Butantan e governo de SP dizem que CoronaVac é eficaz, mas não revelam percentual exato de eficácia

Anúncio sobre estudos finais da vacina da Sinovac contra Covid-19 frustrou expectativas pela falta de detalhes

Giovanna Sutto Priscila Yazbek

Caixas com potencial vacina da chinesa Sinovac contra Covid-19 em Pequim (REUTERS/Thomas Peter)

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SÃO PAULO – O governo de São Paulo e o Instituto Butatan anunciaram nesta quarta-feira (23) que a CoronaVac, vacina produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac, apresentou eficácia após os resultados dos estudos da fase 3 de testes clínicos, a última antes da aprovação final.

“Atingiu-se os índices mínimos, tanto exigidos pela Anvisa [agência sanitária brasileira], quanto pela OMS [Organização Mundial de Saúde] na fase 3. Isso permitirá que evitemos a morte de milhares de pessoas, não só aqui no país, como no mundo todo. Diminuíremos os leitos de ocupação de UTIs e a utilização de respiradores e, aí sim, poderemos resgatar a economia, nossos sonhos e poderemos abraçar e beijar todos aqueles que não pudemos ao longo do ano”, disse Jean Gorinchteyn, secretário da Saúde do estado de São Paulo, em coletiva de imprensa realizada na tarde desta quarta-feira (23).

Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, disse que os dados exatos sobre o percentual de eficácia não podem ser revelados por enquanto, atendendo a um pedido feito pela Sinovac. Mas, assim como Gorinchteyin, Covas garantiu que os resultados comprovam que a vacina é eficaz. “Recebemos os dados de eficácia: atingimos o limiar da eficácia que permite o processo de solicitação de uso emergencial aqui no Brasil e na China”.

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Covas não deixou claro o que seria o “limiar de eficácia”. De acordo com a OMS, para ser distribuída, uma vacina precisa ter 50% de eficácia no mínimo. A falta de detalhes sobre o percentual de eficácia frustra as altas expectativas que existiam sobre a coletiva de hoje. A CoronaVac é uma das vacinas mais promissoras dentre as candidatas brasileiras, tendo em vista o estágio avançado nas tratativas com o Butantan, instituto que é referência em imunização no país.

Covas ressaltou ainda que os dados corroboram com o que instituto vinha afirmando: “É a vacina mais segura entre todas as que estão em teste neste momento, tivemos apenas reações adversas leves”. Segundo ele, o efeito adverso mais comum foi dor no local da vacinação. “Aconteceu em percentual pequeno de voluntários uma febre baixa, em linha com o que acontece na China com mais de 300 mil pessoas vacinadas”.

O diretor do Butantan explicou que a Sinovac solicitou o envio de toda a base de dados sobre os testes para unificar e equalizar os resultados com os ensaios feitos em outros países e, assim, evitar que índices diferentes sejam divulgados. “A Sinovac pediu que o Butantan fizesse a transferência da base de dados e isso aconteceu na manhã de hoje, para que eles possam realizar essa análise unificada e possamos apresentar os resultados à Anvisa. São 15 dias para essa análise ser finalizada. Isso está em contrato e vamos respeitar, embora acreditemos que o prazo será adiantando”, disse Covas.

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João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência do governo de SP, garantiu que o pedido feito pela Sinovac não vai atrasar o cronograma previsto pelo Programa Estadual de Imunização, que prevê o início da vacinação no estado no dia 25 de janeiro.

Com os resultados da CoronaVac em mãos, o governo paulista e o instituto podem enviar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a documentação necessária para a entrada em ambos os pedidos de aprovação: o registro definitivo e a autorização de uso emergencial.

Na prática, com o registro definitivo a aprovação pode demorar cerca de dois meses, já que a Anvisa precisa avaliar a documentação completa do imunizante. Se aprovada, uma vacina sob essa aprovação pode ser aplicada em massa pela rede pública e privada.

Já a autorização de uso emergencial pode ser aprovada em um prazo de 10 dias, segundo a Anvisa, mas por não ser um registro definitivo, não é possível aplicá-la em clínicas privadas. Assim, a responsabilidade da vacinação é do poder público e apenas o Sistema Único de Saúde (SUS) pode aplicar o medicamento.

Viagem de Doria

A coletiva sobre os resultados da CoronaVac acontece horas depois da forte repercussão sobre a notícia de que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), havia tirado uma licença de dez dias.

Depois de muitas críticas nas redes sociais, por ter resolvido viajar ao exterior no dia seguinte ao anúncio do lockdown em todo o estado no Natal e Ano Novo, o governador anunciou que havia cancelado a viagem e retornaria a São Paulo.

Por meio de sua conta no Twitter, Doria disse que a decisão foi tomada depois que ele foi informado que Rodrigo Garcia (DEM), vice-governador do estado, havia contraído Covid-19. Garcia assumiria os compromissos de governo durante a licença de Doria.

Doses

O Ministério da Saúde negocia com o Instituto Butantan uma expansão do contrato de aquisição da CoronaVac para 100 milhões de doses, a serem entregues no primeiro semestre de 2021, disse nesta terça-feira o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Arnaldo Medeiros.

De acordo com o secretário, o contrato com o Butantan está praticamente fechado e o cronograma de entrega das vacinas proposto pelo instituto prevê a entrega de 9 milhões de doses em janeiro, 15 milhões em fevereiro e 22 milhões em março, somando as 46 milhões previstas inicialmente, mas o governo já negocia um aumento no contrato.

A vacina da Pfizer, que já está sendo aplicada no Reino Unido, nos Estados Unidos e em outros países, e foi aprovada nesta segunda-feira pela União Europeia, apresentou eficácia de 95%. A da Moderna – que foi aprovada na semana passada pela agência sanitária americana, a FDA, e começou a ser aplicada nos EUA nesta segunda-feira (21) – tem eficácia de 94%.

A vacina da Oxford, em parceria com a AstraZeneca também chegou a apresentar dados de eficácia, mas os resultados foram questionados posteriormente. A vacina russa, do Instituto Gamaleya, também já apresentou dados de eficácia, mas seus procedimentos chegaram a ser questionados pela OMS.

Vacinas no Brasil

O Brasil deve receber 150 milhões de doses de vacinas contra Covid-19 no primeiro semestre de 2021, somando os imunizantes Pfizer/BioNTech, Sinovac/Butantan e AstraZeneca/Fiocruz, afirmou nesta terça-feira o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros.

Na semana passada, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou que as primeiras entregas devem ocorrer em janeiro, com um quantitativo de 24,5 milhões de doses juntas dos três laboratórios no mês.

((Em atualização))

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.