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A “matrix” do IPCA + 6%: a realidade paralela do mercado financeiro brasileiro

O Tesouro IPCA+ voltou a atingir taxas próximas de 6% ao ano de ganho real e se apresenta como uma espécie de pílula vermelha
Por  Lucas Collazo -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caros(as) leitores(as),

O filme “Matrix” conta a história de uma realidade virtual que se contrapõe à realidade “real”. Neo, o protagonista, escolhe ter acesso à novidade ao tomar uma pílula vermelha, em detrimento da versão azul, que faria com que ele desse sequência na vida como estava antes de ser colocado à frente dessa decisão.

Por muitos(as), considerado um clássico do cinema, afinal, marcou uma geração com seu sucesso e cenas de combate muito criativas. Para mim, um excelente paralelo para explicar o que acontece nesse momento com o mercado financeiro brasileiro – explico:

Nessa semana, tivemos dados de inflação altistas nos EUA, a atividade econômica segue robusta e indica que Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Banco Central americano), deve manter a taxa de juros mais alta por mais tempo. Uma informação importante: delimita até onde o BC brasileiro “pode ir” no ciclo de corte de juros.

No último comunicado do time de Roberto Campos Neto, o “plural” foi retirado do texto na menção dos próximos movimentos da autoridade monetária. O compromisso de cortar juros fica em aberto, depende dos dados futuros e da materialização do cenário externo.

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Os juros futuros, que são uma expressão da expectativa futura de juros por parte dos agentes do mercado, aumentaram – a curva “abriu”, como muitos especialistas gostam de falar. Dado esse movimento, títulos de renda fixa passaram a apresentar taxas mais elevadas, o Tesouro IPCA+ (NTN-B), em especial, voltou a atingir taxas próximas de 6% ao ano de ganho real, ou seja, acima da inflação.

Esses papéis do Tesouro Direto são considerados a “taxa livre de risco” no Brasil, o que significa que eles são os ativos com menor grau de risco de crédito, mais conservadores. Isso os elege como o custo de oportunidade, qualquer outro investimento deveria apresentar retornos esperados superiores a essa taxa para que façam sentido.

Talvez não seja tão claro para todos, então serei direto: IPCA + 6% ao ano é muito juro! Qual deveria ser a taxa interna de retorno (TIR) de um ativo para justificar o investimento nele em detrimento do Tesouro IPCA+, por exemplo? O dobro para justificar o aumento de risco?

Essa oferta, que não é comum para demais geografias no mundo, diminui o apetite por risco de parte dos investidores, sejam eles individuais ou institucionais. O fluxo de capital interno passa a migrar de forma mais paulatina para ativos de risco com a queda de juros, deve ser bem gradual e vai requerer paciência dos entusiastas do mercado acionário, por exemplo.

É como se esses ativos fossem uma realidade paralela, virtual, irreal, que só são possíveis no Brasil. O “IPCA + 6%” se torna essa pílula vermelha, sinceramente, torna muito difícil alguém escolher a azul.

Lucas Collazo Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney

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