Bancos dos EUA surpreendem com lucros acima do esperado, mas aumentam provisões prevendo economia mais lenta

Após dados do Citi, JP Morgan e Wells Fargo, temporada de resultados continua na próxima semana com atenção também para bancos regionais

Mitchel Diniz

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As expectativas estavam baixas, mas o início oficial da temporada de balanços do primeiro trimestre de 2023 nos Estados Unidos acabou sendo bem recebido pelos investidores. Os três grandes bancos que divulgaram resultados na manhã de hoje (14) vieram com números acima do esperado e suas ações operam em forte alta nas Bolsas americanas.

Para os analistas, os balanços de JP Morgan (JPMC34), Wells Fargo (WFCO34) e Citigroup apontam que, aparentemente, a crise que atingiu bancos regionais dos EUA não gerou maiores problemas ao sistema financeiro – pelo menos não nas grandes instituições.

“Foram os resultados dos bancos mais aguardados em mais de uma década, em que os participantes do mercado olharam minuciosamente para os números em busca de rachaduras no sistema financeiro dos Estados Unidos”, disse Octavio Marenzi, CEO da Opimas LLC, empresa de consultoria, em comentário para a Associated Press.

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Mas executivos dos três bancos se mostraram cautelosos sobre uma possível desaceleração da economia, ainda que, hoje, a atividade permaneça forte.

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Em teleconferência sobre os resultados do JP Morgan, o CEO do banco, Jaimie Dimon, afirmou que os consumidores americanos e as pequenas empresas continuam mostrando resiliência.

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“Os gastos permanecem sólidos e não observamos nenhuma retração notável ao longo do trimestre”, afirmou O executivo.

O JP Morgan, banco com maior carteira de ativos dos Estados Unidos, registrou lucro líquido de US$ 12,62 bilhões no primeiro trimestre. A cifra é 52% maior que a registrada um ano antes e o crescimento foi impulsionado pelos US$ 20,8 bilhões de receitas com juros do período (alta de 49%, na comparação anual).

Outro destaque do balanço, foi o incremento de US$ 37 bilhões em depósitos no período. Os americanos vinham resgatando as economias feitas ao longo da pandemia para honrar seus compromissos diante de uma forte escalada da inflação. Por conta disso, os depósitos dos grandes bancos vinham caindo por diversos trimestres.

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Contudo, a falência do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank levou a uma migração de recursos de bancos regionais para as grandes instituições financeiras, por serem consideradas mais seguras. Os executivos do JP Morgan confirmaram que o maior fluxo de depósitos ocorreu no mês passado, quando a crise de liquidez assolou os bancos menores.

“No entanto, as nuvens carregadas que monitoramos ao longo do ano passado continuam no horizonte e a crise na indústria bancária somou ainda mais riscos”, afirmou Dimon. O JP Morgan elevou as provisões para empréstimos inadimplentes em 56%, para US$ 2,3 bilhões.

Para o ano de 2023 fechado, o banco revisou as projeções para receitas de juros, de US$ 74 bilhões para US$ 81 bilhões. O mercado acreditava que o guidance fosse reduzido.

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Assim como no caso do JP Morgan, o Wells Fargo apresentou resultados melhores que o esperado, amparado por uma maior receita com juros, de US$ 13,34 bilhões (alta anual de 45%). O lucro do banco subiu 32% no primeiro trimestre de 2023 na comparação com o mesmo período do ano passado, para US$ 4,99 bilhões.

“Há bastante atividade na economia”, afirmou Mike Santomassimo, CFO do Wells Fargo, na apresentação dos resultados. Contudo, o executivo admitiu que o banco espera por uma desaceleração econômica, dado os juros mais altos nos Estados Unidos.

O banco reservou US$ 1,21 bilhão no trimestre para cobrir possíveis perdas com empréstimos inadimplentes, em comparação com um valor de US$ 787 milhões no ano anterior. As provisões ficaram 20% acima do consenso do mercado.

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Na teleconferência, Santomassimo disse que deve haver maior restrição de crédito a empréstimos de alto risco. E admitiu que as receitas com juros devem desacelerar no segundo trimestre deste ano.

Ao contrário do JP Morgan, o Wells Fargo manteve o guidance para receitas com juros no ano cheio de 2023, em R$ 49,45 bilhões.

O Citigroup também superou as projeções do mercado, com os efeitos da política monetária mais rígida do Federal Reserve. O lucro líquido do banco cresceu 7% no primeiro trimestre de 2023 (1T23), para US$ 4,6 bilhões, ou US$ 2,19 por ação, ante US$ 4,3 bilhões, ou US$ 2,02, um ano antes.

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As receitas com juros cresceram 23%, para R$ 13,3 bilhões. Ainda que tenha apresentado números mais fortes que o esperado, os resultados do Citigroup foram considerados os mais fracos entre os bancos que divulgaram resultados nesta sexta-feira.

O banco reservou US$ 241 milhões em provisões no período em meio à desaceleração da economia; um ano antes, as provisões estavam em US$ 138 milhões.

Corporativo e banco de investimento continuam fracos

O marasmo do mercado de capitais se refletiu mais uma vez nos balanços dos “bancões”.

No JP Morgan, as receitas da divisão de banco de investimentos recuaram 24%, com o mercado morno em fusões, aquisições e oferta de ações. A receita de equity recuou 12% e a de renda fixa permaneceu estável.

A receita de banco de investimento do Citi caiu 25%, pressionada pela lentidão de transações do mercado.

Já no Wells Fargo, exceção da lista, a receita de corporate e investment banking aumentou 41% ano a ano para US$ 4,9 bilhões.

De olho nos bancos regionais

Na terça (18), saem os números do Bank of America (BofA) e Goldman Sachs. Já na quarta (19), o Morgan Stanley divulgará seus resultados.

Mas, nesta temporada, balanços que antes passavam praticamente despercebidos, de instituições financeiras menores, devem ganhar atenção especial dos investidores.

O First Republic Bank (FRC) deveria apresentar seus números já nesta quarta-feira (12), mas adiou a divulgação para o próximo dia 24 de abril. Ainda que não seja um grande nome do setor, o banco regional ganhou as manchetes no mês passado ao receber um resgate coletivo de US$ 30 bilhões.

Os recursos foram injetados por 11 instituições financeiras que se juntaram para evitar que o FRC tivesse o mesmo destino do Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank, que fecharam as portas por conta de uma crise de liquidez.

O balanço trimestral do First Republic Bank vai ser uma fotografia de como a rentabilidade da indústria de bancos regionais foi impactada pelos desdobramentos desses dois casos.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados