Dividendos em criptomoedas estão virando realidade em DeFi?

Novo modelo que alinha usuários, investidores e provedores de liquidez pode estar no centro da grande transformação de DeFi no momento
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Um dos conceitos que vem ganhando corpo em cripto e, mais precisamente, em DeFi, é o conceito de Real Yields (ganhos reais), que envolve o protocolo devolver para os usuários parte dos resultados que são gerados por ele. A ideia não é muito diferente do de uma ação que paga dividendos – a distinção está no modelo de negócios e em esse “dividendo” ser definido em código de programação.

Um dos protocolos que está encampando essa nova tendência é o GMX, focado em derivativos e presente nas redes Arbitrum (segunda camada do Ethereum) e Avalanche (AVAX). Os resultados da plataforma podem ser auferidos pelos investidores de duas formas: via a compra do token de governança GMX, que recebe 30% da receita da plataforma; ou via provedor de liquidez, comprando o índice GLP para onde vão os 70% restantes. No caso do GLP, há ainda um ganho ou perda relativo aos trades feitos contra esse pool: se os trades ganham, o GLP e os provedores de liquidez perdem; se os trades perdem dinheiro, o pool (e quem depositou liquidez) ganha.

O conceito em si não é de todo novo. A Uniswap (UNI) já remunera os seus provedores de liquidez com distribuição de receita, mas não inclui os detentores do token da plataforma. No caso da Uniswap, portanto, comprar o token de governança UNI não dá o direito de receber parte da receita, como acontece com o GMX.

Os efeitos positivos do incentivo adotado pelo GMX são muito grandes, e mais ainda em um momento em que investidores buscam apostas mais seguras e geradoras de caixa. A performance da ação da Apple, que é amplamente geradora de caixa, vis a vis os seus pares em tecnologia (Alphabet, Meta ou Microsoft), é um exemplo claro desse momento.

O conceito de Real Yields, dessa maneira, gera um alinhamento muito importante entre o usuário, o provedor de liquidez e o sistema de governança, ou seja, a ideia de que você pode utilizar a plataforma, ser cada vez mais seu “dono” e ser remunerado por isso. É uma tendência muito forte em cripto, onde vemos cada vez mais esses agentes se misturando.

O curioso nesse mecanismo é que quando penso em investimento em cripto tenho claro que estou investindo em uma startup, que podem ter um potencial enorme, mas com risco equivalente. E que, nesse tipo de investimento, é comum haver grande consumo de caixa no início e, se tudo der certo, ele se refletirá em um aumento do preço das suas ações (ou nos tokens) no futuro.

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Em Real Yields, esse conceito se altera. O investimento no token de governança, que guarda muita similaridade com uma ação, já começa a receber “dividendos” associados à utilização da plataforma logo no começo, o que não é esperado em um investimento em startups no mercado tradicional.

Alguns críticos diriam que isso faz com que a exponencialidade dessas plataformas seja menor, pois esse dinheiro não está sendo reinvestido para que a plataforma fique cada vez maior e adquira novos usuários. Ledo engano. Em uma startup, um dos índices mais importantes é o CAC (custo de aquisição de clientes) e, no caso de Real Yields, esse custo é bem baixo, pois está associado ao sucesso da plataforma e sua utilização, e não a um gasto direto em outras formas de se adquirir clientes. Em relação ao desenvolvimento da plataforma, o grupo de founders sempre tem uma posição no token de governança, o que faz com que eles também sejam remunerados com os ganhos da plataforma, além de terem o ganho de longo prazo do token de governança.

Esse modelo tem se mostrado muito efetivo em conseguir atrair investidores e, até o momento, manter novos usuários e ter os incentivos da plataforma alinhados em todos os níveis: usuários, investidores, provedores de liquidez, desenvolvedores, etc. E me parece que isso é só o começo. Já escuto de alguns lugares que alguns protocolos de DeFi mais antigos e consolidados já estão discutindo como alterar o tokenomics dos seus tokens para esse modelo.

Uma das discussões presentes também tem a ver como se mede o sucesso de uma plataforma de DeFi. O índice TVL (sigla em inglês para Valor Total Bloqueado), que indica a quantia depositada por investidores em pools de liquidez, tem se mostrado pouco efetivo. Isso porque muitos episódios demonstraram que esse dinheiro alocado flui muito rapidamente para protocolos que tenham incentivos de curto prazo maiores tão logo eles surjam. Para manter os investidores, o protocolo precisa então aumentar continuamente os incentivos para que o dinheiro não migre para outro lugar, criando uma dinâmica perversa e insustentável no longo prazo.

Em Real Yields, o incentivo de manter o investimento já está dado, pois quanto maior o sucesso, a liquidez e o movimento da plataforma, maior será o ganho auferido pelo provedor de liquidez. A relação é direta e já está pré-definida.

Se o TVL deveria ou não ser um dos índices relevantes para ser acompanhado nas plataformas de DeFi, minha interpretação é que aqui não há uma bala de prata ou índice único: o TVL compõe um espectro de índices que têm que ser observados para analisar a progressão da plataforma. Outros importantes também são: entrada de novos usuários, quantidade de negociações, concentração de usuários, entre outros.

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Olhando para o modelo de Real Yields, uma coisa que é clara é que ele surge da experimentação de vários modelos que tentaram alinhar usuários, investidores e provedores de liquidez, e que foram muito testados nos últimos anos. Será ele o santo graal que se procura em DeFi? Difícil dizer, mas que ele endereça vários pontos que foram fonte de instabilidade nos modelos anteriores e que tem um grande potencial, disso não há dúvidas.

Fico por aqui e aguardo seu feedback.

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Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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