IPCA-15 de junho não traz alívio e mostra inflação ainda bastante disseminada, avaliam analistas

Ainda que tenha avançado em menor ritmo do que em meses anteriores, núcleos da inflação seguem elevados

Mitchel Diniz

Cálculo de impostos (Foto: Steve Buissinne/Pixabay)

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A prévia do índice de preços ao consumidor amplo (IPCA-15) registrou variação positiva de 0,69% em junho na base mensal, um pouco acima do consenso do mercado (que projetava alta de 0,62%), mas ainda assim foi um avanço bem mais contido, comparando com o comportamento do índice nos primeiros meses deste ano. De qualquer forma, analistas veem no indicador a persistência da inflação e também sua disseminação.

Para Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest, o indicador não trouxe alívio e reforçou preocupações sobre composição da inflação.

“Do lado de alimentação e combustíveis tivemos um alívio da pressão de oferta. Nos combustíveis é temporário, pois o reajuste da Petrobras PETR4 deve impactar número fechado de junho e principalmente julho”, explica.

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Chama a atenção também o avanço dos serviços subjacentes, que passou para 0,86%, de 0,75%.

A AZ Quest projetava alta de 0,65% para o IPCA-15. Mirella aponta as passagens aéreas, que subiram 11,36%, como grande vilão do índice na prévia de junho. “Porém é um item muito volátil, que não fala muito sobre tendência”, diz.

A economista para Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho, observa que itens que compõem médias de núcleo do Banco Central continuam subindo de forma expressiva. Além dos serviços subjacentes, os industriais subjacentes, que subiram quase 1%.

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“O setor de transportes pressionou não pelo lado do combustível, mas por serviços e itens relacionados ao setor automotivo. Os preços de automóveis novos e usados, assim como autopeças, vieram bem acima do esperado, tal qual as passagens aéreas”, afirma Laíz.

A economista do BNP Paribas explica que, mesmo com a inflação voltando para patamares um pouco mais baixos do que os vistos desde o início do ano, a composição do IPCA ainda é “muito ruim”. “Quase todos os núcleos estão acima de 10% na comparação anual”, diz.

O BNP Paribas segue acreditando que o IPCA termine 2022 em 10% e projeta mais duas altas de 50 pontos base na Selic. Sendo assim, a taxa de juros terminaria o ano em 14,25%.

“A inflação seguiu com um perfil bastante disseminado, abaixo de maio, mas ainda elevada para os padrões históricos. Em junho, a difusão alcançou quase 69%, vindo de 75% em maio”, observa João Savignon, economista da Kínitro Capital.

Segundo ele, a média dos núcleos vindo acima do dado cheio indicam que o alívio na inflação corrente segue concentrado em itens voláteis.

A Kínitro Capital projetava IPCA-15 de junho ainda mais alto do que o índice veio, com variação positiva de 0,72%. Para o IPCA fechado de junho, a previsão da Kínitro é de alta de 0,7% em relação a maio. Para o fechamento de 2022, a projeção está em 8,1% atualmente.

“Por mais que o pico da inflação tenha ficado para trás, o IPCA deverá ficar num platô de dois dígitos até o 4T22”, afirma Savignon.

O Goldman Sachs também destaca, em análise, que a inflação estão não só elevada, mas altamente disseminada. O banco prevê que o IPCA se mantenha acima de 10% até outubro de 2022 e acima de 8% até março de 2023. As pressões inflacionárias devem ser mantidas no curto prazo, como reflexo de um choque amplo e duradouro nos preços das commodities e outros custos de produção.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo,  também destacou que, mais uma vez, a inflação dá uma notícia ruim. “O resultado de hoje, não só superou as expectativas do mercado, mas mostrou um qualitativo que permanece negativo. Dentre os grupos, apesar da melhora na inflação de alimentos, vimos dados ainda bem ruins para vestuário, saúde e cuidados pessoais, artigos de residência e transportes”, aponta.

Segundo Mercadante, o que mais gera preocupação, entretanto, são as medidas de inflação subjacente. “Os núcleos ainda se mantém bastante elevados, bem como serviços e produtos industriais subjacentes. Essas medidas, que excluem os itens mais voláteis são aquelas que o Banco Central tem estado mais atento, dado que são mais difíceis de serem controladas.”

O Goldman Sachs acredita que o Copom eleve a Selic em 50 pontos base na reunião de agosto, levando em conta o cenário desafiador de inflação e a sinalização hawkish do Federal Reserve, fatores que levam a uma “calibração conservadora” da política monetária.

Já a XP, que quase acertou na projeção de alta de 0,68% para o IPCA-15 de junho, acredita que a média dos núcleos da inflação tenha alcançado o pico em junho. Mas também vê uma pressão para o IPCA fechado de junho, já que itens que se repetem no índice vieram maiores que o esperado, em especial as passagens aéreas.

“Entretanto, com a sanção do PLP 18, medida que diminui impostos de energia elétrica, gás natural, combustíveis, telecomunicações e transportes coletivos, vamos incorporar no nosso cenário estes impactos que têm caráter deflacionário e a projeção do IPCA de 2022, atualmente em 9,2%, deve cair para próximo de 7,0%”, escreveu a economista Tatiana Nogueira.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados