Desconto do governo para carros “populares” pode forçar queda de preço dos usados?

Volume maior de usados no mercado e competição com novos podem favorecer consumidor no curto prazo, dizem especialistas

Giovanna Sutto

Carros usados estacionados

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O mercado de veículos usados deve se beneficiar com o anúncio da desoneração dos “carros populares” feito pelo governo federal. Para carros de até R$ 120 mil, os descontos variam de 1,6% a 11,6% (que representam cortes entre R$ 2 mil e R$ 8 mil direto no preço final do carro comprado pelo consumidor).

As montadoras também estão aplicando descontos extras por conta própria, e com isso alguns modelos superam os R$ 10 mil em descontos — o que deve impulsionar as vendas. Pessoas físicas terão exclusividade até dia 21 de junho para comprar carros novos (prazo que pode ser prorrogado por mais 15 dias). Depois disso, as empresas também poderão participar.

Com esse movimento, especialistas consultados pelo InfoMoney dizem que o consumidor que estava interessado em trocar de carro e comprar um seminovo terá uma ótima oportunidade de negociar valores e até encontrar preços mais baixos no mercado de usados.

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Isso por que o programa de descontos anunciado pelo governo para carros “populares” não atende exatamente o público que busca o modelo usado.

“Não dá para considerar um carro de R$ 120 mil ou mesmo R$ 70 mil um carro popular no Brasil. É só olhar o salário mínimo, de R$ 1.320. O brasileiro médio precisa trabalhar muitos e muitos meses para conseguir comprar um carro nesse patamar. Hoje a família que vai comprar um primeiro carro já olha direto para os seminovos porque o zero km não é mais sua realidade”, afirma Ana Renata Navas, diretora-geral da Cox Automotive do Brasil, dona da KBB.

Na visão de Navas, o programa de descontos não vai alcançar a fatia da população que antes não comprava carros de até R$ 120 mil. “O programa é para a população que já comprava esses modelos e poderá reduzir o gasto”.

A lista oficial do governo federal, com 11 montadoras e 32 modelos de veículos, foi divulgada apenas no dia 14 de junho. São ao todo 233 versões de carros que terão descontos de R$ 2 mil a R$ 8 mil do governo (veja no link abaixo).

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Veja, a seguir, os dois principais fatores que devem deixar o mercado de usados mais acessível aos consumidores ao longo dos próximos meses, segundo especialistas consultados pelo InfoMoney:

Embora o benefício do governo valha apenas aos carros novos, o mercado de usados será beneficiado basicamente pelo movimento que deve acontecer a partir da compra do modelo zero km.

“O usado normalmente é dado em troca na compra de um novo. Como consequência, há um aumento no inventário de usados. Mais carros usados disponíveis, mais opções de venda para o consumidor e um provável aumento de venda de usados”, explica Navas, da KBB.

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A Fenauto, federação nacional de veículos usados, estima que as vendas alcancem 15,5 milhões em 2023, acima dos 13 milhões de unidades vendidas em 2022. “A movimentação no mercado de novos é uma mola que impulsiona o mercado de usados. É uma relação intrínseca e cíclica”, lembra a especialista.

Com o maior volume de usados no mercado, Navas entende que o consumidor terá mais poder de barganha na negociação. “A queda de preço é plausível. Se tem 20 compradores e 40 carros, o consumidor terá mais margem de negociação. Não é uma queda sistemática de preços, mas, no cenário atual, quer dizer que será possível fazer uma compra melhor”, explica.

Outro fator que pode favorecer o consumidor que pensa em comprar um usado é a própria competição entre os mercados, na opinião de Kalume Neto, da Jato Dynamics.

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Com a denoseração nos modelos 0 km, é possível que o consumidor encontre opções com desconto também nos usados porque os lojistas vão querer atrair clientes.

“Sem considerar o programa de descontos, o normal é: um carro novo compete com um usado fabricado dois anos antes, em média. Com o programa de descontos essa competição não deixa de existir. E para mantê-la, o mercado de usados também vai acompanhar essa queda”, explica o especialista.

Mas esse movimento pode complicar a vida dos lojistas de usados, explica Kalume Neto. “Essa acomodação de preços nos usados pode causar uma crise no segmento: as lojas que compraram carros usados com valores mais altos provavelmente terão que revender a valores mais baixos, impactando o fluxo de caixa desses estabelecimentos”.

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Consumidor tem oportunidade

A orientação para o consumidor nesse momento, então, é: pesquise muito. Isso vale para pesquisas online nos classificados, mas também na busca presencial.

“O consumidor tende a visitar menos lojas para negociar carros, mas o momento pede isso para fechar uma boa compra. Você não sabe a situação da loja: ela pode estar com estoque parado e negociar mais facilmente. Aproveite para conversar com o vendedor”, explica Ana Navas, da KBB.

Na opinião de Navas, o consumidor que vai trocar o chamado “usadão” (carros entre 4 e 10 anos), por um seminovo (até três anos de uso) tem uma “oportunidade gigantesca entre o fim deste trimestre e o início do próximo”.

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Ela sugere também que o consumidor não seja inflexível na negociação do preço de venda do carro que vai dar em troca do novo. “Esteja aberto a negociar o seu carro também. Aproveite o cenário e use o diálogo para fazer a troca, se for interessante para você”.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.