Urbanismo

Por que o mercado imobiliário pode se tornar mais democrático

Como a disseminação do home-office está mudando a organização das cidades, na visão do presidente da imobiliária Lopes

“A pandemia transformou a vida das pessoas e isso pode trazer impactos para a organização das cidades. Parte dessas mudanças veio para ficar, algo que pode ser bastante saudável para a sociedade e o mercado imobiliário.

O home-office não é algo novo, claro, mas o coronavírus levou empresas que nunca tinham cogitado esse sistema a adotá-lo.

Ainda que a vida no escritório seja importante, que o contato pessoal seja necessário, ficou evidente que há vantagens no home-office, como a economia de tempo e o fim das viagens desnecessárias que aconteciam simplesmente por hábito.

Acredito que deveremos ter um modelo mais flexível de trabalho daqui para a frente. Isso tem um impacto relevante no mercado imobiliário.

As pessoas estão valorizando mais os espaços onde vivem porque passam mais tempo neles.

Quem tem condições financeiras está comprando imóveis maiores e casas – a busca por casas nos nossos sistemas de venda de imóveis aumentou 217% de fevereiro a novembro de 2020. A procura por imóveis no interior também disparou.

Além disso, os projetos imobiliários passaram por uma revisão. Os prédios de apartamentos menores começaram a oferecer salas que podem ser usadas como escritórios nas áreas comuns, para os moradores trabalharem com menos interferência. O que ajuda a resolver a vida de quem não tem condições de se mudar para um lugar maior.

Também vejo o mercado imobiliário se tornando mais democrático e inclusivo.

Localização sempre será algo valorizado nesse setor: é impossível, por exemplo, replicar um apartamento localizado bem de frente para o mar ou para um parque, com vista privilegiada. Por isso, seu preço sempre será maior do que o de um imóvel que fica a algumas quadras dali.

Mas a ampliação do home-office está tornando possível – e até atraente – morar em regiões mais afastadas dos bairros centrais, ou mesmo dos grandes centros urbanos.

Muitas pessoas podem abrir mão de localização e, com isso, conseguem comprar imóveis pagando preços que cabem em seus orçamentos.

A queda dos juros, que estão em níveis historicamente baixos no Brasil, também tem desempenhado um papel relevante ao permitir que mais pessoas comprem um imóvel.

A renda necessária para fazer um financeiro imobiliário e comprar um apartamento de 90 metros quadrados há dois anos era 50% maior do que a exigida hoje. As taxas mais baixas compensaram o estrangulamento da massa salarial gerado pelo desemprego.

Se as condições macro permitirem e os juros continuarem baixos num ambiente de recuperação econômica, teremos condições de ver um mercado imobiliário extremamente pujante, com o progressivo aumento da base de possíveis compradores.”

depoimento a Giuliana Napolitano