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Bye Bye, Tesla

Essa devoção é um fenômeno inerente ao homem há milênios, mas nunca achei que fosse atingir uma parte da população concentrada em apenas uma entidade: a Tesla ou, como eu gosto de chamar, a Argentina de rodas. É preciso ter muita fé para abandonar a razão e não conseguir enxergar o que está diante dos olhos: problemas, muitos problemas. Na melhor das hipóteses, só problemas para a Tesla.
Por  Marcelo López
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A religião é uma devoção a um ser supremo, algo sem muita explicação científica, mas que é sentida pelos seus asseclas, algo que chamamos de fé. E com relação à fé, ou você tem ou não tem, não há meio-termo.

Essa devoção é um fenômeno inerente ao homem há milênios, mas nunca achei que fosse atingir uma parte da população concentrada em apenas uma entidade: a Tesla ou, como eu gosto de chamar, a Argentina de rodas.

É preciso ter muita fé para abandonar a razão e não conseguir enxergar o que está diante dos olhos: problemas, muitos problemas. Na melhor das hipóteses, só problemas.

A empresa vem sendo adorada pelos seus seguidores (investidores) como se fosse a próxima Apple ou Microsoft – mas não é, nem será. E quando esses acordarem de seu devaneio, pode ser tarde demais.

Promessas e mais promessas, sem a menor chance de serem cumpridas, sustentam as ações dessa empresa em um patamar muito acima do razoável. Disso não posso reclamar, já que me dá a chance de comprar mais opções de venda ou de vender mais ações a descoberto.

Eu entendo que a empresa esteja tentando construir um mundo mais limpo, mas as notícias boas param por aí. Não vou entrar no detalhe dos prejuízos para o meio ambiente de se produzir baterias, muito menos de recarregá-las.

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O processo bilionário que foi aberto contra a empresa esse mês é, a meu ver, apenas mais um na longa lista que virá. E virá contra seu CEO também, acredite.

A produção do Model 3 sofreu mais um revés, com uma parada, segundo a própria Tesla, preventiva, ainda que não tivesse avisado ninguém sobre isso, o que deve atrasar um pouco o sonho da empresa de produzir os Model 3 de que precisam. E o CEO, para não deixar que as ações caíssem, publicou em seu perfil do Twitter que ele espera atingir uma produção de 6.000 unidades por semana em meados de 2018. Aliás, a Tesla está contratando mais “humanos” para trabalhar na fábrica, depois de Musk ter se gabado há alguns anos de usar robôs para a fabricação de carros (máquinas que fabricam máquinas), ou seja, mais uma guinada de 180º.

O Conselho da empresa também é uma piada. Além de homologar o plano de remuneração de executivo mais absurdo da história, que oferece ao CEO de meio horário (Musk também é CEO da The Boring Company, SpaceX, Neuralink, etc.) uma compensação que pode superar a de todos os CEOs do S&P500 juntos, eles não conseguem colocar um freio no Supremo Líder da Seita, Musk.

A aquisição da Solar City também foi uma piada. Como a empresa especializada em serviços de energia solar estava a um passo da bancarrota, o que afetaria a imagem do imaculado CEO, o Conselho aprovou a aquisição. Hoje a Solar City continua dando prejuízos, mas pelo menos pagando os bonds (para a Tesla, Musk e SpaceX). Só mesmo o conselho da Petrobras sob o comando de Dilma para fazer tamanha lambança.

Ano passado, quando as ações atingiram a máxima histórica, a empresa decidiu emitir bonds (semelhante às debêntures brasileiras) em vez de emitir ações para financiar suas operações. Baita decisão errada! Hoje os títulos da Tesla estão em baixa, pagando algo acima de 7% a.a., o que dificultará o acesso ao mercado de dívida. Assim, provavelmente a empresa recorrerá à emissão de ações para poder se financiar, implicando em mais uma diluição.

O próprio Musk entrou em uma briga recente contra a The Economist, afirmando que a Tesla será lucrativa no terceiro ou quarto trimestre desse ano e gerará caixa. A empresa terá que inventar outra desculpa para o aumento de capital – talvez o Model Y, Roadster ou pick-up. Vamos ver até onde os seguidores dessa religião vão continuar acreditando.

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Com a dívida bastante alta e a queda na demanda pelos seus modelos mais caros (S e X), a empresa está focada na produção do Model 3. Esse é o movimento que eu também quero que aconteça. Se a produção do Model 3 for realmente aumentada, aí sim o caminho para a bancarrota será mais rápido. Se a empresa perde dinheiro produzindo um carro por US$50mil e vendendo por US$35mil, vender mais realmente não é financeiramente interessante. Isso, sem falar nos recalls, que estão lotando as oficinas e gerando mais um passivo para a empresa.

E, por falar em passivos, temos além dos processos e dos recalls, problemas com o autopilot, o acordo com a Panasonic, os pagamentos para o Estado de Nova Iorque e, a partir de 2024, também de Nevada, a rede de supercarregadores, etc. Ah, passivo é o que não falta para essa empresa.

Temos também as desavenças com o NTSB (National Transportation Safety Board), relatórios produzidos com a SEC (Securities and Exchange Commission) e o pequeno fato de que, ainda com os subsídios (que acabarão esse ano), a empresa não consegue gerar lucro. Aliás, nunca na história a Tesla fechou um ano no azul. Imagina agora, que entrarão competidores de peso, como Jaguar, Aston Martin, Mercedes e Audi.

Bom, em nome da religião que se tornou a Tesla, é melhor os atuais acionistas receberem uma excomunhão. Os que se mantiverem lá podem ser queimados no altar sagrado das empresas que vão à bancarrota.

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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