Ensino

“O digital é o futuro porque permite inclusão em massa”

Para o presidente da Yduqs, em 2020, a tecnologia digital passou de ameaça a aliada do ensino

“Hoje, já estão ao alcance dos moradores de Apuí, município amazonense com 22 mil habitantes, próximo à divisa com o Mato Grosso, cursos de graduação na modalidade EaD com diversidade de oferta e qualidade acadêmica até bem pouco tempo impensáveis.

Embora as primeiras experiências de ensino à distância em massa estejam perto de completar 30 anos, fenômenos bem mais recentes aceleraram e deram abrangência nacional a essa expansão, que foi da ordem de 20% ao ano, de forma praticamente constante ao longo da última década. 

 O primeiro deles foi a redução de oferta de financiamento estudantil público, acentuada nos últimos anos, particularmente com relação ao FIES. Hoje, as universidades privadas concentram 7 milhões dos cerca de 8,5 milhões de alunos ativos no país.

Para quase 80% de todos os nossos alunos de nível superior, o autofinanciamento é a única opção – seja o próprio aluno o responsável financeiro, seja essa atribuição assumida por sua família.

A escala do EaD, e sua consequente capacidade de diluição dos custos foi uma resposta mais do que natural às barreiras econômicas de acesso que se intensificaram com a escassez de financiamento. 

O segundo fator foi a expansão da infraestrutura local necessária para a oferta de EaD: passamos por um boom de abertura de polos em todas as regiões do país.

O Brasil saltou de cerca de 5 mil polos em 2014 para 27,6 mil no ano passado, a grande maioria deles por meio de parcerias locais entre empreendedores e as instituições de ensino. O movimento criou as bases para a quebra das barreiras geográficas. 

O terceiro foi a flexibilidade de horário do EaD, que permitiu que alunos que trabalham pudessem mais facilmente conciliar o estudo com suas rotinas profissionais.

O Brasil tem uma demanda reprimida de aproximadamente 40 milhões de pessoas com o ensino médio completo que, por alguma barreira, haviam desistido do sonho do ensino superior.

O boca a boca e o exemplo de pessoas próximas aderindo ao EaD estimularam uma revisão de conceitos.

A esse contingente de pessoas com ensino médio somou-se outro, de alunos com nível superior, que viram no EaD o caminho para cursos de pós-graduação, preparatórios e especializações. A idade média mais elevada dos alunos da modalidade é uma evidência concreta disto.

O estado atual do mercado é reflexo desses movimentos. O cenário nacional ainda é muito pulverizado e, olhando para o futuro, será natural uma certa consolidação. Muitas instituições que aderiram à primeira onda de expansão ficaram pelo caminho.

O custo da aquisição de alunos e para a construção de reputação é elevado. O modelo de expansão, considerando o retorno atrativo e rápido ao dono do polo parceiro, é determinante.

A qualidade do ensino é outro fator crucial e dependente de escala, que não se conquista da noite para o dia.

As organizações que conseguiram atingir massa crítica em número de alunos e que possuem mecanismos eficientes para o estabelecimento de reputação local – leia-se uma modalidade presencial forte e com qualidade reconhecida – estão mais bem posicionadas para continuar crescendo

Elas se preparam para a cruzar a próxima fronteira, que é a da reação rápida a eventuais lacunas de aprendizagem identificadas nas massas de dados geradas a partir das provas e até mesmo durante os estudos do dia a dia.

Com relação ao ensino e à experiência do aluno, o cenário é igualmente animador. O EaD tem resultados acadêmicos tão bons quanto os do ensino presencial e, se ainda há ressalvas com relação à modalidade no mercado de trabalho, elas não passam de má informação, quando não de puro preconceito.

Estamos num momento de avanços extraordinários quanto à qualidade dos conteúdos digitais e ao desenvolvimento de metodologias próprias para este mundo.

O modelo das enfadonhas aulas gravadas na íntegra e dos PDF enviados para os alunos como material didático foi demolido pelas aulas com vídeos curtos, podcasts, exercícios de fixação interativos e bibliotecas virtuais com centenas de milhares de títulos.

Esse novo ensino digital passa pela curadoria e pelo tratamento de educadores das mais renomadas instituições, aos quais o acesso, até bem pouco tempo atrás, era privilégio de nossa elite econômica.

A escala digital comporta níveis ampliados de qualidade, e essa é a realidade atual do segmento, nas melhores universidades privadas do país. Essa forma de ensinar, centralizada e com uso intensivo de tecnologia, permite que o EaD esteja em todos os lugares, com a mesma qualidade.

O conteúdo e as metodologias digitais são tão importantes e revolucionários que extrapolam a própria modalidade à distância.

O ensino digital (não mais à distância, mas legítima e nativamente digital) produz o imediato efeito de escala sobre a modalidade presencial, que tem até 40% da carga acadêmica entregue virtualmente, ajudando a manter preços acessíveis para o aluno que opta pelo campus.

O digital representa um passo adiante, à medida que conteúdos digitais de alto padrão complementam o ensino presencial, dando aos professores suporte em questões hoje críticas, como a atualização do conteúdo e um maior engajamento dos alunos, que estão acostumados e querem ambientes e linguagem digitais.

As experiências de vanguarda na área já apontam ganhos na relação ensino-aprendizagem, na persistência e na satisfação geral, de professores e alunos.

A consolidação dessas transformações se dá com a criação de plataformas de ensino, com forte e renovada apropriação do digital.

Alguns atores da educação superior já estão colocando em prática essa abordagem, de forma semelhante ao que já ocorre intensamente na educação básica.

A convivência harmoniosa entre digital e presencial e sua complementariedade são um caminho natural de evolução para o setor, e esperávamos um estágio de maior maturidade nesse campo dentro de dois ou três anos.

Isso até a eclosão da pandemia do novo coronavírus, que exigiu uma rápida adaptação numa questão de semanas.  

Além de nova evidência do gigantesco compromisso dos professores, a pandemia nos ensinou muito e deixou um legado positivo.

Graças a 2020, a tecnologia digital passou de potencial ameaça a poderosa aliada, especialmente sob a ótica dos docentes.

O relacionamento com os alunos e seu engajamento com os estudos também foram transformados. Nas iniciativas de maior sucesso no setor, os níveis de frequência superaram os usualmente registrados nos campi, e a avaliação dos alunos chegou, nesses mesmos casos de sucesso, a quase 95% de aprovação.

A nova visão sobre o digital também revoluciona a oferta de serviços educacionais.

Sempre preservando a viabilidade econômica para o aluno, que é premissa, teremos a possibilidade de combinar o digital com diferentes níveis de ensino presencial, para o desenvolvimento de habilidades práticas e uma experiência universitária ampliada, com o objetivo de atender a múltiplos perfis educacionais e socioeconômicos.

Desenvolver novos produtos passa a ser encontrar o mix ideal entre digital e presencial, assegurando qualidade e acesso. Não há mais fronteiras. Estamos falando de integração e complementação.

A expansão do ensino superior privado continuará. Nunca tantas pessoas puderam acessar ensino com tanta qualidade.

O ensino digital chegará a um número ainda maior de pessoas que não podem pagar muito, será baseado em conteúdo de alto padrão acadêmico e terá na tecnologia sua maior aliada, tanto para inteligência e gestão, quanto para o engajamento do aluno e seu relacionamento com as instituições.

O digital é o futuro porque permite inclusão em massa, com uma qualidade inédita no país. Temos muito espaço para crescer – e, sem sombra de dúvida, muito a contribuir para a transformação da vida de milhões de pessoas.” 

Depoimento a Anderson Figo