25 de Março digital: o plano da startup que quer levar R$ 17 bilhões para o online

Dolado captou aporte para crescer marketplace que conecta fornecedores de acessórios e eletrônicos a pequenos comerciantes distantes do centro de São Paulo

Mariana Fonseca

Cofundadores da Dolado (Divulgação)

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A Rua 25 de Março é um dos maiores centros comerciais da América Latina: seus atacadistas e varejistas vendem o equivalente a R$ 17 bilhões por ano, de acordo com a União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências (Univinco). Mas, para uma startup, esses números seriam ainda maiores caso a 25 de Março fosse mais digital, explorando as vendas pela internet.

A tese é da Dolado, marketplace que conecta fornecedores de acessórios e eletrônicos na região a pequenos comerciantes distantes do centro de São Paulo. Nesta terça-feira (6), a startup anunciou a captação de um investimento de R$ 53 milhões. A rodada série A foi liderada pelo fundo de venture capital Valor Capital Group, que tem no portfólio empresas como Gympass, Olist e Stone. Acompanharam o aporte os fundos Clocktower Ventures, Endeavor, Flourish/Omidyar Network, Global Founders Capital e IDB Lab (do Banco Interamericano de Desenvolvimento).

O investimento veio com pouco mais de dois anos de negócio – e depois de uma série de mudanças ao longo desse caminho. O seu fundador, Khalil Yassine, é um engenheiro de formação que trabalhou com investment banking, mas se sentia distante de suas verdadeiras paixões: comércio, tecnologia e estar com a família.

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“Sou filho de comerciantes e sempre quis ser empreendedor. Passava os finais de semana com meu pai, e decidi estudar mais quais dores meu pai sentia ao administrar o negócio”, contou Yassine ao Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney.

Em 2019, o engenheiro se deparou com o problema da correria para abastecer a loja. “Meu pai acordava cedo, comprava mercadoria lá na 25 de Março, abastecia a loja e só então abria as portas. Não tinha tempo para desenvolver um senso mais crítico sobre o próprio negócio”, analisou Yassine.

Conversando com empreendedores, como Paulo Veras (99), Guilherme Bonifácio (iFood) e Patrick Sigrist (iFood), Yassine foi apresentado aos sócios Guilherme Freire e Marcelo Loureiro. Freire foi cofundador do serviço de bicicletas compartilhadas Grow e do e-commerce de óculos Livo. Loureiro também cofundou diversos negócios, incluindo a mesma Grow. Os dois estavam estudando uma tese parecida com a de Yassine: a do comércio eletrônico entre empresas da Udaan. A empresa indiana foi avaliada em mais de US$ 3 bilhões no começo de 2021.

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O mínimo produto viável dos empreendedores foi uma reunião virtual entre Yassine e uma lojista distante do centro. “Fui até a 25 de Março e fizemos um Facetime. Comprei o que ela apontou, entreguei na loja dela e recebi o pagamento. Logo em seguida, a gerente queria que eu fizesse a mesma coisa na semana que vem. Percebi que tinha um negócio, uma solução customizada para meu pai e para possivelmente milhões de comerciantes”. Em novembro de 2021, Yassine pediu demissão.

A Dolado começou em janeiro de 2020, como uma plataforma para conectar fornecedores a pequenos lojistas distantes do centro de São Paulo. O objetivo do marketplace era dar mais capilaridade de vendas aos fornecedores, enquanto os pequenos lojistas economizavam tempo e ganhavam mais opções de itens e preços.

A pandemia do novo coronavírus levou ao isolamento social poucos meses depois. A Dolado precisou montar um novo modelo de negócios para sobreviver: passou a ajudar os pequenos comerciantes a venderem pela internet, por meio de um catálogo digital gratuito. “Meu pai foi nosso primeiro cliente. Depois vieram o vizinho dele, a amiga do vizinho, um conhecido e finalmente grupos de comerciantes, que falavam da gente em grupos nas redes sociais”, contou Yassine.

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A solução gratuita de digitalização levou a startup a conquistar uma base de 5 mil empreendedores – e seu primeiro investimento externo. Em dezembro de 2020, a Dolado captou R$ 11,3 milhões dos fundos Valor Capital Group, Norte Capital (LemonThe Coffee, Yuca) e Provence (Acesso, Gympass, Rock Content), e de anjos de empresas como iFood, Stone, Olist, Viva Real e PayPal.

Quando a pandemia aliviou e permitiu que a Dolado voltasse com o modelo de marketplace, os dados coletados permitiram que a startup identificasse um grande potencial em um setor específico. “O setor de assistência técnica, acessórios para celular e eletrônicos nos chamou a atenção por ter bons números, mas ser relativamente novo e sofrer de muita informalidade. Novamente, os empreendedores perdiam muito tempo indo até a 25 de Março, onde se concentram os fornecedores do ramo, para repor seu estoque. Ainda, não tinham acesso a uma variedade de itens e a preços melhores por conta própria.”

Para atender as necessidades desse setor, a Dolado decidiu construir um marketplace verticalizado. “É um modelo em que nós controlamos o cadastro dos fornecedores e a logística, garantindo a qualidade e o tempo de entrega dos produtos. Fazemos uma seleção que checa a veracidade do produto e a capacidade de emitir notas fiscais. Não adianta entrar um fornecedor que vende produtos piratas, porque isso não sustentará nosso negócio nem nossos comerciantes ao longo do tempo”, disse Yassine.

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O marketplace foi inaugurado em março de 2021. A Dolado se monetiza com uma margem sobre cada venda – mas afirma que os produtos continuam saindo mais baratos ao comerciante do que se ele os comprasse individualmente, por conta do poder de barganha da startup diante da quantidade de pedidos feitos em todo o site.

Hoje, a startup atende pequenos lojistas no ramo de assistência técnica, acessórios para celular e eletrônicos, que faturam entre R$ 10 mil e R$ 40 mil por mês. A maioria dos negócios têm CNPJ, mas existem os que operam apenas com CPF. “As estatísticas oficiais falam em 400 mil lojas de acessórios no Brasil. Mas sabemos que existem muito mais na informalidade, fantasmas que movimentam muito dinheiro”, analisou Yassine, relembrando os R$ 17 bilhões movimentados por ano na 25 de Março. A Dolado tem hoje 20 mil empreendedores na sua base: 5 mil fazem uso do catálogo digital gratuito, e os outros 15 mil fazem compras recorrentes pelo marketplace.

O crescimento da base justificou a captação do série A. A Dolado usará os R$ 53 milhões para dobrar sua equipe neste ano, que está em 100 funcionários hoje. Já no segundo semestre deste ano, lançará novos produtos. “Atacamos como o pequeno lojista vende e compra produtos. Agora, queremos ajudar na gestão do negócio dele. Vamos criar uma inteligência de compra, mostrando tendências do mercado e sugerindo o que ele precisa ou não comprar com base no estoque atual.”

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Até o final deste ano, a startup espera quintuplicar sua base e chegar a 100 mil empreendedores. Existem outros marketplaces setorizados para mercados, como Houpa! e Zax para o vestuário na região do Bom Retiro e do Brás. Para o cofundador da Dolado, o diferencial da startup em um mar de marketplaces é a sua escolha por um setor ainda novo e com pouco histórico, se comparado com vestuário e outros produtos. “O primeiro iPhone foi lançado há apenas 13 anos”, explica.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.