Bitcoin, ame ou odeie: confira como grandes gestores e analistas se posicionam em relação a investir em criptomoedas

Críticos dizem que Bitcoin não é reserva de valor, enquanto apoiadores ressaltam a valorização de longo prazo. Quem está certo?

Rodrigo Tolotti Beatriz Cutait

(Pixabay)

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SÃO PAULO – Criado em 2009, o Bitcoin ainda pode ser considerado um ativo novato no mercado, sendo que há três anos ainda não existiam fundos, índices e até ações de empresas do ramo como os que estão disponíveis hoje para o investidor diversificar o patrimônio dentro do mundo das criptomoedas.

Com variações que chegam a altas ou quedas de mais de 30% em poucas horas, as moedas digitais estão entre os ativos mais polêmicos da atualidade, dividindo não só os pequenos investidores, mas analistas, economistas e gestores nos debates sobre se essa é uma revolução que veio para ficar ou apenas uma grande bolha, com ativos que, no futuro, não valerão nada.

Grandes nomes dos investimentos, como Warren Buffett, Nassim Taleb, Ray Dalio e Carl Icahn já expressaram suas opiniões sobre o Bitcoin e outras criptomoedas, em geral de forma crítica. Mesmo assim, os entusiastas desses ativos defendem que eles são descorrelacionados do mercado dito tradicional, e por isso oferecem uma boa diversificação e proteção contra os movimentos de ações, por exemplo.

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Até hoje não se sabe quem é o criador do Bitcoin, com a autoria creditada ao pseudônimo Satoshi Nakamoto, que pode ser uma pessoa ou um grupo. Seu surgimento está ligado à crise de 2008 e à descrença que muita gente passou a ter sobre o sistema financeiro após o choque imobiliário daquela época.

Por isso, essa primeira criptomoeda foi criada com a intenção de se tornar um meio de pagamento totalmente livre das intervenções de bancos centrais e outras autoridades. Desde então milhares de moedas digitais foram criadas, com objetivos e funcionamentos diferentes, mas o Bitcoin sempre se manteve como a maior delas.

As mudanças que ajudaram os criptoativos

“Se você me perguntasse há três anos, eu diria que todas as criptomoedas valem zero. Mas minha opinião mudou um pouco porque algumas coisas aconteceram nesse meio do caminho” afirma Felipe Dexheimer, head de alocações da XP Asset, ao InfoMoney.

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Ele explica que os desenvolvimentos ocorridos no mercado foram muito importantes para não só dar maior segurança de que o Bitcoin, por exemplo, não iria acabar do dia para a noite, como também facilitaram o acesso a esses ativos digitais de formas diferentes.

“A primeira mudança, que é superimportante, é que se tornou viável para o investidor institucional carregar criptos. Os grandes custodiantes de fundos lá fora agora conseguem custodiar com uma segurança parecida com a de uma posição em ações”, diz Dexheimer, ressaltando a questão como uma alteração de peso para a indústria.

“É uma mudança sutil, que quase ninguém percebe, mas que permite que o fundo de pensão dos professores do Canadá possa ter criptos se quiser, o que até então era impossível porque, se alguém perdesse a chave criptográfica, ficava sem nada”, exemplifica.

Diante do maior volume de recursos, ao investir em determinado ativo, o investidor institucional gera maior estabilidade para o mercado como um todo, diz o alocador da XP.

O segundo fator importante de evolução nos últimos anos, segundo Dexheimer, foi uma “mudança que não aconteceu”, já que, conforme o tempo passou, as criptomoedas não deixaram de existir. “Foi mostrado que uma rede de mineradores e uma rede de processamento de transações não se desfazem de uma hora para outra, que era um receio que existia. Isso deu uma robustez para as criptomoedas, e elas passaram a ser commodities.”

Apesar dessas evoluções apresentadas desde a criação, o Bitcoin ainda sofre muitas críticas, principalmente relacionadas aos seus fundamentos – ou à falta deles.

Bitcoin não tem lastro e não é reserva de valor…

Entre gestores e analistas, o que se vê é uma divisão entre dois tipos de críticas. Para alguns, o grande problema do Bitcoin e de outras criptomoedas está relacionado à grande volatilidade e ao fato de o mercado contar com muitos “torcedores”, e não investidores. Para outros, a falta de lastro, a dificuldade de calcular um valuation e o argumento de que esses ativos não constituem reserva de valor justificam as ressalvas.

Entre os que criticam o Bitcoin está Warren Buffett, fundador da Berkshire Hathaway e considerado um dos maiores investidores da história. Por diversas vezes, ele comentou sobre a criptomoeda, chegando a chamar o ativo de “veneno de rato”.

Em 2020, em uma entrevista para a rede americana CNBC, Buffett declarou que não tem e nunca terá moedas digitais já que, para ele, esses ativos “não têm valor e não produzem nada”.

Mais recentemente, seu sócio, Charlie Munger, disse que todo o “maldito” desenvolvimento do Bitcoin e de outras criptomoedas é “repugnante e contrário aos interesses da civilização”. Para ele, o Bitcoin “é um produto financeiro inventado a partir do nada”.

“É claro que eu odeio o sucesso do bitcoin. Não dou as boas-vindas para uma moeda tão útil para quem pratica sequestros e extorsões”, disse Munger, no encontro anual de acionistas da Berkshire de 2021.

Outro grande nome crítico ao Bitcoin é Nouriel Roubini, economista turco-americano e professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York, conhecido por “Doutor Catástrofe”. Em artigo publicado no jornal britânico Financial Times, ele afirmou que a criptomoeda “não é uma unidade de valor”.

Mais recentemente, reforçou sua visão nas redes sociais, dizendo que o Bitcoin “nem mesmo é uma moeda. “[O Bitcoin não possui] Nenhuma das características de uma moeda: não é unidade de contagem, não é meio de pagamento escalonável e não é reserva estável de valor”, escreveu Roubini no Twitter, em menção a seu artigo.

Aqui no Brasil, André Jakurski, fundador da JGP, reforçou o discurso de que a principal criptomoeda não é uma reserva de valor e ainda a comparou a uma obra de arte: “Minha opinião sobre Bitcoin é a mesma opinião que eu tenho sobre um quadro do Picasso: pode subir, como pode cair”, afirmou, em live promovida pela Spiti.

“Na verdade, ele não tem valor intrínseco, é vendido pela teoria da escassez, pois, como dizem que não vai ter emissão a mais de Bitcoin, ele vai virar uma obra de arte que você coleciona. E um pedaço de tela com tinta dentro pode valer US$ 50 milhões ou US$ 100 milhões, porque quem faz o preço é o comprador: se o comprador acha que vale, ele compra”, disse Jakurski.

Luiz Barsi, um dos maiores investidores pessoa física do Brasil, também já demonstrou que não tem interesse em investidor em moedas digitais.

“Bitcoin é um elemento criado que não tem patrimônio. Não tem estrutura e não tem origem. Não invisto no lugar em que não há fundamentos. O Bitcoin é uma estrutura sem fundamentos”, disse Barsi, em uma live do projeto AGF – Ações Garantem Futuro, em março. “O Bitcoin não existe. Ele é um fantasma que está assombrando os gananciosos.”

… mas investir em criptos vai além disso

Diante de todas as críticas, em especial ao Bitcoin, os apoiadores da criptomoeda reforçam que investir nesses ativos é algo ligado ao futuro da tecnologia e que é preciso ter uma visão de longo prazo, evitando sempre uma exposição exagerada.

Sobre as críticas de que o Bitcoin não tem lastro, João Cunha, da Hashdex, afirma que essa questão “em geral, está associada a um entendimento “limitado” do que é lastro e sobre como ele funciona no sistema monetário vigente.

“Hoje em dia, o lastro da moeda está associado à capacidade de uma economia produzir bens e serviços, ao poder dela. Quanto mais diversificada, produtiva e aberta é uma economia, mais forte é a sua moeda”, diz. “Então, em última instância, o lastro tem a ver com a produção.”

Segundo ele, o mesmo raciocínio pode ser aplicado aos criptoativos, já que as blockchains foram criadas para resolver problemas da vida real, gerando um serviço para as pessoas, seja de moeda, reserva de valor, contratos inteligentes ou algum outro.

Sobre a questão do valuation, o gestor concorda que realmente não existe ainda uma metodologia que consiga definir o preço dos criptoativos. “Mas me parece que esse argumento não faz muito sentido. Você dizer que determinada coisa não tem valor porque não sabe medir esse valor não faz sentido do ponto de vista lógico”, argumenta.

Para Cunha, olhar para o futuro e para o preço potencial que uma moeda digital poderá ter está relacionado com o investidor estar “disposto a sair da zona de conforto”.

“Para quem está disposto a investir, tem que acreditar que todas as boas propriedades que esse ativo tem vão se fortalecer ao longo do tempo, que ele vai ter mais uso, mais pessoas aderindo. Você está investindo no sucesso dessa rede”, conclui.

O problema da volatilidade

Por trás de todas essas críticas, um dos pontos mais complexos de analisar o Bitcoin diz respeito à grande volatilidade, que não só atrapalha qualquer tipo de tentativa de encontrar um “preço justo” para a criptomoeda, como leva a comparações de que esse ativo seria como um cassino, mais baseado em sorte do que em uma estratégia de investimento.

Em meio à derrocada dos preços ocorrida na última quarta-feira (19), Luiz Alves Júnior, sócio-fundador e gestor da Versa, comentou um tuíte de Fernando Ferreira, economista-chefe da XP, apontando a forte volatilidade do Bitcoin entre seu fundo do dia e a recuperação algumas horas depois. Para ele, esse tipo de movimento explicita como a criptomoeda não pode ser considerada investimento.

Luiz Alves também já comparou a moeda digital a um casino, considerando a ideia de que são poucos os investidores que realmente ganham dinheiro com Bitcoin e que não perdem tudo com uma correção de preços logo na sequência.

Entusiasta das criptomoedas, Cunha, da Hashdex, concorda que o Bitcoin ainda tem problemas em se provar como um ativo que seja uma reserva de valor exatamente por conta dessa volatilidade. “O Bitcoin falha como uma reserva de valor. Ele quer se consolidar como uma reserva de valor, ele ainda não é uma reserva de valor madura”, diz.

Por outro lado, Cunha destaca que, quando o investidor olha para o longo prazo, a moeda digital tem entregado um bom resultado. “Por mais que no curto prazo exista uma volatilidade, quando se olha para um horizonte mais alongado, parece que ele está conseguindo preservar valor”, conclui.

Desde 2013, quando passou a ter maior negociação em corretoras especializadas, o Bitcoin registrou apenas dois anos de desvalorização, em 2014 e 2018. Neste segundo, o movimento ocorreu após a criptomoeda atingir a então máxima histórica de US$ 20 mil, no fim de 2017, engatando forte correção em apenas um mês e fechando o ano seguinte a cerca de US$ 3.700.

A segunda grande correção do preço tem ocorrido neste momento. Em 14 de abril, o Bitcoin atingiu a máxima na casa dos US$ 64 mil e, nas últimas semanas, entrou em um forte movimento negativo, chegando a atingir por um breve momento os US$ 30 mil no dia 19 de maio.

Confira no gráfico a seguir a variação histórica do Bitcoin:

Fonte: CoinMarketCap

Diversificação da carteira

Na internet é fácil encontrar pessoas exaltando os ganhos com criptomoedas e apostando tudo no Bitcoin, mas o investidor precisa ter cuidado diante do alto risco que existe nesses ativos, que não são recomendados para aqueles que se consideram bastante conservadores.

Especialistas recomendam uma exposição de menos de 5% da carteira de qualquer investidor que decidir comprar moedas digitais. Com isso, elas se tornam uma opção de diversificação, que pode render ganhos expressivos se a tecnologia crescer. Caso os críticos estejam certo e o preço dos ativos cair para zero, o impacto não será tão grande em seu portfólio.

“Ter criptomoeda é um exercício de humildade”, diz Luiz Nunes, sócio da Forpus Capital, ao justificar o ingresso no mercado. A gestora tem atualmente 18% de exposição em criptoativos por meio do fundo multimercado Forpus Multiestrategia. “Acho muito perigoso estar fora e muito perigoso ter alocação demais”, assinala.

Essa parte da estratégia é implementada por meio da alocação internacional em um fundo da Hashdex. Com o lançamento ao fim de abril do Hashdex Nasdaq Crypto Index (HASH11), o primeiro ETF do Brasil referenciado em um índice de criptomoedas, a ideia é migrar a exposição do Forpus Multiestrategia para o produto.

Sem uma equipe dedicada às moedas digitais, Nunes ressalta ser melhor buscar uma cesta de ativos para a alocação. E avalia que também se trata de um exercício de humildade ter em mente que o valor das criptomoedas, em forte alta no momento, pode despencar.

“Recomendamos sempre ter um investimento em cripto entre 1% e 4% do portfólio. Se o valor se multiplicar, a alocação funciona. E se for a zero, não mata”, diz. Lançado em setembro de 2020, o fundo da Forpus é destinado a investidores em geral.

Dificuldade para os gestores

Com relação à posição de outras gestoras, Nunes avalia que está cada dia mais caro mudar de opinião diante do nível de preço atingido por criptoativos. Na prática, a supervalorização se traduz em dificuldade para iniciar uma exposição nas moedas digitais nas carteiras, ainda que os gestores possam comprar os ativos para seus portfólios pessoais.

Em debate online promovido pela Liga de Mercado Financeiro FEA-USP no dia 5 de maio, Florian Bartunek, sócio-fundador e CIO da gestora Constellation, disse que investe “na física” em Bitcoin.

“Sou um observador interessado no assunto. Por dever de ofício, curiosidade ou por não querer ficar com ‘dor de corno’, sou investidor de Bitcoin”, afirmou.

João Luiz Braga, sócio-fundador e analista da Encore, por sua vez, disse que não ter investido mais nas criptomoedas no início responde por um dos maiores arrependimentos de sua vida.

“Acompanho Bitcoin desde o começo, sou um entusiasta, acho brilhante. Comprei um pouco há muito tempo, paguei quase nada e é o que tenho até hoje”, comentou Braga, ressaltando que vê os criptoativos como uma das maiores descobertas da atualidade.

Dexheimer, um dos responsáveis pelos fundos da família DNA, distribuídos pela XP e Rico, explica que, apesar de hoje gostar das criptomoedas, há grande dificuldade em fazer alguma alocação nos fundos por conta da complexidade em estimar o comportamento futuro do ativo.

“Quando eu falo estimar, falo em ter correlações estáveis ou previsíveis com outras classes de ativos, relações que eu posso contar […] A correlação não precisa ser estável, mas ela precisa ser previsível”, explica, ressaltando que também é preciso haver um risco previsível para um ativo do fundo, independentemente do nível de risco.

Por fim, Dexheimer assinala que não há como estimar um retorno esperado para um horizonte mais longo de tempo, que no caso dele seria em torno de cinco anos. “Se você me perguntar hoje, não consigo garantir para as criptomoedas nenhuma dessas coisas”, afirma Dexheimer.

Recomendações para o investidor

O Bitcoin e toda a classe de ativos digitais surgida a reboque ainda são novos e em constante evolução, por isso é difícil não só projetar um preço para as criptomoedas no futuro, mas garantir quais delas continuarão a existir no longo prazo. O passado, porém, já mostrou que, para as maiores moedas, caso do próprio Bitcoin, a chance de desaparecimento de uma hora para outra é muito pequena.

Para o investidor que estiver interessando no tema, é preciso estudar e entender as propostas desses ativos antes de realizar qualquer compra, assim como é importante saber sobre uma empresa em que se investe.

Muitos entusiastas destacam que o Bitcoin ajuda na diversificação por ser descorrelacionado do mercado tradicional, ou seja, não estar ligado a uma decisão de governo e sem impacto de eventos políticos ou econômicos.

Mesmo assim, ele não está livre dos reflexos de humor dos investidores. Como destacou Safiri Félix, diretor de produtos e parcerias da Transfero, durante a mais recente queda do mercado, um aumento generalizado na aversão ao risco tende a impactar o preço do Bitcoin, por mais que não afete seus fundamentos e sua tendência de longo prazo.

Um exemplo disso foi o estouro da pandemia do coronavírus em março de 2020. Na ocasião, não só as ações caíram forte, mas os criptoativos também, em um cenário de investidores evitando posições compradas em qualquer ativo com um mínimo risco. Porém, no caso do Bitcoin, menos de dois meses depois, os preços já haviam se recuperado.

Como destacado anteriormente, a exposição em criptomoedas não deve ser superior a 5% da carteira, sendo que, para investidores com perfis mais moderados, o recomendado gira em torno de 2% apenas.

Atualmente, os investidores contam com mais opções para investir nesse mercado, indo além da compra direta dos ativos digitais em corretoras especializadas. É o caso dos fundos de criptomoedas, com alternativas de diferentes níveis de exposição a moedas digitais, que variam entre 20% e 100% (saiba mais aqui).

Com isso, a volatilidade dos movimentos pode ser mitigada, já que os fundos costumam complementar o investimento da carteira na renda fixa. Dessa forma, em um movimento de forte queda do Bitcoin e outras moedas, a perda do fundo é reduzida caso tenha menor exposição. Por outro lado, os ganhos mais exacerbados também não são os mesmos de um investimento direto.

Outra opção mais recente é o ETF Hashdex Nasdaq Crypto Index (HASH11). Por ser uma cesta de criptoativos, o ETF consegue proporcionar uma diversificação no mercado e captar as nuances nos movimentos dos diferentes ativos, contando com taxas menores do que as cobradas pelos fundos.

Investir, seja em criptomoedas ou em qualquer outro ativo, não deve ser algo baseado em sorte ou como se fosse um jogo. Após mais de dez anos de existência, as moedas digitais conseguiram se fixar como uma opção de investimento, mas ainda têm muito para se provar e crescer até se consolidar.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.