As maiores corretoras de criptomoedas do mundo – e como escolher uma para investir com segurança

O colapso da FTX gerou uma crise de confiança nas costas da corretoras. No entanto, elas têm um papel muito importante no mercado

Lucas Gabriel Marins

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A falência da FTX, que um dia já foi uma das maiores exchanges do mundo, gerou uma enorme crise de confiança no mercado cripto, principalmente para as corretoras centralizadas. Em meio ao caos, diversas delas correram para divulgar provas de reserva  – espécie de diagrama que mostra endereços de carteiras com moedas de clientes – na tentativa de conter os danos de contágio da tragédia e assegurar que os fundos dos clientes estão protegidos.

Toda indústria tem sua laranja podre e, apesar dos problemas e críticas, as exchanges de criptomoedas foram (e ainda são) essenciais para o crescimento do mercado cripto. Elas atraíram milhares de investidores mundo afora e, além disso, vêm fazendo o meio de campo entre o público leigo e a complexa indústria de ativos digitais, repleta de anarcocapitalistas, novas tecnologias e mistérios.

Veja abaixo as cinco maiores exchanges do mundo, segundo o agregador CoinMarketCap, e as principais plataformas do Brasil. Entenda ainda como escolher uma corretora cripto segura para negociar criptoativos.

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As cinco maiores exchanges

Há centenas de exchanges centralizadas espalhadas pelo mundo, segundo os principais agregadores de informações cripto. Nas últimas 24 horas, as cinco maiores do mercado movimentaram, juntas, cerca de US$ 10 bilhões somente no mercado à vista.

Binance

A maior corretora cirpto por valor de mercado é a Binance.

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Fundada em 2017 pelo empresário Changpeng “CZ” Zhao, a empresa cripto ganhou rapidamente o posto de líder global por causa de uma grade variedade de criptomoedas, taxas baixas e alta liquidez. Chegou ao Brasil em 2019.

A Binance não tem sede fixa e vive em atrito com reguladores mundo afora. Por causa disso, a exchange foi questionada sobre sua segurança e suas reservas após a queda da FTX. No último mês, a corretora divulgou uma prova de reserva e um relatório de uma auditoria feita pela consultoria Mazars, que posteriormente deixou de trabalhar com empresas cripto. O documento, no entanto, foi apontado como inútil por uma professora da Wharton School, pois cita apenas informações coletadas diretamente do negócio, e não faz comparações com outros locais, como bancos independentes.

Coinbase

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A segunda maior exchange cripto do mercado, segundo o CoinMarketCap, é a Coinbase, baseada nos Estados Unidos. Fundada em 2012 por Brian Armstrong e Fred Ehrsam, a exchange foi o primeiro grande player do mercado cripto a abrir capital, em 2021, dando o pontapé em uma nova era para o setor, que passou a ter uma cara mais institucionalizada com investidores abastados. Na época, a empresa era avaliada em US$ 85,8 bilhões, valor que caiu 80% após um inverno cripto rigoroso e a recente crise no mercado.

Por ter ações negociadas na bolsa e andar conforme a legislação, a empresa costuma ser mais transparente com suas reservas e, como consequência, dar mais segurança para os usuários. Logo após as revelações de falhas de liquidez que levaram à queda da FTX, a corretora norte-americana foi uma das primeiras a divulgar que não tinha exposição ao negócio. Em seu site, o negócio garante que mantém os ativos dos usuários na proporção de 1:1.

Kraken

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Sediada em São Francisco, nos Estados Unidos, a Kraken é uma das exchanges mais antigas do mercado. Foi fundada em 2011 por Jesse Powell, em um período em que o Bitcoin e as altcoins ainda eram coisas de nerd e não tinham o espaço que têm hoje nas editorias de economia dos grandes veículos de comunicação. Periodicamente, a corretora divulga provas de reservas. Em seu site, diz que guarda os fundos dos clientes em carteiras cripto quentes (conectadas à internet) e frias (fora da internet) e que constantemente acompanha a segurança.

KuCoin e Bitfinex

As outras duas maiores exchanges do mundo são a KuCoin, baseada nas Seychelles, e a Bitfinex, localizada nas Ilhas Virgens Britânicas. As duas localidades são paraísos fiscais, conhecidos por ter legislações e regulações flexíveis que facilitam a aplicação (e a evasão) de capitais.

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Após o colapso da FTX, a KuCoin contratou a empresa de auditoria Mazars para averiguar as criptomoedas dos clientes em sua plataforma, a mesma empresa que fez a auditoria da Binance. Já o CEO da Bitfinex, Paulo Ardoino, comprovou a presença de ativos digitais ao publicar infos dos ativos dos clientes no repositório GitHub.

Vale lembrar que a Bitfinex, junto com sua empresa-irmã Tether, tiveram problemas com a Justiça no passado. Em 2021, elas foram obrigadas a pagar uma multa de US$ 42 milhões para a Comissão para Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC, na sigla em inglês) por causa de informações “falsas ou enganosas” em relação à stablecoin USDT, emitida pela Tether.

As duas empresas cripto também enfrentaram outro processo grande contra a Procuradoria-geral de Nova York por causa de problemas de reserva. Um acordo de US$ 18,5 milhões foi formalizado ano passado para encerrar o caso.

Plataformas brasileiras

No mercado cripto brasileiro há diversas exchanges locais, como Mercado Bitcoin, Foxbit, Coinext e NovaDAX. Antes da entrada da Binance no país, o Mercado Bitcoin, fundado em 2013, costumava ocupar a liderança e ter o maior parte do market share local. Após a queda da FTX, foi uma das únicas exchanges a não divulgar sua prova de reserva. Em contato com a reportagem do InfoMoney, a empresa disse na época que esse tipo de recurso é “limitado, pois não demonstra que os ativos correspondem ao saldo dos clientes em uma plataforma”.

De acordo com a empresa cripto, a melhor solução para a segurança dos ativos digitais dos clientes é a segregação patrimonial dos recursos do negócio e o dos clientes, junto com a supervisão regulatória. A exchange foi uma das maiores defensoras dessa prática, mas a questão não passou no Projeto de Lei 4401/21 (antigo PL 2303/15), que regulamenta o setor de criptoativos no Brasil.

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Neste ano, a XP Inc lançou a Xtage, sua plataforma própria para negociação de criptomoedas, construída em parceria com a Nasdaq. A Xtage permite a negociação de Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH), Chainlink (LINK) e Polygon (MATIC).

O fato de o grupo XP ter capital aberto e ser uma instituição financeira brasileira regulada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pelo Banco Central (BC) traz aos usuários maior segurança jurídica. Além disso, a Xtage está sob jurisdição brasileira e segue as regras do país. Em relação à custódia, a Xtage divulgou que contratou a firma cripto BitGo para fazer esse serviço. A maior parte dos ativos está em carteiras frias (fora da internet).

Outra exchange lançada este ano é a Mynt, do BTG Pactual. Não há informações sobre a custódia dos ativos.

Como escolher uma exhange cripto com segurança?

Para Tatiana Revoredo, CSO na The Global Strategy e membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation, há uma série de fatores que os investidores devem considerar antes de escolherem uma corretora cripto segura e adequada para o perfil. Alguns dos pontos são os seguintes:

Cibersegurança e reputação

Manter criptos em uma exchange significa confiar os ativos digitais a outra pessoa. Por isso, segundo Tatiana, é importante verificar há quanto tempo a corretora está no mercado, quantos clientes têm e se já teve problemas com invasões de hackers.

“Inúmeras exchanges tiveram problemas de cibersegurança nos últimos dois anos. Portanto, é evidente que o usuário vai precisar priorizar a segurança ao escolher uma corretora”, diz Tatiana.

Para fazer uma pequena pesquisa sobre o que usuários passados e existentes de uma determinada corretora disseram sobre o ela, Tatiana recomenda buscar informações em sites como “exchangewar.info”, “xyz crypto exchange reviews” ou Reclame Aqui (no Brasil).

Autorização

De acordo com a especialista, é importante também descobrir se a corretora tem autorização para operar no país em que o investidor vive. Além disso, segundo ela, “a jurisdição de uma corretora reflete não apenas seu mercado-alvo, mas também onde eles estão autorizados a fazer negócios devido a certas regras e regulamentos destinados aos criptoativos”.

Provas de reserva

As provas de reservas, divulgadas por corretoras após o colapso da FTX, bem como seguros, são indicativos de segurança.  “Uma corretora que oferece seguro pode proteger os investidores de perdas caso ocorra algo catastrófico, como um hack ou roubo de funcionários.” Tatiana diz que é importante estar ciente, no entanto, que as exchanges não são instituições financeiras tradicionais e não são protegidas são protegidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), por exemplo.

Liquidez

A liquidez, ainda segundo a especialista, também é um ponto a ser considerado na hora de escolher uma plataforma. “Os usuários cripto precisam de liquidez para que possam fazer negócios a qualquer momento. Isso significa que uma corretora deve ter um volume suficientemente alto de ordens fluindo através de seus livros de ordens em qualquer dia da semana”.

Facilidade de uso

Investidores mais novos podem se sentir intimidados por corretoras que exibem, por exemplo, livros de ordens, ou que possuam uma interface complexa com muitos gráficos e outras informações. Uma corretora com uma interface mais simples pode ser uma boa opção para iniciantes, segundo Tatiana.

Autocustódia

Caso o investidor cripto não queira deixar seu patrimônio na exchange, é possível fazer a própria custódia dos ativos digitais em carteiras cripto privadas.

Nesse caso, a especialista afirma que o usuário “assume a responsabilidade pela custódia de suas criptos e tem controle total sobre elas. Isso pressupõe alguns cuidados, como gerenciar suas próprias chaves privadas” e evitar “ataques cibernéticos”.

Uma opção para guardar grandes quantidade de ativos digitais, segundo ela, é via hard wallet, que não fica conectada à internet.

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney