Governo de SP gastará R$ 782 milhões, o dobro do previsto, para manter pedágios congelados em 2022

Atual gestão informou ao TCE-SP valor muito superior aos R$ 400 milhões reservados no orçamento para manter os preços do serviço inalterados neste semestre

Lucas Sampaio

Pedágios congelados de SP (Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

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O governo de São Paulo vai precisar gastar mais de R$ 782 milhões para manter os preços dos pedágios congelados até o fim do ano. O valor é quase o dobro dos R$ 400 milhões reservados, no início do mês, para evitar um reajuste de mais de 10% nas tarifas.

O cálculo é da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) e está em ofício enviado ao TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado) no dia 3. O presidente da Corte, Dimas Ramalho, havia dado dez dias para o governador Rodrigo Garcia (PSDB) responder sobre as razões de interesse público e os fundamentos que embasaram o congelamento dos preços do serviço.

Apesar de os questionamentos terem sido endereçados ao governador, a resposta foi prestada pela Artesp e pela SLT (Secretaria de Logística e Transporte). O oficío foi enviado na mesma época em que o governo estadual reservou R$ 400 milhões para compensar as concessionárias pelo não reajuste.

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Procurado pelo InfoMoney, o governo de São Paulo disse que os R$ 400 milhões eram uma “estimativa inicial”, mas que “esse valor foi revisto e já está também reservado, gerando acréscimo de R$ 382 milhões”. Sobre a discrepância de quase 100% nos valores, respondeu que “foi feita uma reserva inicial, revista de acordo com a apuração que está em andamento”.

Segundo a resposta da Artesp ao TCE, apenas a Autoban — concessionária do grupo CCR (CCRO3) que administra as rodovias Anhanguera (SP-330) e Bandeirantes (SP-348) — deve receber R$ 162 milhões do governo do estado neste ano (o maior repasse de todos).

Na sequência vêm a ViaOeste — também da CCR, que administra as rodovias Castello Branco (SP-280) e Raposo Tavares (SP-270) —, com R$ 73,4 milhões, e a Ecovias — concessionária da Ecorodovias (ECOR3) que administra as rodovias Anchieta (SP-150) e Imigrantes (SP-150), com R$ 65,6 milhões (veja na arte abaixo todos os valores).

Governo de São Paulo gastará R$ 782 milhões para manter pedágios congelados em 2022 (Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

Compensação às concessionárias

A compensação às concessionárias será feita porque o governador Rodrigo Garcia (PSDB) decidiu em 30 de junho suspender o reajuste anual dos pedágios, que seria de mais de 10% e estava previsto para entrar em vigor em 1º de julho.

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Os contratos de concessão preveem reajustes anuais das tarifas com base na inflação acumulada, por isso os preços dos pedágios subiriam entre 10,72% (nos contratos atrelados ao IGP-M) e 11,73% (nos atrelados ao IPCA).

Mas, na véspera do reajuste, Garcia escreveu no Twitter: “Anunciei há pouco que não haverá reajuste de pedágio nas rodovias paulistas. Diante da alta desenfreada dos preços, principalmente dos combustíveis, é impensável onerar o bolso dos paulistas”.

Garcia era vice de João Doria (também do PSDB), assumiu o governo após a renúncia do titular e vai concorrer à reeleição em outubro para tentar se manter à frente do Palácio dos Bandeirantes. Quando era vice, o político também acumulou os cargos de secretário de governo de Doria e era responsável pelo programa de concessões do estado.

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Reajuste em 2022 ou 2023?

Além da Artesp, a Secretaria de Logística e Transportes (SLT) também respondeu aos questionamentos do TCE. Em um outro ofício enviado ao tribunal, a pasta afirmou que os pedágios serão reajustados em 1º de janeiro de 2023, no primeiro dia do próximo governo.

“No período de 01.01.2023 até a próxima data de reajuste tarifário (julho/2023), as tarifas passarão a ser praticadas de acordo com o reajustamento que deveria ter sido implementado em cada uma das praças de pedágio em julho de 2022”, escreveu, no documento, o secretário João Octaviano Machado Neto, da SLT.

Mas reportagem do InfoMoney mostrou, na sexta-feira (19), que o governo de São Paulo assinou um acordo com as concessionárias para aumentar as tarifas ainda em 2022, além de definir os parâmetros para compensar a queda de arrecadação com o congelamento dos pedágios.

Duas das principais concessionárias do estado, a CCR e a Ecorodovias anunciaram ao mercado que assinaram no dia 17 o Termo Aditivo Modificativo Coletivo nº 02/2022 (TAM Coletivo) com o governo estadual (representado pela Secretaria de Logística e Transportes) e com a Artesp (a agência reguladora do estado).

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Além do sistema Anchieta-Imigrantes, a Ecorodovias administra também as rodovias Ayrton Senna (SP-060) e Carvalho Pinto (SP-070). Já a CCR, além dos sistemas Anhanguera-Bandeirantes e Castello Branco-Raposo Tavares, administra o trecho oeste do Rodoanel (SP-021) e tem as concessões das linhas 4 (Amarela) e 5 (Lilás) do metrô; das linhas 8 (Diamante) e 9 (Esmeralda) da CPTM; e da linha 15 (Ouro) do monotrilho de São Paulo.

Segundo as duas empresas, o acordo prevê que que a compensação às concessionárias será paga a cada dois meses (a primeira parcela será referente ao perído de 1º de julho a 15 de agosto; a segunda, de 16 de agosto a 15 de outubro; e a terceira, de 16 de outubro a 15 de dezembro) e que o governo tem até 16 de dezembro para reajustar os pedágios.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.