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SÃO PAULO – Quem poderia imaginar, nos primeiros dias do ano, que o Ibovespa teria uma queda de superior a 36% apenas nos três meses iniciais de 2020, a maior baixa da história? De repente, as projeções otimistas para o índice foram jogadas por terra, com boa parte da forte baixa concentrada no mês de março, que se encerrou na sessão desta terça-feira (31).
Se a visão do final do ano passado de analistas de mercado parecia ser positiva para 2020, o começo do ano já foi de turbulência, após ataque dos Estados Unidos no Iraque matar o general Qassem Soleimani, principal comandante militar do Irã, fazendo escalar a tensão entre americanos e iranianos. Isso gerou muita volatilidade no mercado, sendo considerado o primeiro “cisne negro” de 2020, em referência a eventos não esperados pelo mercado.
Porém, o que viria a seguir seria ainda seria mais importante para definir o rumo dos mercados em 2020. O Ibovespa chegou a encostar nos 120 mil pontos nos pregões de 23 e 24 de janeiro, atingindo novas máximas históricas mas, aos poucos, a aversão ao risco começou a tomar conta do mercado por conta do segundo “cisne negro” do ano, que viria com tudo em março para o Brasil.
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Na segunda quinzena de janeiro, ganhou força e impacto entre os investidores a notícia sobre o novo coronavírus que, até então, tinha atingido fortemente a China, principalmente a província de Wuhan.
Naquele momento, até então, o impacto era visto como algo um tanto distante, ainda mais por se tratar de uma doença a princípio menos letal, ainda que mais contagiosa, que a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês), que atingiu o país entre 2002 e 2003 e levou a morte de 774 pessoas. Contudo, dada a importância do país dada a sua posição no ranking de economias globais, as bolsas já foram abaladas.
Porém, o novo coronavírus, que leva à enfermidade denominada Covid-19, teve uma velocidade para se espalhar assustadora, já levando a mais mortes do que a SARS em pouco tempo e demorando apenas um mês para sair da China, enquanto a SARS demorou três meses. Assim, por mais que em números relativos ela não fosse mais letal, em números absolutos a Covid-19 ultrapassou de longe os números da enfermidade de 2002-2003.
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A situação se agravou ainda mais quando ela chegou a outros países, tornando-se notoriamente letal na Itália e se espalhando por outros países como Espanha, França, Estados Unidos, este último se tornando o mais novo epicentro da enfermidade. O primeiro caso no Brasil aconteceu em 26 de fevereiro e, desde então, diversas medidas já foram tomadas para restringir a circulação de pessoas, o que levou a revisões drásticas de números para a economia brasileira, com expectativas de uma forte recessão.
Ações em forte queda
Desta forma, o coronavírus foi sentido fortemente na bolsa brasileira, fazendo com que nenhuma ação do Ibovespa conseguisse fechar o trimestre com ganhos e que um impressionante número de 17 das 73 ações do benchmark da bolsa tivessem queda superior a 50% no período.
Vale destacar, contudo, que a maior baixa do Ibovespa no trimestre não foi de uma ação seriamente impactada pelos efeitos do Covid-19, mas ela acabou sofrendo com o sell-off do mercado já que enfrentava problemas internos. Trata-se do IRB (IRBR3), que viu suas ações caírem 75,15% no acumulado do período: mudanças nos cargos de liderança após afirmações de que a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, tinha comprado ações da companhia, o que foi desmentido depois, questionamentos sobre o balanço e até mesmo uma ação da Polícia Federal vêm abalando a empresa de resseguros desde o início de fevereiro, quando a bolsa ainda não refletia tanto os temores com o coronavírus.
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Já as quedas seguintes refletem bem o cenário da crise atual: CVC (CVCB3), Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) registram baixas respectivas de 74,66%, 69,89% e 69,10%. Por conta da queda da demanda por voos e das restrições de viagens, as companhias tiveram um forte corte da capacidade de operação (confira clicando aqui). A Gol reduziu em cerca de 92% a oferta nos mercados domésticos e 100% nos internacionais, enquanto a Azul cortou sua capacidade em 90% entre 25 de março e 30 de abril. Smiles (SMLS3) também teve queda forte no período, de 68,55%.
Nas últimas sessões, as ações das aéreas até buscaram recuperação em meio à expectativa por medidas do governo para ajudar as companhias, mas as preocupações sobre o impacto do coronavírus nas operações voltaram a afetar o desempenho das ações AZUL4 e GOLL4.
Além disso, vale ressaltar que, no último dia do trimestre, a CVC ainda sofreu na bolsa após divulgar dados preliminares não-auditados considerados negativos para o mercado, adiando a divulgação do resultado completo justamente por conta de indícios de erros contábeis totalizando R$ 250 milhões.
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Enquanto isso, Cogna (CGNA3) e Yduqs (YDUQ3) registraram fortes quedas, com destaque para a primeira, que teve baixa de 65% no trimestre. As companhias do setor também são afetadas diretamente com o coronavírus, dadas as medidas de suspensão de aulas presenciais (ainda que consiga haver uma compensação através de aulas online), e indiretamente em meio à desaceleração econômica, o que pode afetar o ingresso nas universidades. A divulgação dos números do quarto trimestre da Cogna que repercutiram na última sessão do trimestre também não agradaram, fazendo a ação cair cerca de 20% (veja mais clicando aqui).
Também em um movimento curioso, as ações da BRF (BRFS3), companhia que a rigor se beneficiaria com a maior procura por alimentos, viu seus papéis registrarem forte queda de 57,13% no trimestre. No começo de março, os números reportados pela companhia do quarto trimestre de 2019 não agradaram, com os custos mais altos e dados decepcionantes no segmento halal desanimando os analistas, que revisaram as projeção para as ações da companhia. Dessa forma, outras companhias do segmento de proteínas foram colocadas como preferidas, como JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3).
Na sequência, a Cia. Hering (HGTX3), do setor varejista, bastante impactado por conta do fechamento de lojas por conta das restrições à circulação, teve queda de 56,29% de seus ativos no período. Desde o começo do ano, as ações já estavam sofrendo na bolsa, passando a registrar queda ainda mais expressiva diante de dados operacionais considerados decepcionantes até pela própria direção (veja mais clicando aqui). Assim, uma virada, que seria necessária para a companhia, ficou mais difícil em meio ao ambiente macroeconômico bastante negativo que se desenhou após o coronavírus chegar ao Brasil.
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Também do setor, a Via Varejo (VVAR3) também foi muito impactada no período, com queda de 52,73%. “A empresa está passando por um turnaround, tem um negócio muito cíclico e subiu muito nos últimos meses, quando o mercado estava otimista. É razoável que caia tudo isso em meio ao desespero do mercado”, afirma Carlos Herrera, estrategista-chefe da casa de análise Condor Insider, ao InfoMoney (veja mais clicando aqui).
A Petrobras (PETR3;PETR4), antes com boas perspectivas em meio aos desinvestimentos e foco em exploração e produção, viu suas ações desabarem por uma combinação da forte redução da demanda por conta do impacto do coronavírus nas economias globais e de uma guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia, que levou a um aumento da produção do primeiro país. Porém, segundo aponta o Goldman Sachs, nem mesmo um eventual fim da disputa entre os dois países pode evitar excesso de petróleo (veja mais clicando aqui).
Tanto o WTI quanto o brent encerraram hoje o pior trimestre de suas histórias e também seu pior mês. O WTI perdeu mais de 54% de seu valor ao longo de março e mais de 66% neste trimestre, levando-se em conta os contratos mais negociados. O Brent também perdeu mais da metade de seu valor neste mês. Na segunda, os contratos haviam atingido mínimas desde 2002, com o WTI chegando a ser negociado abaixo de US$ 20 o barril.
Neste cenário, a estatal teve que rever o seu plano de negócios: a companhia adiou pagamento de dividendos, reduziu investimentos em US$ 3,5 bilhões e cortou produção. Segundo Roberto Castello Branco, presidente da companhia, o impacto global causado pela pandemia de coronavírus pode resultar na pior crise do setor de petróleo em 100 anos.
Outras ações do Ibovespa (totalizando 17) perderam pelo menos metade de seu valor de mercado apenas no primeiro trimestre deste ano. Confira abaixo:
Empresa | Ticker | Preço | Desempenho |
IRB | IRBR3 | R$ 9,68 | -75,15% |
CVC | CVCB3 | R$ 11,10 | -74,66% |
Azul | AZUL4 | R$ 17,55 | -69,89% |
Gol | GOLL4 | R$ 11,37 | -69,10% |
Smiles | SMLS3 | R$ 12,35 | -68,55% |
Cogna | COGN3 | R$ 4,00 | -65% |
BRF | BRFS3 | R$ 15,09 | -57,13% |
BTG Pactual | BPAC11 | R$ 33,24 | -56,34% |
Cia. Hering | HGTX3 | R$ 14,88 | -56,29% |
Petrobras (ON) | PETR3 | R$ 14,14 | -55,81% |
Petrobras (PN) | PETR4 | R$ 13,99 | -53,64% |
Yduqs | YDUQ3 | R$ 22,17 | -53,33% |
Via Varejo | VVAR3 | R$ 5,28 | -52,73% |
Cyrela | CYRE3 | R$ 14,13 | -52,41% |
Embraer | EMBR3 | R$ 9,54 | -51,65% |
Ultrapar | UGPA3 | R$ 12,53 | -50,82% |
CSN | CSNA3 | R$ 6,98 | -50,53% |
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