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Um golpe no capitalismo de compadrio

As histórias da XP e de seu fundador, Guilherme Benchimol, mostram que este também pode ser o país do verdadeiro capitalismo
Por  Alan Ghani -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A mentalidade anticapitalista é algo ainda muito presente no Brasil. No colégio, estudamos que o capitalismo visa ao lucro, enquanto o socialismo, a “justiça social”. Aprendemos que o capitalismo é o sistema da desigualdade, e o socialismo da igualdade.

Com isso, é difícil sair do colégio sem uma visão negativa do sistema capitalista. Na faculdade, essa visão anticapitalista é aprofundada, como tão bem demonstrado, com fatos, no livro “A Corrupção da Inteligência”, do antropólogo Flávio Gordon.

Não só o capitalismo é demonizado, mas todos os fatores relacionados a ele também os são, tais como o lucro, a propriedade privada dos meios de produção, as empresas, o capital e o mercado financeiro.

Para piorar, aquela preconcepção ideológica negativa sobre o capitalismo é, em certa medida, intensificada no mundo real pelas relações espúrias entre empresas privadas e governo, misturando o bom capitalismo com o capitalismo de compadrio.

Durante anos, esse capitalismo de compadrio foi o vigente no Brasil. Muitos empresários se enriqueceram com benesses do governo, com ganhos em licitações e juros baixos do BNDES pagos com o dinheiro do contribuinte.

No limite, os favores tornaram-se corrupção, com superfaturamento de obras e comissão para as empresas e políticos. Claro, tudo pago com o dinheiro da população. A Lava Jato não nos deixa mentir.

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Mas se, por um lado, o capitalismo de compadrio foi tão presente no país, por outro, houve inúmeros empresários que geraram renda e empregos para a sociedade, tendo que enfrentar a concorrência bem relacionada com o governo, a alta carga tributária, a burocracia infernal e os juros elevados (hoje já bem menores que no passado).

Dentro desse grupo de empresários, merece destaque um que ajudou a revolucionar o mercado financeiro brasileiro. Sem ajuda do governo e lidando com os problemas mencionados, Guilherme Benchimol funda, com R$10 mil reais, a XP corretora; hoje, uma gigante do mercado financeiro que vale R$70 bilhões de reais.

Junto com a XP, cresce uma verdadeira indústria de investimentos nos país. Fundos, corretoras, researchers, empresas de agentes autônomos e canais de comunicação são responsáveis pela popularização e democratização de investimentos para o cidadão comum no Brasil.

Nesse processo, o setor financeiro gerou milhares de empregos, contribuiu para o PIB e ajudou a formar uma consciência de educação financeira e poupança no país – peça vital para o crescimento de longo prazo de uma economia.

Esses atores começavam a desmistificar aquela ideia pejorativa sobre mercado financeiro, democratizando investimentos para médicos, professores de educação física, taxistas etc.

Aliás, nada é tão democrático quanto o mercado financeiro hoje. Com pouco dinheiro, é possível se tornar sócio da Magazine Luiza sem saber absolutamente nada sobre gestão empresarial, e ainda ter direitos aos lucros (dividendos) e à valorização das ações da empresa. Nada mal, não?

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A importância do mercado financeiro não decorre apenas da possibilidade do cidadão comum se beneficiar da gestão de uma boa empresa, mas também pela importância ao setor real da economia (companhias não financeiras). Há inúmeros estudos científicos que mostram a relação positiva entre desenvolvimento do mercado financeiro com crescimento econômico e redução da pobreza.

Com o crescimento do mercado financeiro no Brasil, a concorrência se intensificou – o que é ótimo para os clientes, ao elevar a qualidade e diminuir o preço dos serviços – e empregos foram formados direta ou indiretamente. Por exemplo, o agente autônomo de investimentos se tornou um business especializado; hoje, com centenas de pessoas trabalhando em escritórios na Av. Faria Lima em São Paulo ou em diversas cidades brasileiras.

A consolidação desse processo vitorioso foi a abertura de capital da XP, na Nasdaq, em Nova York. Não apenas pelo acesso ao maior mercado de capitais do mundo, mas pela reação das pessoas nas redes sociais. Muita gente postava vídeos de Guilherme Benchimol com a bandeira do Brasil, tocando a canção da vitória do ídolo Ayrton Senna.

No fundo, as pessoas não celebravam ali apenas a vitória da XP, mas as suas próprias conquistas. Benchimol representa uma geração de empreendedores que dá certo e de nos orgulhamos – do Brasil do empreendedorismo, das startups, da relação ganha-ganha, das soluções criativas, da eficiência e da inovação.

Benchimol mostra para o mundo que aqui também é o país da produtividade e da inovação, ou seja, do bom e verdadeiro capitalismo, que gera empregos e renda, tirando pessoas da pobreza.

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É inspiradora a história de Guilherme Benchimol, assim como de diversos empreendedores no Brasil que crescem pela competência, pelo esforço e talento, sem favores estatais. Foi emocionante o que aconteceu no dia 11/12/19 – data que poderia ser celebrada como a Revolução Benchimol.

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Alan Ghani é economista, PhD em Finanças e professor de pós graduação

Alan Ghani É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.

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