IPO ficou acima desse valor, o da Raízen (RAIZ4).

Leia mais: Após maior IPO do ano, o que esperar para ações da Raízen?

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“Além disso, quase 90% dos IPOs de 2021 representaram até 25% do capital das empresas, número consistente com o que tem acontecido nos últimos 20 anos”, dizem os analistas do Morgan Stanley.

Levando em consideração o retorno das ações do momento da IPO até o momento de elaboração do relatório, o Morgan Stanley constatou que as melhores performances vierem dos setores de: tecnologia da informação, energia, saúde, indústria e serviços de comunicação tiveram retornos anualizados de dois dígitos. Por outro lado, bens de consumo, bens duráveis, serviços públicos, materiais e finanças tiveram os piores desempenhos.

O Morgan Stanley, no entanto, vê a aceleração no número de operações canceladas ou adiadas nos últimos três meses como sinal de “um final de ano mais desafiador para a classe de ativos”. Historicamente, segundo os analistas, uma alta taxa de cancelamento e adiamento de ofertas coincide com uma performance fraca do mercado de ações.

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“Por exemplo, quando o percentual de cancelamento e adiamento era igual ou superior a 50% das ofertas, entre 2011 e 2015, os retornos do índice MSCI Brazil em dólares foram insignificantes”, dizem os analistas. O Morgan Stanley ressalta que o percentual de ofertas canceladas ou adiadas em 2021 chega a 17%.

“No entanto, devemos notar que dez dos 15 adiamentos ou cancelamentos em 2021 aconteceram no terceiro trimestre, que coincidiu com uma queda de 20% em dólares do índice de referencia [no caso, o MSCI Brazil]”, diz o relatório.

No ano passado, o Morgan Stanley previu que a onda de IPOs na B3 poderia trazer uma “ressaca” agora em 2021. À época, os analistas diziam que os investidores normalmente surfam a onda por um tempo e há uma derrocada no ano seguinte.

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Olhando para frente, o Morgan Stanley afirma que estão cautelosos em relação a ações de empresas brasileiras no curto prazo, com riscos de baixa de preço motivados pelo cenário doméstico. Os analistas destacam a extensão da política de aperto monetário, as pressões inflacionárias e o desemprego ainda elevado no país.

“Além disso, o nível historicamente alto do endividamento das famílias é outra questão que pode pesar nas tendências para consumo doméstico, na nossa visão”, afirmam os analistas.

Indicadores recentes têm decepcionado quem acreditava em retomada robusta da economia no pós-pandemia. Nesta semana, o índice de produção industrial veio abaixo do esperado, e as vendas do varejo também decepcionaram. Este último dado recuou 3,1% em agosto na comparação com julho. A expectativa era de alta de 0,7%.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados