Startup de compras em grupo com descontos de até 60% é nova aposta do SoftBank

O conglomerado japonês aportou US$ 25 milhões na Trela. Startup de compras coletivas cresceu em média 45% ao mês nos últimos doze meses

Mariana Fonseca

Fundadores da Trela (Divulgação)

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Algumas startups brasileiras buscam reviver as compras coletivas, anos depois das plataformas Groupon e Peixe Urbano terem desistido dos cupons de desconto para serviços. O foco agora está na compra de alimentos e bebidas básicos – e investidores de venture capital de renome estão apoiando essa nova onda do comércio social no Brasil.

O último exemplo é o da Trela: a startup anunciou nesta terça-feira (8) um investimento de US$ 25 milhões. O aporte série A foi liderado pelo SoftBank Latin America Fund, fundo bilionário do conglomerado japonês de telecomunicações voltado para a América Latina. A rodada também teve participação da aceleradora Y Combinator e dos fundos General Catalyst e Kaszek.

“Os produtos chegam muito caro ao consumidor no Brasil, mesmo que a margem não seja muito alta para os fabricantes. E esse preço é resultado da ineficiência de um mercado fragmentado. São muitos intermediários, e cada um deles come margem e gera desperdício”, refletiu Guilherme Nazareth, um dos cofundadores da Trela, em conversa com o Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney. O empreendedor descreveu o modelo de negócios da Trela e falou sobre concorrência, investimentos e próximos passos da startup.

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Aposta nas compras coletivas

A Trela foi fundada pelos empreendedores Guilherme Alvarenga, Guilherme Nazareth e João Jönk. Alvarenga já tinha empreendido antes: o doutor em computação fundou a Devex, uma empresa de soluções automotivas em mineração vendida para o grupo suíço Hexagon em 2013. Já Nazareth foi diretor de ciências de dados em uma fintech de São Francisco. Nessa experiência, viu startups que atacavam mercados grandes e sem líderes claros, como Doordash (delivery) e Opendoor (imóveis). “Queria encontrar um mercado assim no Brasil, e ainda que tivesse sido impulsionado por conta do isolamento social provocado pela pandemia.”

A inspiração para a Trela, que até pouco tempo se chamava Zapt, surgiu em maio de 2020, quando Nazareth voltou ao país e conversou com Alvarenga. Ele contou como seu condomínio tinha criado um grupo de WhatsApp para comprar alimentos em grupo.

“O grupo estava lotado e ainda tinha fila de espera até de vizinhos do condomínio, então era uma experiência de compra que as pessoas buscavam. Resolvemos trabalhar juntos para difundir essa ideia de grupo”, disse Nazareth. Jönk, que trabalhou no mercado financeiro por meio de fundos como Accel e Kapitalo, buscava adaptar o modelo da gigante asiática de compras coletivas Pinduoduo ao Brasil. O amigo de Nazareth se tornou o terceiro sócio da Trela.

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A Trela começou a operar em janeiro de 2021, como uma intermediadora entre fabricantes e grupos de compra coletiva. O usuário procura a startup para montar um grupo com seus colegas de condomínio ou seus vizinhos no WhatsApp. Quando o grupo chega a 25 usuários, a Trela lança ofertas em categorias como carnes, castanhas, comida congelada, frutas secas, hortifrúti e peixes.

Juntos, os usuários têm o poder de compra de um pequeno comércio e conseguem valores entre 20% a 60% mais baratos do que cada um fazer compras individualmente no supermercado. As rotas de entrega são otimizadas o suficiente para que o fornecedor assuma o custo do frete, que é gratuito para os usuários. A Trela se monetiza a partir de uma comissão sobre cada venda, cobrada do fornecedor. O negócio atua em Belo Horizonte e em São Paulo.

A Trela não foi a primeira startup a atualizar o modelo de compras coletivas de Peixe Urbano e Groupon. Enquanto a Trela estudou a Pinduoduo, a Facily se inspirou em outro serviço chinês: o mensageiro WeChat. Criada em 2018, a Facily também usa tecnologia para tirar intermediários e conectar fabricantes de alimentos, bebidas, beleza e eletrônicos aos consumidores finais. Os usuários unidos em grupos fazem pedidos maiores, permitindo economia de escala aos fabricantes e descontos de até 70% em relação aos preços vistos nos supermercados. A Facily virou um unicórnio, ou startup avaliada em pelo menos US$ 1 bilhão, em dezembro deste ano.

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Para Nazareth, a Trela concorre mais com grandes supermercados e aplicativos de delivery do que com outras empresas de compras coletivas. “Penso na concorrência de forma mais abrangente: a competição vem de qualquer lugar que nosso público-alvo compre alimentos e bebidas. Ainda que a Facily tenha um modelo mais parecido com o nosso do que um Carrefour ou uma Rappi, acredito que nós miremos um consumidor de classe A e B, enquanto a Facily mira mais as classes B e C.”

Novo investimento e expansão

Este não é o primeiro aporte recebido pela Trela. A startup captou seu primeiro investimento nos primeiros meses de operação, em março de 2021. Foram US$ 16 milhões, liderados pelo fundo de investimento Kaszek e acompanhado pelo fundo General Catalyst e pela aceleradora americana Y Combinator. A Trela passou pelo programa de aceleração entre janeiro e março do mesmo ano, que acontece no Vale do Silicio (Estados Unidos).

As conversas com o SoftBank começaram no meio do mesmo ano. “Ainda estávamos longe de captar uma nova rodada, mas fomos construindo um relacionamento. O SoftBank traz um aprendizado no mercado de logística, tendo experiência com empresas como Loggi e Rappi”, diz Nazareth. A Trela usará os US$ 25 milhões de sua série A para investir em aquisição de clientes; contratações para melhorar o produto para fornecedores e para usuários; e expansão geográfica. O empreendimento chegará até mais três a cinco cidades até o final de 2022.

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A Trela não divulga números absolutos de usuários, produtores e pedidos cadastrados na plataforma. A startup tem crescido 45% ao mês nos últimos 12 meses. “Procuramos manter essas taxas com base em índices de satisfação, fazendo que os clientes sejam nosso motor de compras”, diz Nazareth. Como a Facily mostrou, manter o consumidor satisfeito com preço e com qualidade é o grande desafio das novas startups de compras coletivas.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.