Tendência de consolidação

Ampliação de cobertura de procedimentos reforça pressão de custo das operadoras de saúde; quem deve se sair melhor?

Medida que acaba com “rol taxativo” da ANS se soma ao piso salarial da enfermagem nos custos que as empresas tendem a enfrentar

Por  Mitchel Diniz

O horizonte é de alta de custos para as operadoras de planos de saúde. De acordo com analistas que acompanham as empresas do setor, a pressão tende a aumentar com uma maior cobertura de procedimentos pelos convênios médicos. Ontem (29), o Senado aprovou o projeto de lei (PL) 2.033, que derruba o chamado “rol taxativo” da Agência Nacional de Saúde (ANS). Na prática, os planos teriam de cobrir tratamentos e exames que antes estavam de fora da lista de cobertura obrigatória. O PL ainda precisa da sanção presidencial para se tornar lei.

Contudo, na avaliação do Goldman Sachs, as empresas tendem a sentir a medida de formas diferentes. “Acreditamos que empresas de plano de saúde integradas verticalmente, como Hapvida (HAPV3) devem enfrentar menos pressão de custo do que o restante do setor, dada sua habilidade histórica de controle bem definido de protocolos e alinhamento de incentivos”, escreveram os analistas.

Por outro lado, o Goldman acredita que, no longo prazo, a proposta de ampliação da cobertura de procedimentos deve impactar a sustentabilidade de algumas companhias. Diante disso, a consolidação do setor poderá acelerar em favor de modelos de negócio com custos baixos e larga escala, que é o caso de Hapvida. Por conta disso, os analistas avaliam a medida como neutra para empresa, que tem recomendação de compra pelo Goldman Sachs e preço-alvo de R$ 10 (potencial de valorização de 30,3% na comparação com o fechamento de ontem).

“Ainda que a companhia vivencie uma pequena pressão de custos no curto prazo, o impacto em potencial para os competidores deve ser maior, levando a uma maior consolidação do setor”, diz a análise do banco. O Goldman, porém, ressalta que o efeito da medida sobre a lucratividade das empresas ainda é incerta, mas afirma que espera repasse de custos. “Esperamos preços de plano de saúde mais altos para compensar, parcialmente, esse ambiente de custos mais altos”.

De qualquer força, a empresa está exposta ao risco da deterioração do cenário macroeconômico e um cenário de alta do desemprego, o que poderia impactar as adições líquidas de beneficiários.

O Credit Suisse também acredita que as operadoras não-verticalizadas tendem a ser mais impactadas negativamente. “[A medida] torna a lista obrigatória na ANS inócua, fazendo que os operadores privados assumam a cobertura de qualquer tratamento eficaz”, ressaltaram os analistas.

Para o Credit, derrubar o rol taxativo da ANS adiciona uma camada de incertezas nos cálculos atuariais das operadoras, agravado por uma possível preferência por opções terapêuticas de maior custo. “Uma compensação seria necessária levando a um aumento no nível dos tíquetes, que já estão sob pressão”, diz o relatório do banco.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Setor já vem enfrentando pressão de custos

Masterclass
As Ações mais Promissoras da Bolsa
Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

A Levante Ideia de investimentos lembra que o segmento de saúde já trabalhava com uma perspectiva de custos mais altos, com o aumento do salário-base dos profissionais de enfermagem. O piso nacional já foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro e por enquanto não há medidas de compensação.

“Apesar de a medida estar sendo judicializada e buscando aprovar projetos de lei que desonerem a folha de pagamento, as incertezas sobre os rumos do setor aumentaram com o novo parecer do Senado”, escreveram os analistas. A Levante explica que a maior parte das operadoras (aproximadamente 80%) não possui recursos para arcar com um novo rol de procedimentos e o projeto aprovado pelo Congresso enfraquece o trabalho da ANS.

“Recentemente destacamos que o aumento ao piso-base dos enfermeiros, apesar de afetar o setor como um todo, pode aumentar a concentração em empresas que possuam maior verticalização. Entretanto, associando essa ao recém-aprovado (simbolicamente) [fim do rol taxativo], os níveis de incerteza quanto aos rumos do setor aumentam”, diz o relatório.

Ainda na avaliação da Levante, as medidas tendem a retrair os efeitos positivos do recente reajuste no preço dos planos de saúde e os bons resultados do segundo trimestre, divulgados pelas operadoras. Na visão dos analistas, um eventual repasse de custos na mensalidade dos planos também tende a contribuir com uma redução de base de usuários de planos individuais, que corresponde a cerca de 20% da base de beneficiários das empresas.

“O principal player que delineamos em perspectiva mais sólida ao período foi Hapvida, mas, em contraposição, seus pares, Rede D’or (RDOR3) e Fleury (FLRY3), forneceram resultados pouco favoráveis”, afirmam os analistas.

Leia mais: Rede D’Or (RDOR3) e Hapvida (HAPV3): 2º tri testou sinergias na saúde e mostrou que ainda há espaço para aquisições

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“Com a nova conjuntura, essa dinâmica pode ser alterada. E isso porque, enquanto a elevação ao salário-base de enfermeiros afeta o setor como um todo, o rol taxativo afeta operadoras de saúde e beneficia hospitais pelo aumento no número de procedimentos. Dessa forma, a circunstância prejudica o primeiro e beneficia os dois últimos”, conclui a Levante.

Oportunidade de compra? Estrategista da XP revela 6 ações baratas para comprar hoje. Assista aqui.

Compartilhe