Bitcoin sobe mais de 20% no 1º semestre, apesar de pressão da China; confira o desempenho de outras criptomoedas

Maior moeda digital do mundo teve um primeiro semestre bastante divido, chegando a bater máxima em US$ 64 mil, para depois ter uma forte correção

Rodrigo Tolotti

(Bianca Holland/Pixabay)

Publicidade

SÃO PAULO – Para quem começou a acompanhar o Bitcoin e o mercado de criptoativos nas últimas semanas, pode parecer que o momento é negativo, com a maior moeda digital do mundo abaixo de US$ 35 mil, cerca de 50% abaixo da sua máxima histórica, mas mesmo assim, ela encerrou o primeiro semestre com ganhos de 20,82%, a US$ 35.040,84.

E essas variações mostram que, até agora em 2021, o cenário do Bitcoin pode ser dividido em duas partes: um forte rali até o fim de abril e depois dois meses de acentuada correção de preços.

Após iniciar o ano na casa de US$ 29 mil, em fevereiro a criptomoeda superou a marca dos US$ 50 mil, renovando recordes de preço diversas vezes, até em 14 de abril bater o que até agora é sua máxima histórica, de US$ 64.863.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

O que sustentou tanto otimismo foi a entrada de grandes empresas e gestores no mercado cripto, um movimento que ocorre desde outubro do ano passado, quando o Bitcoin ainda estava em US$ 11 mil (alta de 200% até agora).

“O primeiro trimestre foi de forte alta, impulsionado pela injeção de capital institucional, com nomes de peso como Ray Dalio, Stan Druckenmiller e Paul Tudor Jones anunciando exposição a Bitcoin como alternativa de diversificação e eventual proteção as políticas de injeção monetária”, explica Safiri Félix, diretor de produtos e parcerias da Transfero Swiss.

Se no ano passado empresas como PayPal, Square e Mastercard começaram e entrar neste mercado, em fevereiro, com a Tesla anunciando a compra de US$ 1,5 bilhão em bitcoins e a aceitação como meio de pagamento por seus veículos, os preços da criptomoeda ganharam um novo gás.

Continua depois da publicidade

Em seguida, grandes aquisições feitas pela Microstrategy também ajudaram a impulsionar o Bitcoin para sua máxima histórica. Nesse meio tempo, outras novidades agitaram o mercado: a estreia das ações da corretora Coinbase na bolsa americana Nasdaq; e o lançamento de dois ETFs no Brasil, um de criptomoedas (HASH11) e outro só de Bitcoin (QBTC11).

Essas opções de investimento ajudam ainda mais a democratizar o acesso ao mercado de criptoativos, colocando agora a possibilidade de investir em empresas expostas a esse mundo – ainda que apenas nos Estados Unidos, por enquanto – e também fundos de índice, que possuem taxas menores e preços de entrada mais acessíveis.

A correção

Mas tão logo a euforia das máximas empolgava os investidores, a correção chegou, e não só de uma forma natural pelo forte rali, mas combinado com uma sequência bastante negativa de notícias.

Continua depois da publicidade

A piora ocorreu na segunda metade de maio, após Elon Musk anunciar que a Tesla iria suspender a compra de seus veículos usando bitcoins, o que iniciou um forte movimento de queda dos preços. Segundo o executivo, a preocupação é com o uso crescente de combustíveis fósseis na mineração de novas moedas digitais, prejudicando o meio ambiente.

A decisão pegou todos de surpresa, já que havia um grande otimismo no mercado desde o ano passado com a entrada de grandes investidores institucionais no mercado. Para piorar, o rumor de que a Tesla teria vendido em torno de 10% da sua posição com a justificativa de testar a liquidez do mercado, alavancou ainda mais as perdas.

Isso gerou um temor não só pela notícia em si, mas de que outras companhias pudessem tomar decisões parecidas, deixando os investidores em clima de tensão. Porém, foi outro fator que acentuou a queda.

Publicidade

Bitcoin perdeu mais de 20% de valor em poucas horas após notícias de que a China colocou restrições a transações que envolvam moedas digitais. Na ocasião, agências de notícias divulgaram que instituições financeiras e empresas de meios de pagamento da China não poderiam mais participar de quaisquer transações relacionadas a criptomoedas, nem deveriam fornecer serviços relacionados aos seus clientes.

Apesar de analistas apontarem que aquela decisão não era uma novidade, já que a China já tinha restrições com criptoativos, a forte queda acabou impulsionada pela grande quantidade de posições em aberto que havia no mercado. Com investidores operando alavancados e com ordens automáticas de vendas – buscando evitar perdas muito acentuadas -, o início de uma derrocada criou um efeito cascata que acionou essas ordens e piorou ainda mais a queda dos preços.

Leia também: A influência da China para o Bitcoin e os impactos do cerco do governo aos mineradores

Continua depois da publicidade

Por dois dias o mercado tentou encontrar um novo equilíbrio, até que uma nova notícia pressionou novamente os preços. Dessa vez, o Conselho de Estado da China emitiu uma nota sobre uma discussão para reprimir a mineração e negociação da criptomoeda no país.

Em uma declaração do vice-premiê chinês Liu He e do Conselho de Estado, as autoridades disseram que uma regulamentação mais rígida é necessária para proteger o sistema financeiro. Essa foi a primeira vez que um alto órgão do governo discutiu o assunto.

Nos dias que se passaram, outros países também emitiram comunicados sobre negociação de criptoativos, caso dos Estados Unidos, Argentina e Bolívia, mas o impacto no mercado não foi tão grande, até pela queda que já havia ocorrido.

Publicidade

O pior já passou?

Desde essa queda, o Bitcoin passou a operar a maior parte do tempo entre US$ 30 mil e US$ 35 mil, com poucos momentos fora desse patamar, conforme o mercado assimila as notícias recentes, enquanto também ocorre um ajuste natural conforme, por exemplo, as posições alavancadas diminuem, criando menos distorção de preços.

“As perspectivas para o segundo semestre são positivas, com boas chances de uma reversão do mercado, impulsionadas pela diminuição da percepção de risco com a diminuição da dependência da mineração no território chinês e com a sinalização da continuidade dos pacotes de estímulos monetários nos Estados Unidos”, avalia Safiri.

E se em um primeiro momento a repressão chinesa pode parecer bastante negativa, no médio e longo prazo ela pode acabar sendo positiva para o Bitcoin.

Isso porque, não só a rede da criptomoeda foi feita para se ajustar conforme os mineradores são obrigados a deixar a China, mas também porque estimula a descentralização do Bitcoin. Para um ativo que se propõe a não ter influência de grandes instituições e governos, ter uma concentração muito alta de mineração em apenas um local pode ser negativo para seu funcionamento.

Leia mais: Como a perseguição da China aos mineradores de Bitcoin pode ser boa para a criptomoeda

“Esse processo também torna a moeda digital mais segura do ponto de vista jurídico. Isso porque a maioria dos países para os quais os mineradores estão migrando já possuem uma regulamentação pró-cripto mais estruturada, como é o caso do Canadá e dos Estados Unidos”, avalia Orlando Telles, sócio-fundador da Mercurius Crypto e diretor da Mercurius Research.

Sobre os próximos meses, apesar da apreensão do mercado com a possibilidade de uma tendência de baixa mais duradoura, o co-fundador e head de novos negócios da UZZO Pay, Alfredo Luz, tem uma visão mais positiva: “Utilizando o modelo Stock-to-Flow [que compara o preço de um determinado ativo com sua oferta disponível] como referência e fazendo uma analogia com o futebol, aparentemente estamos no intervalo da partida”.

“2021 é considerado por muitos analistas o ano final deste ciclo de alta, no primeiro semestre ocorreu o primeiro tempo da partida, após a correção no preço do Bitcoin nas últimas semanas o mercado mostra que estamos no vestiário descansando para o segundo tempo que pode ocorrer a partir da segunda metade deste semestre”, valia Luz.

Segundo ele, a previsão do modelo Stock-to-Flow indica o Bitcoin acima de US$ 90 mil até dezembro deste ano. “Outros fatores como a recuperação do hashrate da rede após a expulsão de mineradores da China e a crescente entrada de instituições no mercado cripto reforçam a expectativa de alta para os próximos meses”, conclui.

Outras criptomoedas

E mesmo conseguindo encerrar o semestre em alta, o Bitcoin ainda ficou bem atrás de outros criptoativos na questão valorização. Das 100 maiores moedas digitais em valor de mercado, apenas oito encerraram o semestre no negativo (incluindo stablecoins, que têm pouca oscilação).

Entre os ganhos, o melhor desempenho foi para a Telcoin, uma criptomoeda baseada na rede Ethereum criada em 2017 em Singapura para ser uma ponte entre criptos, blockchain e a indústria de telecomunicações. O token fechou o semestre com alta de 16.484%, muito disso também por seu baixo valor de face, que facilita variações percentuais mais fortes, cotado a US$ 0,02832.

Na sequência apareceu a Polygon Matic, com valorização de 6.181%, para US$ 1,12. Essa criptomoeda visa um hub ao qual diferentes blockchains podem ser facilmente conectados. O objetivo é fornecer uma solução mais barata, segura e ágil para transações conduzidas em blockchains Ethereum.

Completando o top 3 do semestre aparece uma das criptos mais comentadas do ano, a Dogecoin. Ajudada, entre outras coisas, por falas animadas do CEO da Tesla, Elon Musk, essa moeda saltou 4.225% nestes seis meses, cotada hoje a US$ 0,245.

Essa criptomoeda foi criada pelos engenheiros de software Billy Markus e Jackson Palmer para ser usada como uma alternativa mais rápida e “divertida” ao Bitcoin. Ela foi baseada em um meme de internet chamado “Doge”, que retrata um cachorro da raça Shiba Inu ao lado de frases sem sentido em um texto multicolorido usando a fonte Comic Sans.

Apesar desse forte rali, especialistas defendem que a criptomoeda não tem fundamentos e é um investimento bastante arriscado (saiba mais clicando aqui).

Dentre as criptomoedas com maior valor de mercado, destaque ainda para o Ethereum, que saltou 202%, a US$ 2.206, puxada bastante por atualizações ocorridas e que ainda devem acontecer em sua rede e que podem melhorar bastante sua usabilidade.

No Top 10 das maiores moedas digitais, se destacaram, por fim, também a a Binance Coin e Cardano, com valorização de 681% e 670%, respectivamente, cotadas atualmente a US$ 295 e US$ 1,35.

Sobre a Binance, Mayra Siqueira, gerente geral da empresa no Brasil destaca que “a Binance Smart Chain (BSC) teve um forte crescimento no semestre, chegando a ultrapassar a rede Ethereum em número de transações pela primeira vez, tornando-se cada vez mais robusta e mais acessível financeiramente para os projetos DeFi [finanças descentralizadas], que seguem em alta desde o ano passado”.

“Importante também dizer que o Brasil tem grande peso nisso: os brasileiros chegaram ao fim do semestre como segundo maior público usuário da BSC”, conclui ela.

Invista nos fundos de criptomoedas mais acessíveis do mercado: abra uma conta gratuita na XP!

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.