Ações de crescimento sobem e de commodities caem na semana, mas ainda é cedo para falar em mudança no mercado

Recuo de commodities diminuiu pressão sobre inflação e impulsionou empresas de varejo e techs, mas analistas afirmam ser prematuro apontar tendência

Lara Rizério Vitor Azevedo

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Em uma nova semana de queda para o Ibovespa, a quarta seguida, com os temores sobre uma recessão global ganhando força, as ações de crescimento, que sofrem com uma forte pressão vendedora durante o ano, registraram ganhos, ainda que fechando em queda na sessão desta sexta-feira (24).

Foi o caso de Locaweb (LWSA3), Méliuz (CASH3), Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3), Petz (PETZ3) e Americanas (AMER3), que tiveram desempenhos positivos na semana, ainda que as custas de muita volatilidade. LWSA3 subiu 11,86%, MGLU3 teve alta de 3,78%, VIIA3 avançou 2,71%, PETZ3 teve avanço de 2,67% e AMER3 avançou 1,48%.

Por outro lado, entre as maiores quedas do Ibovespa na semana, estiveram diversos papéis de commodities, como as ações ordinárias da SLC Agrícola (SLCE3), com menos 14,81%, as da CSN Mineração (CMIN3), com menos 8,41% e as da 3R Petroleum (RRRP3), com queda de 6,97% – todas do setor de commodities. Vale (VALE3), por sua vez, teve queda de 3,60%.

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Após o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no Senado americano e da falas de outros dirigentes, cresceu o temor de que o aperto monetário possa levar a economia norte americana à recessão. Na esteira do tom negativo dos EUA, os dados de inflação do Reino Unido e da União Europeia reforçam a elevação de tom sobre os juros pelos banco centrais europeus.

A alta de juros sincronizada deve intensificar a desaceleração global, com implicações negativas para os preços das principais commodities. Porém, há implicações de queda para as taxas de juros com vencimentos mais longos, o que chegou a impulsionar as ações de crescimento no acumulado da semana, principalmente no exterior, com a queda dos rendimentos dos títulos dos EUA, enquanto os ativos de commodities tiveram queda no período.

Contudo, para Alexandre Andreazzi, sócio da Alta Vista Investimentos, ainda é cedo para saber se a leve recuperação registrada nesta semana para as ações de crescimento é uma tendência.

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Para o especialista, por mais que a expectativa de muitos é de que a última alta de juros feita pelo Comitê de Política Monetária (Copom) seja na próxima reunião, levando a Selic para 13,75% ao ano, é preciso ficar atento aos dados de inflação, ainda resiliente. Foi o caso do IPCA-15 de junho, apresentado nesta sexta e que veio levemente acima do esperado, mostrando alta de preços ainda bastante disseminada, o que também impulsionou a alta das taxas de juros nesta sexta. O Banco Central, por sinal, deu diversas sinalizações durante a semana de que, mesmo se parar de subir os juros, eles continuarão em patamares elevados por um bom período de tempo em meio à persistência da inflação.

Somados as essas indicações, apesar da queda nas Treasuries, os temores com a política fiscal local, com o governo anunciando novos gastos para conter os efeitos da inflação elevada, levaram à curva de juros local a subir na semana, com sessão de estresse nesta sexta-feira, aponta a Nova Futura Investimentos.

Além disso, “uma questão que é importante ficar atento, mesmo que aqui esteja no fim do ciclo de alta de juros é que, se lá fora tiver uma recessão, não tem como não respingar no Brasil”, avalia.

Já com relação a commodities, apesar da alta desta sexta, a semana foi de baixa de 11% para o minério de ferro negociado na Bolsa de Dalian, também refletindo os temores com a desaceleração da economia chinesa, enquanto o petróleo registrou a sua segunda semana seguida de queda, aprofundando a baixa de mais de 7% registrado na semana passada. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o barril do WTI para agosto subiu 3,21%, a US$ 107,62, na sessão, mas acumulou perda semanal de 0,34%. Já o do brent subiu 2,80%, a US$ 109,10 nesta sexta, mas caiu 3,55% na semana.

Para Andreazzi, as commodities já estão precificando a algumas semanas uma maior chance de recessão nos EUA, mas a grande dúvida é sobre se a recessão será leve ou mais profunda.

Historicamente, aponta, a Bolsa americana tende a corrigir na faixa de 30% neste cenário de recessão, sendo que  o S&P500 chegou muito próximo de 25% de queda.

“Mas é difícil saber se é hora de comprar ações de commodities, justamente pela incerteza sobre o impacto da recessão. O ideal é ir comprando aos poucos. Vimos papéis [de commodities] que em 12 pregões caíram quase 30%, empresas que divulgaram bons resultados, pagam dividendos. Então o ideal é separar o valor que vai ser destinado a essas ações e ir comprando gradativamente, pois é impossível neste cenário saber quando é o fundo do poço ou não”, avalia.

Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos, explica que, quando o assunto são ações de varejistas e de companhias de crescimento, a tendência de baixa das commodities tende trazer impulsos positivos – a perspectiva de uma inflação menor, causada pela queda do preço dos insumos, tende a tirar a pressão altista das taxas de juros.

“Ajuda a reforçar a percepção do mercado que o Brasil está no fim do seu ciclo de aperto monetário e que, lá fora, não seja necessário altas tão fortes”, diz Moura. “Empresas de varejo e de crescimento são muito sensíveis a variações de taxas de juros. Companhias de crescimento mantêm seus fluxos de caixa em períodos muito longos. Empresas de varejo estão associadas ao ciclo de crédito e à atividade econômica local”.

Ele também corrobora, porém, que ainda é cedo para afirmar que as recentes movimentações são tendências consolidadas. “Esse fluxo pode ser algo pontual. É natural que esses os ativos apresentem correções técnicas após as altas e quedas expressivas que ocorreram nos últimos meses”, explica, mencionando tanto as companhias de commodities como as de varejo e crescimento.

Revisitando projeções

O Bradesco BBI, em meio a temores com a economia americana e com a desaceleração da atividade chinesa – mas também atento ao ambiente doméstico -, revisitou recentemente as suas preferências para as companhias do setor de petróleo e gás.

A Vibra (VBBR3) foi eleita como a preferida dos analistas do setor no momento uma vez que, entre outros motivos, caso se confirme uma desaceleração econômica nos EUA e na China, os preços dos combustíveis provavelmente terão uma queda, acrescentando algum alívio para o capital de giro e também para as margens da empresa. A recomendação é outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra), com preço-alvo de R$ 34 (ou potencial de alta de 95% frente o fechamento de quinta-feira).

A “segunda preferência” agora é pelas ações da 3R Petroleum (RRRP3), com recomendação outperform e preço-alvo de R$ 111 (upside de 227%). Os analistas destacam que, junto com a Petrobras (PETR4), a 3R teve o pior desempenho de ações nos últimos 30 dias entre as companhias de petróleo, quando os papéis do setor pelo mundo tiveram uma correção com os temores sobre a economia dos EUA e possível impacto na demanda de petróleo, além de maior aversão ao risco com ameaças de impostos inesperados sobre os lucros na América do Norte.

Globalmente, num cenário em que os preços do petróleo possam corrigir e as taxas de juros continuem subindo, empresas que têm uma agenda de fusões e aquisições e investimentos de capital (capex) mais intensa pela frente sofreram mais.

Assim, embora a empresa tenha que garantir seu financiamento para adquirir o Polo Potiguar em meio a condições
econômicas mais difíceis (um marco importante), o preço de suas ações teve um desempenho muito fraco recentemente e seu valuation agora é barato, enquanto os analistas também veem um impulso operacional e de governança positiva. Por outro lado, Petrobras (PETR4) saiu da sua lista de preferidas.

Para o setor de mineração e siderurgia, o Bradesco BBI reforça otimismo e destaca siderúrgicas, tendo preferência por Gerdau (GGBR4), mas também possuindo recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3).

“Embora seja improvável que as restrições na China relacionadas ao Covid-19 se dissipem totalmente no curto prazo, acreditamos que o governo chinês adotará uma abordagem mais pragmática para fornecer um crescimento razoável do PIB em 2022 (por exemplo, testes em massa e bloqueios mais direcionados e mais curtos)”, apontam os analistas. Além disso, medidas de estímulo a infraestrutura, habitação e indústria devem fornecer suporte à demanda de aço, reforçam.

Para Vale (VALE3) e CSN Mineração (CMIN3), as recomendações também são equivalentes à compra, mas as siderúrgicas são preferidas.

Já o Morgan Stanley aponta que as recomendações para os ADRs das mineradoras Vale e para os ativos CMIN3 é equalweight (exposição em linha com a média do mercado, ou equivalente à neutra). Nesta semana, os analistas do banco reduziram os preços-alvo para os ADRs VALE de US$ 22 para US$ 16, enquanto para CMIN3 foi reduzido de R$ 6,50 para R$ 5,30.

Na visão dos analistas do banco americano, o crescimento global ainda enfraquecido continuará a pesar nas ações de mineração um pouco mais, antes que a aceleração econômica na China mude o cenário.

Além de diminuir as expectativas de crescimento, os recentes lockdowns na China, por conta da política da Covid zero, aumentaram consideravelmente os estoques de aço e minério. “Os metais básicos se desconectaram do complexo de commodities mais amplo, pois os bloqueios na China (que compra de 50 a 60% da produção da maioria dos metais) impactaram a produção industrial e na demanda final, enquanto a produção de aço e alumínio continuou”, explicaram os analistas do banco americano.

Do lado das varejistas, o Morgan Stanley também continua cauteloso. Para Magazine Luiza e Americanas, a exposição é equalweight (em linha, equivalente à neutra), enquanto para Via é underweight (exposição abaixo, equivalente à venda).

Na mesma linha, a XP destacou ainda não recomendar compra dos papéis do segmento de e-commerce, possuindo recomendação neutra para ações de Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3).

Os analistas da corretora seguem com expectativa de uma dinâmica macroeconômica bastante desafiadora pela frente, tanto do ponto de vista de inflação (que deve se manter próxima a patamar de duplo dígito ao longo do ano) como de taxa de juros (com pelo menos mais uma alta esperada no Brasil e um ciclo ainda por vir nos EUA).

Neste cenário de recessão nos EUA, os especialistas acreditam que a economia brasileira não vai passar impune e está fadada ao mesmo destino. Além de ser um país emergente e historicamente sofrer mais em tempos de aversão ao risco, o Brasil também passa por uma eleição presidencial, o que aumenta as incertezas em torno do País.

Vendido no setor de consumo

Em podcast do Stock Pickers (veja o vídeo abaixo) Felipe Guerra, sócio-fundador e CIO da Legacy, e Carlos Woelz, diretor e sócio-fundador da Kapitalo, destacaram como estão posicionados no mercado em meio ao cenário cada vez mais forte de de desaceleração econômica global.

Guerra conta que a Legacy busca estar mais vendida do que comprada na bolsa brasileira, principalmente no setor de consumo. “É um cenário péssimo para bolsa, tem que ter um portfólio que se beneficia com os juros mais alto por muito tempo”, destacou.

Na Kapitalo, Woelz conta que possui algumas empresas em seu portfólio, como Petrobras (PETR4) e Suzano (SUZB3). Ele destaca que a Petrobras já precifica um cenário de governança bastante ruim e que vê chance de algum acerto para lidar com a alta dos combustíveis que não afete os acionistas, principalmente pelo fato de que a União fica com boa parte da arrecadação por dividendos e tributos.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.