A “tropicalização” da dívida pública dos EUA: por que o fiscal americano pode balançar sua carteira?

Preocupações com a dívida americana devem aquecer à medida que nos aproximamos da eleição de 5 de novembro, entre Biden e Trump
Por  Lucas Collazo -
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Recados paroquiais feitos, vamos falar sobre o elefante na sala do mercado financeiro: a dívida pública dos EUA. Você notou como esse assunto, antes perturbador para investidores ao redor do mundo, e agora não encontramos leituras ou falas sobre?

Bom, estava assim até agora, vou dedicar essa coluna a esse tema. Inicialmente, vamos deixar todo mundo aqui na mesma página.

A dívida pública dos Estados Unidos está atualmente próxima de US$ 34,62 trilhões, conforme os dados mais recentes de abril de 2024. Um valor maior do registrado um mês antes, de US$ 34,59 trilhões, mas o crescimento significativo mesmo foi de um ano para cá, onde a dívida estava em US$ 31,46 trilhões.

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Até março de 2024, a dívida pública americana em relação ao PIB está em aproximadamente 124,7%, com tendência clara de crescer em relação a este produto interno bruto. Para você entender, os autores “pré pandemia”, diziam que 100% de dívida/PIB já deveria ser muito preocupante e costumam anteceder momentos difíceis.

O mundo é diferente após a pandemia, quase todas as geografias, com exceções pontuais, fizeram esforços fiscais razoáveis para combater as dores desse momento triste da nossa história como sociedade. Os endividamentos soberanos se elevaram, em proporções diferentes, mas os movimentos foram conjuntos.

Essa “nova ordem” de condução fiscal é uma incógnita, nós ainda não sabemos as derivadas econômicas que serão geradas, mudança de gestão dos bancos centrais. De forma mais simples, também não sabemos como os governos vão equalizar essa situação de endividamento.

O mercado está na expectativa para um grande volume de emissões de títulos de dívida dos EUA, que pode inclusive superar a valorização recente desses títulos, dado os déficits fiscais esperados para esse ano eleitoral. Enquanto os preços desses papéis especulam em cima das previsões de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve, banco central americano, as preocupações com a dívida pública devem aquecer à medida que nos aproximamos da eleição que ocorrerá no dia 5 de novembro.

Mas por que o exercício democrático mais importante preocupa do ponto de vista fiscal?

A leitura que temos é que, para o atual presidente Joe Biden e possível reeleito, a redução do déficit fiscal não parece ser uma prioridade, e para o desafiante republicano Donald Trump que chama atenção de alguns como favorito para retomar o cargo de presidente, tão pouco. Claro, sob óticas diferentes.

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Biden é caracterizado como um governo mais “gastão”, enquanto Trump não pretende carregar a mesma política de gastos, mas ele é a favor de impostos menores, que “ataca” a arrecadação. Um aumenta a conta, o outro torna difícil pagar a conta, ambos não deixam os investidores confortáveis nesse sentido.

Nos EUA, alguns investidores já começaram a destinar recursos para posições que vão prevenir perdas com esse potencial descasamento de oferta e demanda dos títulos de dívida. A dívida detida pelo público poderá crescer de US$ 21 trilhões para US$ 48 trilhões até 2034, segundo o Congressional Budget Office.

Podemos ver um ambiente onde há uma base de compradores reduzida e, com o tempo, mais “prêmio” de prazo, ou seja, as taxas dos títulos mais longos podem ser maiores. Segundo apuração da LSEG, tanto os democratas como os republicanos prometeram reduzir os gastos deficitários e os níveis de dívida.

“Depois que a administração anterior aumentou a dívida em um recorde de US$ 8 trilhões e não assinou uma única lei para reduzir o déficit, o presidente Biden sancionou US$ 1 trilhão de redução do déficit em lei e tem um plano para reduzir o déficit em mais US$ 3 trilhões”, disse o porta-voz da Casa Branca, Jeremy Edwards.

Anna Kelly, porta-voz do Comitê Nacional Republicano, disse que as “políticas econômicas pró-crescimento e anti-inflacionárias de Trump irão… reduzir as taxas de juros, reduzir os déficits e reduzir os níveis de dívida de longo prazo”.

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Esse problema todo parece ter ficado para “amanhã”, como eu disse, o elefante na sala de estar do mercado. Talvez seja uma crise silenciosa, foi assim que analista do JPMorgan definiram o tema.

Algumas gestoras americanas, com isso em vista, aproveitaram para trocar posições mais “longas” em títulos públicos americanos para vencimentos mais curtos e intermediários. Acho cômico esse momento do mundo.

Eu constatei esse tipo de movimento inúmeras vezes com gestores brasileiros, mas não pensei que poderia constatar isso no mercado americano. O mundo tropicalizou, impressionante.

O fiscal será algo irremediável, em algum momento. O endividamento precisará ser endereçado para que essa conta feche.

Como brasileiro que sempre convivi com esse problema, sei que a novela pode ser longa, o que deixa claro a necessidade de cautela. A divida tropical costuma dar muita “dor de barriga”, volatilidade a vista, meus amigos e amigas.

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Lucas Collazo Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney

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