Ouro deve passar por uma correção, mas continua sendo obrigatório na carteira

Enquanto bancos centrais têm cada vez menos pudor para imprimir dinheiro, metal continua a funcionar como reserva de valor
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O ouro, metal precioso sobre o qual falo há mais de 4 anos, está em voga hoje. Também não é para menos, já que ele, com perdão do trocadilho, está brilhando.

Num ano em que a bolsa está caindo e a taxa de juros, medida pelo CDI, está atingindo mínimas históricas, o metal amarelo já sobe quase 50%. Se olharmos para ele desde o início de 2017, quando ainda estava na faixa dos R$120/g, a valorização foi ainda maior, de quase 200%.

Com isso, muita gente está sendo atraída e correndo para comprar ações de mineradoras ou ETFs do setor. Mas seria essa uma boa hora?

Para responder essa pergunta, é necessário voltar ao que já falei algumas vezes no passado e entender as razões pelas quais eu gosto do ouro.

Em primeiro lugar, é importante saber que o ouro não é somente uma commodity, ele também é uma moeda há mais de 5.000 anos e funciona como uma reserva de valor, coisa que as moedas emitidas pelos governos não conseguem fazer.

Para se ter uma ideia, o dólar americano, moeda de reserva mundial e, por isso mesmo, a mais forte do mundo, já perdeu mais de 90% do seu poder de compra desde a criação do Fed, em 1913.

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O real, apesar de ser a melhor moeda que já tivemos no país (já passei por várias, como o Cruzeiro, Cruzado, Cruzado Novo e URV) é ainda pior, tendo perdido mais de 80% do seu poder de compra com relação ao próprio dólar desde sua criação há menos de 30 anos. Com relação ao ouro, diga-se de passagem, o desempenho é bem pior.

O ouro tem essa vantagem, porque não pode ser impresso da mesma maneira que o dinheiro. Aliás, na era digital, nem é necessário imprimir mais, basta alguns cliques no computador e já se pode criar bilhões e bilhões de dólares do nada.

O ouro, por outro lado, após ser descoberto e minerado, o que envolve o emprego de equipamentos, máquinas, produtos químicos, horas de trabalho, combustível e inteligência, não pode ser multiplicado. Ele ainda tem a vantagem de ser muito denso e não oxidar ou depreciar.

Com a impressão desenfreada de dinheiro por parte dos bancos centrais no mundo inteiro como resposta à pandemia, estamos vendo mais e mais investidores correndo em busca de proteção.

Estimativas da Kitco mostram que menos de 1% da população americana investe em ouro atualmente. Se o volume investido dobrar, e para isso basta que apenas alguns fundos de pensão decidam alocar um pouco dos seus recursos no metal, poderemos ver essa commodity realmente disparar.

Outro ponto é que o ouro é um ativo livre de risco, ou seja, não é dívida de ninguém ou, em outras palavras, não tem risco de contraparte. Desde que ele esteja na forma física e na posse do seu dono, não há risco de default. O mesmo não pode ser dito sobre nenhuma outra forma de poupança ou investimento, em que o ativo de um é o passivo de outro.

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Mas é preciso saber que o ouro teve uma performance meteórica nos últimos anos, especialmente no Brasil. Isso, porque o ouro é cotado em dólares americanos e, com a desvalorização do real, o ouro cotado em moeda local se beneficiou duplamente. Então, uma correção nos preços é esperada e, até mesmo, saudável.

Há anos acredito que todos devam ter uma pequena parcela do seu patrimônio em ouro físico e continuo acreditando, sempre com uma visão de longo-prazo e como seguro contra a insanidade dos bancos centrais, que parecem desconhecer limites e não medem esforços para desvalorizar suas moedas. O retorno estupendo que estamos tendo nos últimos anos é apenas um bônus.

Disclaimer: Esse texto reflete a opinião do autor e não constitui uma sugestão, recomendação, indicação e/ou aconselhamento de investimento. Nenhuma decisão de investimento deve ser tomada com base nas informações ora apresentadas, cabendo unicamente ao investidor a responsabilidade sobre qualquer decisão que venha a tomar.

O autor detém o ativo mencionado em sua carteira proprietária e/ou na de clientes sob sua gestão remunerada.

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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