Governo de SP gasta R$ 177 milhões com 46 dias de pedágios congelados

Valor é superior aos R$ 130 milhões aprovados pela Alesp para investir em todo o ano de 2022 em unidades fixas e móveis do Bom Prato

Lucas Sampaio

Carros passam por pedágio em rodovia da concessionária Rota das Bandeiras no interior de SP (Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)

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O governo de São Paulo gastou R$ 177,5 milhões em apenas 46 dias de tarifas de pedágios congeladas no estado, o equivalente a R$ 3,86 milhões por dia, segundo dados da Artesp enviados ao InfoMoney. Só a AutoBan, concessionária do grupo CCR (CCRO3) que administra as rodovias Anhanguera (SP-330) e Bandeirantes (SP-348), recebeu mais de R$ 40 milhões.

Os R$ 177,5 milhões são superiores aos R$ 130 milhões aprovados pela Alesp (Assembleia Legislativa do estado) no Orçamento de 2022 para investir em unidades fixas e móveis do Bom Prato (programa do governo estadual que oferece refeições de R$ 1 subsidiadas para a população de baixa renda). É maior também que os R$ 140 milhões reservados para o ensino profissionalizante paulista.

O governo estadual promete manter as tarifas congeladas até o fim do ano e, para isso, reservou inicialmente R$ 400 milhões. Mas o InfoMoney revelou, no fim de agosto, que cálculos do próprio governo mostravam ser necessários quase o dobro disso (R$ 782 milhões).

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Após o questionamento da reportagem sobre a diferença, o governo disse que os R$ 400 milhões eram uma “estimativa inicial”, mas que o “valor foi revisto e já está também reservado, gerando acréscimo de R$ 382 milhões”. Sobre a discrepância de 95% nos valores, respondeu que “foi feita uma reserva inicial, revista de acordo com a apuração que está em andamento”.

Caso o governo gaste os R$ 782 milhões para manter as tarifas congeladas em 2022, o valor vai superar os R$ 700 milhões aprovados pela Alesp para a administração estadual gastar com a construção de moradias em todo o ano.

Veja abaixo quanto cada concessionária já recebeu do governo de São Paulo para compensar o congelamento dos pedágios no estado (entre 1º de julho e 15 de agosto):

Além da Autoban, a CCR também é responsável por concessionárias como a ViaOeste (que recebeu R$ 17 milhões); a SPvias (R$ 12,4 milhões); e o Rodoanel (SP-21), que controla o trecho oeste do anel viário (e recebeu R$ 5,1 milhões); além de possuir 40% da Renovias (que levou R$ 6,9 milhões).

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Já a Ecorodovias (ECOR3) administra a Ecovias, que é responsável pela Anchieta (SP-150) e pela Imigrantes (SP-150) e recebeu R$ 17,8 milhões; e a Ecopistas, que é responsável pela Ayrton Senna (SP-060) e pela Carvalho Pinto (SP-070) e recebeu R$ 5,3 milhões.

Reajuste congelado

As tarifas dos pedágios deveriam ter sido reajustadas entre 10,72% e 11,73% no começo de julho, como prevê os contratos de concessão do governo paulista, mas o governador e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), anunciou na véspera que os preços não subiriam neste ano.

Para compensar as concessionárias pelo desrespeito aos contratos (e ressarci-las pelo pedágio congelado), o governo de São Paulo assinou o Termo Aditivo Modificativo Coletivo nº 02/2022 (TAM Coletivo) com as empresas em agosto.

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O acordo prevê que os pagamentos serão bimestrais. O primeiro deles, de R$ 177,5 milhões, foi feito em 31 de agosto (referente ao período entre 1º de julho e 15 de agosto); o segundo será em 31 de outubro (referente ao período entre 16 de agosto e 15 de outubro); e o terceiro, em 31 de dezembro (referente ao período entre 16 de outubro e 15 de dezembro).

Aditivo do aditivo

O TAM Coletivo prevê também que os reajustes dos pedágios deverão ser feitos até 16 de dezembro, ao contrário do que havia prometido o governador. O reajuste ainda em 2022, depois das eleições, está previsto na cláusula 2.4 do acordo.

Após reportagem do InfoMoney revelar essa cláusula, o governo de São Paulo afirmou que vai fazer um aditivo do aditivo e modificar o TAM Coletivo, para prever um repasse adicional (referente ao período entre 16 e 31 de dezembro).

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A Secretaria de Governo afirmou que “o termo que foi firmado estabeleceu a data de 16/12 para a celebração dos aditivos com as concessionárias, levando em conta a apuração do volume efetivo de tráfego para pagamento do ressarcimento dentro deste ano fiscal”. Mas não há essa previsão no TAM Coletivo.

“Em paralelo e para que se tenha a apuração do valor a ser ressarcido entre 16/12 e 31/12, a Secretaria de Logística e Transporte, a Secretaria de Governo e a Artesp estão verificando a curva e tendência de utilização dos meses de julho, agosto e setembro para que se tenha o valor médio mais próximo do real para o ressarcimento da última quinzena de dezembro”, disse o governo.

3 versões sobre o reajuste

A versão foi dada pela Secretaria de Governo apenas cinco dias após a assinatura do TAM Coletivo com as concessionárias e depois que a reportagem questionou a administração estadual em relação às informações conflitantes sobre quando os pedágios serão reajustados.

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O governo paulista disse ao InfoMoney que “a data oficial do reajuste ainda será definida”, mas ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP) afirmou que os pedágios serão reajustados em 1º de janeiro de 2023, no primeiro dia do próximo governo:

“No período de 01.01.2023 até a próxima data de reajuste tarifário (julho/2023), as tarifas passarão a ser praticadas de acordo com o reajustamento que deveria ter sido implementado em cada uma das praças de pedágio em julho de 2022”, escreveu o secretário de Logística e Transportes, João Octaviano Machado Neto, no documento enviado ao TCE.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.