Nem tudo que reluz é ouro, nem todo crédito que aparece é bom: o que não te contaram sobre esse mercado

Maior procura por fundos de crédito privado tem reduzido as taxas. O problema é: spreads muito baixos (ou quase nulos) é o mesmo que risco sem remuneração.

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

O Brasil definitivamente não é para amadores. Confesso que, quando eu penso por instantes que o céu vai clarear e a mente vai ficar mais leve, o noticiário provoca movimentos bruscos no mercado.

Na semana que passou, tivemos a divulgação de dados de inflação nos EUA. Para você que está aqui pela primeira vez, eu explico:

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O mundo passou pelo processo de desinflação mais benigno já visto – em outras palavras, a inflação cedeu “do nada”. Porém, o que é chamado de “última milha” para a meta está sendo bem trabalhosa para os banqueiros centrais, especialmente para o presidente do banco central americano, Jerome Powell, e sua equipe.

O que é essa “última milha”? A meta do Federal Reserve para inflação é de 2% ao ano. Nesse momento, temos algo mais próximo de 3,4%, e esse 1,4 ponto percentual de excedente está difícil de desaparecer.

Dito isso, toda divulgação de inflação nos EUA mexe muito com os preços nesse momento. Todos querem saber os próximos passos do BC americano, quando ele irá finalmente começar o ciclo de corte de juros e como será a velocidade desse processo.

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Nesse último dado de inflação, tivemos um resultado ligeiramente inferior a expectativa, o que fez os mercados vibrarem. Porém, nesse mesmo momento, Jean Paul Prates deixou o cargo de presidente da Petrobras – a alegria de um número melhor de inflação americana não chegou em terras brasileiras pela queda da Petro.

Como eu disse, o Brasil não é para amadores.

O resultado desse ambiente inflacionário americano nebuloso, a probabilidade baixa de cortes de juros por lá esse ano, a situação fiscal complicada no mundo, guerras que acontecem enquanto escrevo essa coluna: tudo isso, batido no liquidificador, acaba por gerar cautela.

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Dessa forma, ativos mais “conservadores”, como os vários derivados do mercado de renda fixa, ganham interesse e relevância para os investidores. Isso é intensificado pela má performance de outras classes, como os fundos multimercado, por exemplo.

Eu entendo a busca por alternativas mais previsíveis e menos voláteis, todos temos estomago e paciência, uma hora ou outra um deles não aguenta mais – e o outro acaba. Compreendo bem essa forma de pensar.

Porém, sempre lembre da lei máxima de tudo na vida (não apenas da economia): oferta e demanda. Esse ambiente aumentou a demanda para crédito, que obviamente estimulou a oferta, mas que também gera um custo.

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As emissões de crédito privado estão reduzindo suas taxas de forma gradual. Bom, se a demanda é maior, existe mais apetite para consumir esse tipo de ativo e eu sou CFO de uma empresa, por que não ofertar taxas menores, já que a procura é tão grande?

Talvez eu consiga reduzir o custo da minha dívida, o que pode me tirar de uma situação mais apertada de endividamento, ou apenas reduzir o custo de capital e gerar margem melhor, não é?

E se aquele fundo de crédito “grandão”, com muitos e muitos bilhões sob gestão, continua recebendo aportes sem parar e precisa encontrar ativos para comprar com esse dinheiro dos seus clientes, talvez ele reduza um pouco seu critério e compre ativos menos interessantes?

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Ou será que, embora menos interessantes, para a pessoa física, o ponto de isenção de imposto de renda fala mais alto, e você talvez tope investir em um ativo que não tenha prêmio ao título de inflação do governo que seja equivalente?

Já observamos algumas ofertas sendo negociadas ao título equivalente acrescido de taxas muito baixas, algo próximo a 0,5%, por exemplo, ou até sem taxa alguma. O que eu tenho a falar sobre isso?

Isso é risco sem remuneração. Não interessa que esse ativo seja isento de IR, ou que ele tenha uma excelente nota de crédito – uma empresa sempre terá mais risco do que o soberano, e para aceitar correr esse risco, você precisa pedir prêmio. Ou seja: você precisa ser remunerado para aceitar emprestar seu dinheiro para uma empresa ao invés do governo, que é considerado a “taxa livre de risco”.

Meus amigos e minhas amigas, crédito privado é uma excelente classe de ativo, existem muitas oportunidades nos papéis, existem excelentes gestoras com ótimos fundos com gestão profissional ativa como opção, mas você, como investidor(a), precisa ser seletivo. Não aceite qualquer oportunidade e fique longe dessas furadas que podem te gerar perda permanente de capital.

Nem tudo que reluz é ouro, nem todo ativo ou fundo de crédito que aparece na sua frente é bom. Seja criterioso(a) e disciplinado(a), pois a primeira regra sempre é não perder dinheiro (e a segunda é nunca se esquecer da primeira).

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Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney