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Como se comportarão as criptomoedas caso ocorra um grande crash do mercado financeiro tradicional?

Minha visão é que, em uma crise como um grande crash do mercado financeiro, a melhor posição para se estar continuará a ser em dólar
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Muito se tem falado sobre um iminente grande crash do mercado financeiro tradicional, que o S&P subiu muito e que os múltiplos estão em níveis insustentáveis. Ouvimos fatos e rumores de problemas financeiros em empresas chinesas, discussões sobre a massiva emissão monetária dos últimos anos e por aí vai.

A despeito de muitas dessas previsões estarem aí há um tempo e, tal qual um relógio parado que acerta a hora duas vezes por dia um dia haverão de estar certas, meu objetivo aqui não é prever se e quando essa crise vai acontecer, mas sim qual a melhor posição nesse momento.

Vejo também pessoas falado favoravelmente sobre criptos, principalmente o Bitcoin, por sua escassez, facilidade de compra, e por ter sido, em muitos momentos, descorrelacionado com os movimentos do mercado tradicional.

Minha visão é que, em uma crise como a que apresentam, como um grande crash do mercado financeiro, a melhor posição para se estar continuará a ser em dólar. Não serão commodities, terra, uranio, bitcoin ou ouro os ativos para onde todo o dinheiro do mundo irá para tentar buscar um abrigo.

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O racional para isso vem de alguns fatores. O principal é o tamanho do mercado do dólar e a quantidade de ativos cotados ou negociados contra ele. Não há hoje outra porta de saída. Qualquer operação que necessite de liquidez e volume de negócios ainda tem que ao menos ser triangulada por essa moeda. E na hora do horror, o que todos farão será trocar seu ativo de risco, seja ele ouro, bitcoin ou ações, por ele.

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Especificamente sobre o bitcoin, cada vez mais seu movimento está atrelado aos movimentos do mercado financeiro tradicional. Várias pontes entre institucionais e o mercado cripto estão sendo construídas e isso faz com que os movimentos sejam cada vez mais correlacionados. No momento que escrevo, há rumores de que a SEC autorizará o primeiro ETF de Cripto nos EUA.

Como exemplo, peguemos a Bolsa brasileira: se ela tem uma queda de, digamos, 20% em um dia, o que você acha que a pessoa que tem na sua carteira ETF de cripto fará? Onde ela vai buscar realizar para cobrir margens, perdas etc.? Lógico que vai vender o que tiver de ETFs de cripto para isso. É por isso que em momentos de ruptura de mercado, pode esquecer a descorrelação de ativos. Todos vão no mesmo sentido: procura por liquidez, caixa. Cash is king, como dizem.

Estou terminando de ler um livro sobre a atuação dos banqueiros centrais dos EUA, França, Alemanha e Inglaterra durante o período de 1920 a 1930. É curioso ver como podemos aprender com a história.

Durante seis semanas em 1929, no período em que temos a famosa Black Monday, o Dow Jones caiu mais de 50%. Isso mesmo, 50%. A tentativa de socorro começou com um grupo de bancos anunciando suporte ao mercado (compra de um valor considerável de ações), o que teve efeito limitado, e terminou com o Fed fazendo o que fosse necessário para suportar o mercado. O que tem isso de diferente de hoje? Apesar de tecnicidades e formas de fazer, o conceito não difere.

Um ponto interessante, e que a economia comportamental explica, é que perdemos parâmetro nessas altas. Tendemos a olhar somente o período curto e prever, em geral, movimentos de queda muito menores do que o que efetivamente ocorrem nesses períodos.

Outro ponto é que, quando vejo essas tentativas recorrentes de tentar dar sempre o mesmo remédio ao paciente, lembro-me do período quando o Brasil tinha câmbio quase fixo e a forma do Banco Central manter a paridade era por meio de movimentos da taxa de juros para atrair capital.

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Tivemos, se não estou enganado, três momentos em que foi necessária uma alta considerável na taxa de juros para que esse capital especulativo, ou hot money, viesse. As magnitudes eram outras, coisa como subir a taxa Selic de um dia para outro de 20% a.a. para 40 ou 45% a.a..

O que se via claramente, e depois levou à necessidade de se deixar a moeda flutuar, é que os efeitos dessas medidas eram claramente decrescentes até que quase não tiveram efeito. O paralelo com as condições de um enfermo é interessante. É como se o doente precisasse cada vez de mais remédio, mas chega um momento que aquele remédio em uma quantidade altíssima não tem mais efeito.

E aí é que vêm as grandes rupturas.

O importante é ter um ativo que possa ser trocado por qualquer outro que você queira naquele momento. Aqui volto no ponto, qual esse ativo? O dólar, cash!

Isso que descrevi são os momentos iniciais da crise, ou o crash dos mercados. Igualmente importante é ver o que vem a seguir, mas isso é assunto para outro artigo.

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Neste momento, o que é claro para mim é que se você realmente acha que uma crise enorme se apresenta, a melhor posição que pode ter é caixa e, de preferência, em moeda forte, dólar. Com ele você terá oportunidade de comprar bitcoin, terra, ouro, uranio ou qualquer outro ativo a um preço muito mais barato quando a crise se apresentar.

Material acessório:
Livro: Lords of Finance: The Bankers Who Broke the World
SEC Said Set to Allow Bitcoin Futures ETFs as Deadline Looms – Bloomberg

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Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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