Além do lucro: como analisar os balanços de empresas de tecnologia na Bolsa?

Especialistas da Mauá Capital e da XP mostram quais são os principais dados aos quais investidores devem se atentar ao analisar os resultados das techs

Laís Martins

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SÃO PAULO – “Participei de vários roadshows [reuniões que apresentam novas companhias para oferta de mercado] de empresas de tecnologia e a pergunta que sempre surgia era: se o seu produto é bom e você tem a oportunidade de desenvolvê-lo ainda mais, por que está pensando no lucro agora?”.

É assim que Lucas Chaise, analista de empresas de tecnologia da XP, questionou, em live no Instagram do InfoMoney, por que os investidores olham apenas para o lucro registrado por essas empresas durante a sua temporada de balanços.

“Para as techs, que geralmente trazem algo novo para a indústria, gerar lucro, neste momento inicial após a abertura de capital na Bolsa [IPO], seria abrir mão de crescimento.”

Isso porque o mercado está cada vez mais rápido e com novas tecnologias. Quando uma companhia lança uma ferramenta, há chances de o produto alcançar diversos usuários em um intervalo curto de tempo. E, assim, surge a necessidade de aperfeiçoamento e desenvolvimento, também para evitar que concorrentes substituam esse produto.

Para entender melhor essa lógica, é preciso conhecer o processo de consolidação das startups no mercado. Essas empresas captam investimentos, geralmente com fundos de risco (venture capital) e utilizam os recursos para crescer mais rapidamente e se tornarem eficientes.

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A partir do momento em que essas novas empresas atingem um alto nível de desenvolvimento e de captação de clientes, elas começam a lucrar de fato.

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“Esse processo pode levar anos. Talvez o lucro não venha no primeiro ano, nem mesmo em cinco anos. E o investidor precisa dessa nova visão que é: tolerar que uma empresa queime caixa para expandir a base de clientes e se consolidar no mercado para, no longo prazo, monetizar o produto e lucrar”, diz Chaise.

Índices para serem analisados nos balanços de tecnologia

Durante a temporada de balanços corporativos do primeiro trimestre de 2021, duas empresas de tecnologia chamaram atenção dos investidores: Enjoei (ENJU3) e Méliuz (CASH3).

A Enjoei viu seu prejuízo subir de R$ 1,3 milhão para R$ 31 milhões no primeiro trimestre de 2021 na comparação anual. Já o Méliuz teve queda de 51,2% do lucro na comparação anual, de R$ 6,2 milhões para R$ 3,01 milhões.

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No caso dessas empresas, que são do setor de e-commerce, Chaise aponta que é importante analisar o GMV (gross merchandise volume, em inglês), ou o volume bruto de mercadorias.

“Esse indicador mostra quanto essas empresas negociam dentro do site ou em seu ecossistema. Também é importante olhar a receita, e não o lucro, porque ela mostra quanto a empresa está gerando perante o seu market cap, ou seja, quanto ela vale na Bolsa”, explica.

A Enjoei registrou um GMV 104% maior, de R$ 172 milhões, e sua receita líquida foi a R$ 24,2 milhões (crescimento de 54%). A Méliuz, por sua vez, viu seu volume bruto de mercadorias ter alta de 93% na base anual, para R$ 2,9 bilhões no trimestre. Já a receita líquida subiu 63,7%, a R$ 51,81 milhões.

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Para a análise de empresas de tecnologia, Chaise indica um tipo de análise diferente: “É preciso medir o EV/Sales, que corresponde ao valor da empresa [enterprise value, em inglês] divido pelas vendas que ela realizou. Esse indicador é ótimo para empresas em fase de crescimento acelerado de vendas, quando custos operacionais superam o lucro”.

Além disso, o analista aponta o indicador LTV (lifetime value, em inglês), ou o valor vitalício da companhia. Esse marcador mostra quanto o cliente deixa de receita para a empresa durante toda a sua vida e compara com o custo de aquisição desse cliente.

Se essa relação for positiva, é comum que as companhias queimem caixa para aumentar a base de consumidores.

Os riscos de investir em startups

Carolina Ujikawa, analista-chefe da Mauá Capital, também participou da live mediada por Ana Laura Magalhães (a Explica Ana) e apontou um dos principais riscos que as empresas de tecnologia já listadas podem enfrentar: a inflação global.

Com a expectativa de alta da inflação no mundo, as taxas de juros devem aumentar. E as empresas que esperam uma geração de caixa robusta para o futuro ficam reféns dos juros. Assim, quando os analistas trazem esse valor futuro para o presente descontando os juros e mantendo as perspectivas de desenvolvimento do negócio, o crescimento da empresa diminui.

Logo, Ujikawa explica que há um medo de os modelos de crescimento dessas companhias serem revisados e impactarem os preços de hoje.

“Esse mercado depende de fatores futuros que são pouco previsíveis. Mas, mesmo com esse risco, a Mauá tem na carteira dos fundos ações do Banco Inter (BIDI11), Bemobi (BMOB3), Locaweb (LWSA3), Magalu (MGLU3) e Méliuz (CASH3). Acreditamos que essas empresas podem apresentar bons resultados no futuro”, finaliza.

E Agora, Ana?

O programa “E Agora, Ana?” vai ao ar às quartas-feiras, às 12h, no Instagram do InfoMoney. A série de lives, apresentadas pela especialista em investimentos Ana Laura Magalhães, convida gestores, analistas e economistas para trazer informação relevante para o investidor brasileiro se posicionar nos mercados local e internacional.

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Laís Martins

Analista de Conteúdo no InfoMoney. Formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e com passagens pela Globo e UOL. Cria conteúdos sobre investimentos, finanças, economia, mercados e tecnologia