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Corrida pela tokenização da moeda está em pleno curso

Sendo tokenização o futuro do mercado financeiro, a moeda será o seu principal token
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Desde que, em 2019, o Facebook, hoje Meta, anunciou uma iniciativa para desenvolver sua stablecoin, a Libra, todos os olhos do mundo do mercado financeiro tradicional se voltaram para o tema da “tokenização” da moeda.

Inicialmente, esse nem foi o nome que usaram. Ainda há muita confusão quando vamos para taxonomia e para algumas siglas e definições. Não é preciso ir longe para notar isso, quem acompanhou as declarações de envolvidos na iniciativa do DREX no Blockchain Rio da semana passada conseguiu perceber isso claramente.

Mas aqui quero ir mais para o nível da floresta do que da árvore. Alguns ganhos da “tokenização” da moeda e, posso dizer, de ativos de modo geral, estão praticamente consolidados no mercado. Entre eles, destacaria a facilidade para automatizar processos, divisibilidade, disponibilidade 24 horas por dia, sete dias por semana, transparência e auditoria das transações.

Todos esses ganhos ainda podem ser maximizados pela criação de um ambiente propenso a inovação que essa “tokenização” traz.

Muitos desses ganhos são inspirados em casos de usos que já são amplamente utilizados e testados no ambiente de DEFI. DEFI, por ser um ambiente não permissionário e fora do controle dos governos, ajuda muito que inovações sejam feitas e, no meu ver, mostram o caminho.

À medida que seus testes vão se consolidando, eles demonstram que podemos ter os mesmos casos de uso que temos hoje no mercado financeiro tradicional (tradfi), mas endereçados de maneira muito mais eficiente e trazendo os ganhos colocados acima. Aqui nem estou falando de inovações em DEFI que tragam soluções muito melhores do que tradfi e que só podem ser implementadas em blockchains ou DLTs.

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Parece ser questão de tempo para que o mercado financeiro tradicional incorpore muitas dessas inovações que DEFI trouxe. E isso já me parece ser um ponto comum em grande parte das discussões.

Não há ente do mercado financeiro tradicional com quem eu tenha falado nos últimos seis meses que não entre no tema da “tokenização”. De iniciativas de stablecoins, a Bancos Centrais e suas CBDCs, passando por iniciativas focadas em auxiliar casos de uso como remessas internacionais, tudo e todos só falam sobre a “tokenização” e seus efeitos.

E, no centro dessa discussão, está o principal token desse novo ecossistema, aquele que representa a moeda que usamos.

Por moeda que usamos, entendam aqui as moedas fiduciárias: Real, Dólar, Euro, Rembini e por aí vai. São moedas emitidas por Bancos Centrais e que, tirando um ou outro ermitão que viva isolado, todos tem que conviver e utilizá-las recorrentemente em todas as interações que faça. Presenciais ou digitais. Aqui vale a constatação, e a palavra é essa mesma, de que a moeda que utilizamos hoje já está devidamente digitalizada em vários formatos, e próximo passo agora é sua “tokenização”.

Entendo “tokenização” como um token que trafegue em uma rede de Blockchain ou DLT. Isso é importante definir pois o termo “token” vem de bem antes dessas tecnologias e muitos o utilizam simplesmente como sendo a representação digital de alguma coisa. Não é disso que estou falando. “Token”, no conceito que uso aqui, é uma representação desse ativo em uma rede de Blockchain ou DLT.

Essa “tokenização” da moeda responde, em geral, por dois nomes: stablecoins ou CBDCs. Do ponto de vista da tecnologia, a diferença entre ambas é pequena. Mas, do ponto de vista do seu emissor, ela é enorme.

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Stablecoins são tokens representativos de moedas fiduciárias em uma Blockchain ou DLT. Há várias formas e modelos para se garantir que essas stablecoins tenham, ou busquem, paridade com o ativo que elas representam, sendo o mais comum o de terem 100% em colateral esse ativo. USDT, USDC e várias outras seguem esse caminho. A operacionalização desse mecanismo de ter 100% de lastro para cada token emitido é feita por uma empresa privada.

No caso de uma CBDC, essa emissão do token representativo da moeda é feita pelo próprio BC.

Como os BCs tem a autonomia de emitir a própria moeda, isso já torna a CBDC melhor do que qualquer stablecoin lastreada que, para além do risco de operacionalização do colateral, tem o risco de crédito do operador, ou emissor da stablecoin.

CBDC tem lastro na confiança do Banco Central. Tal qual a moeda em si. Ao passo que as stablecoins lastreadas têm lastro na moeda emitida pelo BC. Mas, em última instancia, a confiança tem que ser depositada na entidade privada que gerencia esse lastro.

Nos últimos anos, essa disputa para ver quem tem o token de moeda instaurado tem sido enorme. Algumas soluções surgiram do lado das stablecoins, outras morreram e, hoje, temos esse modelo de 100% de colateralização presente nas duas maiores, USDT e USDC, que respondem pela parte majoritária da utilização de tokens representativos da moeda no campo de DEFI.

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A USDC, especificamente por ter envolvida a Coinbase, principal exchange americana e uma das maiores do mundo, ganhou uma boa tração em 2022, mas vem perdendo volume e significância após o evento do Silicon Valley Bank (SVB). Em trajetória oposta, vem a USDT.

Muito já se especulou sobre ela ter ou não o colateral que diz ter e, nos últimos anos, a governança e transparência sobre isso vem aumentando muito.

Do ponto de vista das CBDCs, temos notícia nova toda semana e, muitas vezes, mais do que uma por semana.

Praticamente todos os BCs do mundo estão envolvidos em algum tipo de teste, piloto e/ou grupo de estudos em relação a isso. A China já tem testes sendo feitos. O Banco Central do Brasil já tem piloto do DREX andando. Austrália e Hong Kong acabaram de soltar relatórios sobre pilotos realizados. E por aí vai.

Além disso, plataformas como a SWIFT tem operado, em ambiente restrito, alguns testes com operações reais bem interessantes. Vale lembrar também do BIS, que por meio de seu Innovation Hub, tem coordenado muitos projetos que envolvem vários BCs sobre o tema da interoperabilidade e das transações transfronteiriças.

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Como alguém que está acompanhando isso de perto há pelo menos cinco anos, vejo que o momento de estudos e testes em tradfin está se consolidando. Muito em breve isso tudo estará à disposição de todos. Do ponto de vista de DEFI, também há hoje uma maturidade muito maior nos protocolos e diversos casos de uso devidamente consolidados.

Estamos nos aproximando a passos largos do momento em que utilizaremos a moeda “tokenizada” de forma fácil, ágil e transparente, viabilizando a eficiência e casos de uso somente possíveis devido a isso. E o melhor: a maioria de nós talvez nem perceba isso acontecendo.

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Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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