Sociedade

Diversidade: o desafio de transformar o discurso em prática

"Ter diversidade é contar com ideias diferentes, em cenários inimagináveis e, consequentemente, ter mais chances de inovar", diz a consultora especializada em liderança e inclusão

“Discutir diversidade é falar sobre sustentabilidade. As empresas e os investidores já entenderam isso há algum tempo e seguem as tendências do mercado financeiro global. A percepção sobre esse conceito só cresce e, em 2020, alcançou seu ápice.

O branco, o negro, a população LGBTQIA+, os portadores de necessidade especiais, as mulheres, as mães, os homens. Todos são consumidores e querem se ver representados nas marcas que consomem.

Ter mais diversidade “dentro de casa” em um cenário tão competitivo amplia as chances de uma marca ser considerada no processo de compra. Adicionalmente, ter diversidade é contar com ideias diferentes, em cenários inimagináveis e, consequentemente, ter mais chances de inovar.

Uma das muitas tristezas dessa pandemia foi que as mulheres perderam participação no mercado de trabalho — atingindo o menor nível em 30 anos, segundo o IBGE.

Entre aquelas que conseguiram manter seus empregos, muitas tiveram que conciliar carreira, trabalho doméstico e cuidados com a família.

As empresas precisam pensar em medidas para apoiar e dar suporte para essas mulheres, com iniciativas como carga horária diferenciada, horário flexível e meio período, além do home office (para redução do tempo que gastam no trânsito).

A presença das mulheres no mercado de trabalho é essencial para compor a diversidade e garantir a representatividade. As mulheres não têm receio de fazer perguntas, de olhar com mais atenção para as necessidades humanas e, com muito mais habilidade e sensibilidade, conectam negócios, áreas e pessoas.

Quando falamos de diversidade pelo mundo, os países e as empresas da União Europeia estão mais adiantados. Perceberam há mais tempo o impacto financeiro nas ações das companhias quando a diversidade e inclusão não são consideradas.

Basta olharmos para o movimento de grandes multinacionais nos últimos dez anos, com campanhas publicitárias bem mais inclusivas e diversificação de produtos conforme as necessidades de seus consumidores.

No Brasil, não estamos de braços cruzados. O ESG (sigla em inglês para padrões ambientais, sociais e de governança) está em alta no mundo todo, inclusive aqui.

Segundo o Global Sustainable Investment Alliance — grupo que reúne as sete maiores organizações sustentáveis do mundo —, o segmento de investimento responsável já chega a US$ 31 trilhões, o que representa 36% dos ativos financeiros totais sob gestão global.

Nos próximos anos, esse número só crescerá e, certamente, o Brasil e as empresas que estão por aqui vão precisar acompanhar essa tendência para atrair investidores.

Para continuarmos avançando, um dos passos mais importantes é conscientizar os stakeholders internos, gestores e funcionários, para que as iniciativas da companhia estejam alinhadas.

Gestores de todas as áreas de uma empresa precisam participar dos processos e incluir a diversidade em suas equipes. É preciso que o discurso tão propagado por muitas companhias em 2020 seja replicado nas ações e no comportamento de seus representantes.”

Depoimento a Letícia Toledo