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Por que cripto e blockchain não acabam com bancos e cartórios?

Tecnologia para fazer melhor existe. O que impede a mudança?
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A pergunta do título desta coluna me foi feita por um amigo e me fez pensar. Minha resposta baseia-se em duas coisas que tenho experimentado e tentado entender nos últimos anos: tecnologia e comportamento humano.

Começando pela tecnologia, seu ritmo de desenvolvimento atual é infinitamente superior ao que nós, humanos, conseguimos acompanhar individualmente.

Os exemplos são inúmeros. Mas, pegando um em que tenho mais experiência, o das criptomoedas, está claro que acompanhar tudo, ou ao menos uma pequena parte do que está sendo criado e discutido, é uma tarefa muito árdua, talvez até impossível.

Tudo acontece 24/7 e em todos os cantos do mundo. Quando você se depara com uma iniciativa que acha espetacular, e começa a querer entendê-la melhor, sempre se surpreende com outras, muitas vezes do outro lado do mundo, encarando o mesmo problema de uma forma muito diferente.

Qual entusiasta de cripto que nunca foi surpreendido por um amigo perguntando sobre uma iniciativa que você nunca ouviu falar que atire a primeira pedra.

Poderia me estender aqui, mas imagino que você também tenha exemplos de outras tecnologias que te afetam e consegue perceber que seu desenvolvimento é mais rápido do que você consegue acompanhar.

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Isso requer uma adaptação muito grande da nossa forma de pensar e agir. A angústia e sensação de estar sempre desatualizado é constante. Saber como conviver e balancear isso é uma arte.

Trocar de grupos de conversa e fazer uma checagem com pessoas de outros setores tem me ajudado a perceber que as discussões que tenho em grupos sobre cripto, e que em geral são fonte dessa angústia, se limitam a ele.

Conversas com pessoas fora desse setor, que não acompanham quase nada de cripto e que hoje são a maioria da população, e amigos que tenho, contrabalanceiam isso.

Isso tem me ajudado a fazer essa ponte entre o que já aprendi sobre esse setor e traduzir para pessoas que ainda estão ao largo de todo esse desenvolvimento.

Essa parte mais individual que descrevi acima é o principal aspecto do segundo ponto que levará à minha resposta para a pergunta do título.

Nossa sociedade é feita por regras que foram criadas durante décadas de convívio social. Elas, diferente da tecnologia, têm outro ritmo. Como o historiador Yuval Noah Harari bem colocou em seus dois livros, “Sapiens” e “Homo Deus”, o ser humano é o único ser capaz de criar e viver com ficções. Isso é o elo principal para que consigamos organizar nossa sociedade.

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Mas essas ficções não são alteradas de forma tão rápida, como no caso da tecnologia. Ficções como religião e sistemas econômicos, o capitalismo por exemplo, se desenvolvem, se atualizam, mas em um ritmo muito menor do que o das tecnologias.

A leitura ao menos do primeiro livro do Harari, “Sapiens”, é recomendada para quem quiser entender melhor esse fenômeno.

Um outro livro para quem quiser entendem melhor o desenvolvimento da tecnologia, e até se assustar um pouco com o que já está disponível e suas possibilidades futuras, é o “LIFE 3.0” do Max Tegmark.

A obra trata, de uma forma super fácil, do desenvolvimento da inteligência artificial e o que está sendo desenhado para o futuro próximo. É um daqueles livros que não consegui parar de ler até acabá-lo

Outro aspecto interessante é que a tecnologia é agnóstica em relação a essa parte social. Criptos e blockchain podem funcionar da mesma forma em qualquer país ou cultura do mundo. Digo “podem” porque, na prática, não é assim que ocorre. Fatores sociais/culturais afetam muito sua implementação.

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Esses aspectos vão desde a forma de contabilização e tributação até fatores éticos e religiosos. Cabe à tecnologia se ajustar para prover essa flexibilidade a seu usuário? Sem dúvida. Mas aí tocamos em outro ponto: o uso de tecnologia tem fatores diferentes em cada cultura. Cada sociedade escolherá seus casos de uso e a velocidade de adoção.

Vejo sociedades, grandes empresas, cartórios, bancos etc. como representações das ficções que construímos. Suas adaptações ao novo são mais lentas, dispersas e diferentes entre si.

Tenho claro que, se fossemos construir tudo do zero, muita coisa seria diferente. Há formas muito mais eficientes de fazermos tudo o que fazemos hoje. Em todas as áreas. Mas a sociedade cria suas ficções e regras para colocar arestas e adequar o uso da tecnologia.

Nesse sentido busco aqui um exemplo do ciclismo, esporte que amo e pratico há vários anos.

Recentemente a UCI, o órgão máximo de ciclismo no mundo, permitiu o uso de freios a disco nas suas provas. Desde então, vemos o Tour de France, o Giro da Itália e vários outras competições sendo dominadas por bicicletas com esse tipo de freio, que já é há muitos anos tido como muito mais eficiente do que os freios tradicionais, principalmente em dias de chuva.

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Mas, se por um lado, essa tecnologia foi incorporada às disputas, por outro, ainda há o limite de peso mínimo pra bicicleta de competição de 6,8 kg, sendo que hoje já são fabricadas bicicletas de competição com menos do que 4,5 kg. Imagine subir aquelas montanhas imensas com 2 kg a menos. Seria fantástico. Tecnologia para isso já está aí, só falta as regras permitirem.

Mudanças de ficção estão longe de terem o mesmo ritmo das mudanças tecnológicas. E vejo essa distância ficando cada vez maior. Como sempre digo: tecnologia para fazer melhor existe, mas cabe definir como e quando será a transição.

O que acha? Vem discutir comigo…

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Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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