Ações da Via Varejo já despencaram 65%, mas analistas e gestores seguem otimistas

O temor dos investidores que estão vendendo os papéis é de que a empresa enfrente uma crise de caixa. Mas especialistas apontam uma situação diferente

Letícia Toledo

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SÃO PAULO – O agravamento da crise de coronavírus atingiu em cheio as varejistas na Bolsa e uma das mais afetadas foi a Via Varejo. Os papéis (VVAR3) caíram 31,53% nesta quarta-feira (18). Desde o início da atual crise, no dia 06 de março, a ação já perdeu 65,6% de seu valor, ante a queda de 38,1% do Ibovespa no mesmo período.

“A empresa está passando por um turnaround, tem um negócio muito cíclico e subiu muito nos últimos meses, quando o mercado estava otimista. É razoável que caia tudo isso em meio ao desespero do mercado”, afirma Carlos Herrera, estrategista-chefe da casa de análise Condor Insider.

A gestão atual, que tem Roberto Fulcherberguer como CEO, assumiu a companhia em meados do ano passado e, desde então, se concentrou em resolver os diversos problemas encontrados no e-commerce e nas lojas físicas.

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Alguns investidores chegaram a criticar a empresa nos últimos meses pela falta de um plano mais robusto e agressivo para enfrentar a concorrência.

A maior preocupação desses investidores agora, no entanto, é bem pontual: está concentrada nas linhas financeiras da Via Varejo, mais especificamente em sua liquidez.

No fim do terceiro trimestre de 2019, último dado disponível, a companhia possuía R$ 1,4 bilhão em caixa, enquanto as dívidas que vencem ao longo deste ano totalizam R$ 1,7 bilhão.

Mas especialistas consultados pelo InfoMoney não veem essa questão como um problema, ou seja, acreditam que haverá caixa suficiente para quitar todas as dívidas ao longo do ano.

“A liquidez não é um problema. A empresa tem muitos recebíveis de cartão de crédito que podem ser adiantados. Ela pode negociar também os preços e prazos com fornecedores e com os bancos caso a situação se agrave”, explica Paulo Ghedini, sócio da gestora Perfin Asset, que possui ações da varejista.

“Em nossa opinião, o balanço de 3T19 não reflete de forma adequada a fotografia mais atual da situação patrimonial da companhia pois desconsidera o desempenho do 4T19, sazonalmente o mais relevante, em um momento de turnaround da companhia”, afirmam analistas da casa de análise Eleven Financial em relatório divulgado nesta quarta-feira.

A desvantagem no e-commerce

Um agravante que passou a fazer parte da conta dos investidores nesta quarta-feira é a restrição de circulação de pessoas. A maioria dos analistas não considerava o fechamento de lojas e restrição de circulação de clientes como algo provável. Surpreendeu, portanto, a notícia de que de que o governo de São Paulo anunciou o fechamento de todos os shoppings.

Com as lojas fechadas, a tendência é que parte das compras migre para os sites e, entre as maiores varejistas do país, a Via Varejo ainda tem um e-commerce mais fraco.

“Na Via Varejo a nova gestão passou os últimos trimestres resolvendo problemas no site e no aplicativo. A operação hoje está bem melhor, mas em termos de variedade de produtos e vendas, as outras companhias ainda são muito maiores”, afirma Pedro Fagundes, analista da XP Investimentos.

“O Magazine Luiza, por exemplo, tem o dobro de vendas online da Via Varejo”, completa.

A recomendação das ações

Para a maioria dos analistas, diante do cenário atual, as ações devem continuar enfrentando maior volatilidade. “A nossa maior preocupação hoje é com as vendas no curto prazo”, explica Fagundes.

Mas eles garantem que a crise é pontual e, no longo prazo, o cenário continua positivo. “O mercado está em pânico no momento, mas a companhia está bem preparada para lidar com as adversidades. Além disso, quando a quarentena passar, as vendas devem ter uma alta brusca, por conta da demanda reprimida”, afirma Herrera, da Condor.

“O trabalho dentro de casa, de turnaround, vai continuar sendo feito apesar da crise. Óbvio que vamos ter que rever expectativa de receita especificamente nesse ano, mas o longo prazo não muda. O resultado desse trabalho que a gestão vem fazendo virá”, explica Ghedini, da Perfin.

Com a queda desta terça-feira, o papel fechou o dia a R$ 5,02. Antes de a crise se agravar, analistas consultados pelo InfoMoney recomendavam a compra do papel com preço-alvo entre R$ 16,00 e R$ 17,00.

A recomendação se mantém, mas a maioria colocou o preço em revisão. A exceção é a Eleven Financial, que em relatório desta quarta-feira reiterou a compra e o preço-alvo a R$ 16,20.

“Mesmo reconhecendo que o COVID-19 terá impacto significativo nas vendas do varejo em geral ao longo de 2020 e no desempenho da Via Varejo especificamente, entendemos que o patamar de preço atual representa um atraente ponto de entrada para esta ação pois não enxergamos risco de insolvência para Companhia”, afirmam os analistas da Eleven em relatório.

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.