B3 (B3SA3): como o desfecho das eleições pode destravar valor para a ação da Bolsa

Decisão do segundo turno põe fim a algumas incertezas e deve contribuir com aumento de fluxo

Mitchel Diniz

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A Bolsa brasileira se comportou como uma gangorra neste mês de outubro e a corrida presidencial é vista como principal motivo para esse movimento. O desempenho do Ibovespa e suas ações parece ter deixado claro as predileções dos investidores. A diferença apertada  no primeiro turno entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o candidato a reeleição, Jair Bolsonaro (PL), deixou o mercado em euforia na primeira semana do mês. Agora, na última, com novas polêmicas rodeando o atual presidente e as pesquisas indicando a vitória de Lula, devolveu uma boa parte dos ganhos.

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Quem investe nos papéis da própria B3 (B3SA3) tem acompanhado essas oscilações e se perguntado se o fim da corrida presidencial pode destravar ou não valor para a ação. Esse é um questionamento que muitos analistas e gestores procurados pelo InfoMoney preferiram não responder até a decisão nas urnas, no domingo.

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Pedro Gonzaga, sócio e analista da Mantaro Capital, gestora focada em renda variável, admite que não há uma resposta única à pergunta. “É possível assumir que só a passagem desse marco, que é o segundo turno das eleições, pode ser suficiente para um fluxo melhor no mercado de capitais no Brasil”, afirma.

Os efeitos tendem a variar, sim, a depender do candidato que for eleito. “Como o atual presidente tem um tom mais liberal, é razoável assumir um maior otimismo com estatais federais se ele for reeleito. Isso é relevante para a B3 porque a Petrobras (PETR3;PETR4) é uma das ações de maior peso. Uma reprecificação importante do papel pode gerar maior fluxo e tende a ajudar nos negócios da Bolsa”, diz Gonzaga.

Por outro lado, a eleição de Lula poderia ser mais vantajosa em termos de atração de capital estrangeiro.

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“Embora seja difícil afirmar a preferência do investidor estrangeiro médio, alguns feedbacks recentes apontam para uma maior receptividade sobre a eleição do Lula. Então é possível que, com ele ganhado, haja um fluxo estrangeiro maior para a Bolsa”, afirma o sócio da Mantaro.

De qualquer forma, Gonzaga diz que a foto do Brasil em relação ao mundo é boa, com inflação arrefecendo, perspectiva de queda de juros e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

“Uma forma de estar exposto a tudo isso diretamente é a própria ação da B3, que captura a valorização das empresas listadas pelo crescimento de volume de negociações, seja de ações como nos outros mercados que opera, renda fixa e derivativos também”, diz Gonzaga

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“A ação é atraente e provavelmente um dos melhores nomes para operar com o melhor sentimento nos mercados brasileiros nos próximos meses”, diz o BTG Pactual que, recentemente, elevou o preço-alvo da ação de R$ 14 para R$ 18 ao final de 2023, com recomendação de compra.

O banco avalia que, após um mês de julho fraco em termos de volume, houve uma recuperação nos meses seguintes. A capitalização das empesas também terminou o trimestre acima das projeções do BTG, com o Ibovespa na casa dos 110 mil pontos (o banco previa 102 mil pontos).

A  movimentação de estrangeiros nos mercados da B3 voltou a ganhar fôlego em outubro. Até a última quarta-feira (26), o fluxo do mês estava positivo em R$ 10,533 bilhões. Em setembro, por muito pouco, esse saldo não ficou negativo – as compras superaram as vendas em apenas R$ 585,3 milhões.

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O Goldman Sachs calcula que a conclusão das eleições poderá destravar um fluxo de até US$ 30 bilhões em ativos sob gestão de fundos globais e US$ 20 bilhões dos fundos locais.

Visões diferentes sobre um mesmo papel

No começo do mês, depois de dois dias seguidos de alta na Bolsa após o primeiro turno das eleições, o Itaú BBA elevou a recomendação do papel B3SA3, de marketperform (desempenho em linha com a média do mercado, equivalente à recomendação neutra) para outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à recomendação de compra). A casa estabeleceu preço-alvo de R$ 18 para a ação ao final de 2023, ante R$ 13 ao fim de 2022.

A casa justifica que tomou a decisão com base em melhores expectativas de resultado e “reavaliação positiva de múltiplos à frente”. Com a nova avaliação, o BBA informou que aumentou as projeções de receitas da B3 para este ano e o ano que vem, em 1% e 5%, respectivamente. A casa também prevê lucro 9% no ano que vem, em R$ 5,8 bilhões.

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O Itaú BBA avalia que há espaço para que o movimento na Bolsa, visto após o primeiro turno, possa se repetir com o desfecho das eleições. “Supondo que a tendência se mantenha, a B3 terá mais negócios e nossas estimativas anteriores (e o consenso), neste caso, eram excessivamente pessimistas”, diz o relatório da casa, assinado por Pedro Leduc, William Barranjard e Mateus Raffaelli.

“Além disso, em 2023, também esperamos um controle mais rígido dos custos, com a gestão de custos tornando-se um tema central na B3. Isso aumenta a alavancagem operacional enquanto os ventos favorecem a receita”, diz a análise.

O Santander foi pelo mesmo caminho e elevou a classificação do papel para “compra”, aumentando também o preço-alvo de R$ 13 para R$ 18. A casa acredita que um ambiente político mais construtivo em 2023 poderá aumentar o volume médio de negociações da Bolsa, para R$ 33 bilhões por dia.

Segundo os cálculos do Santander, cada R$ 5 bilhões a mais no giro diário implica em aumento de R$ 2 no preço-alvo do papel.

Já a equipe de análise do Safra decidiu rebaixar a recomendação de B3SA3 após o rali da semana pós-primeiro turno. A casa avaliou que o papel teve um desempenho bom ao longo do ano, com valorização próxima de 30%, superando a performance do Ibovespa. Desta forma, a ação teria upside limitado, segundo os analistas do Safra.

Apesar do downgrade, o banco avalia B3SA3 como um investimento resiliente, visto que a empresa tem a hegemonia no fornecimento de infraestrutura para as operações do mercado financeiro, com um modelo diversificado de negócios. Diante disso, o banco elevou o preço-alvo do papel de R$ 15 para R$ 16 ao final de 2022.

O Safra também prevê que a B3 apresente geração de fluxo de caixa e equilíbrio em sua parte financeira, o que permite o pagamento de bons dividendos.

“Esperamos que a B3 pague dividend yield de 6,4% em 2022 e 5,7% em 2023″, diz o relatório do banco.

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A B3 divulgará seus resultados trimestrais no próximo dia 10 de novembro. A média das projeções de mercado da Refinitv aponta prevê lucro líquido reportado de R$ 1,165 bilhão no período, praticamente estável em relação ao obtido um ano antes (R$ 1,176 bilhão).

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados