Brasil bate recorde de pedidos de demissão em 12 meses, aponta pesquisa

Foram quase 6,2 milhões de pedidos, segundo a LCA Consultores, o equivalente a 1/3 de todos os desligamentos registrados no último ano

Equipe InfoMoney

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Mesmo em um cenário de desemprego alto e parte da população com dificuldades para voltar ao mercado de trabalho, o Brasil bateu recorde de pedidos de demissão nos últimos 12 meses, apontam dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) compilados pela LCA Consultores.

Foram 6.175.088 pedidos de demissão, de trabalhadores com carteira assinada, entre junho de 2021 e maio de 2022 — mais que os 5.980.401 acumulados até abril e que o recorde anterior, de 5.838.788 pedidos em março de 2014 (veja mais abaixo sobre a série histórica).

Os números foram divulgados primeiramente pelo g1, e os quase 6,2 milhões de pedidos voluntários de demissão representam um terço de todos os desligamentos registrados nos últimos 12 meses (18,7 milhões).

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Número de pedidos de demissão acumulados em 12 meses, segundo o Caged (Fonte: LCA Consultores)

Mercado aquecido

O país tem mostrado um mercado de trabalho aquecido nos últimos meses, com a criação de vagas formais e informais mesmo com a inflação persistentemente alta e uma taxa de juros fortemente contracionista (o IPCA acumulado em 12 meses está em 11,73% e a Selic, em 13,25% ao ano).

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Só em maio foram criados 277.018 empregos formais, uma forte alta em relação a abril (196.966) e um resultado muito acima da expectativa do mercado (192.750). Isso mesmo com 572.364 demissões “a pedido”, o segundo maior valor da série histórica (o recorde é de março deste ano: 603.136 pedidos).

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Com o Caged de maio, o país ampliou a criação de vagas de trabalho formal em 2022 para 1.047.611 novos empregos com carteira assinada e total de brasileiros com regime de trabalho CLT para 41.729.858.

Motivos para sair

Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores responsável pelo levantamento, diz que os pedidos voluntários de demissão (feito pelos próprios trabalhadores) podem ser explicados por dois motivos:

  1. O início do processo de normalização do mercado de trabalho: muitas pessoas aceitaram empregos com remuneração menor durante os dois anos de pandemia e agora voltam para posições mais condizentes com suas habilidades;
  2. A volta ao trabalho presencial em muitas empresas: muitos trabalhadores repensaram sobre as relações de trabalho após a experiência do home office (eles não querem gastar mais tempo com deslocamento, trânsito, transporte público, etc).

Novo Caged

A série histórica do Caged começa em janeiro de 2004, mas sofreu alterações em sua metodologia a partir de janeiro de 2020, então, as bases não são totalmente comparáveis (antes e depois da mudança).

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Imaizumi diz que o novo Caged gera saldos de contratações superiores ao que era verificado antes de janeiro de 2020, por incluir duas novas modalidades de contrato de trabalho: o intermitente e o parcial, criados pela Reforma Trabalhista de 2017.

O economista da LCA afirma também que a nova metodologia não consegue capturar bem os desligamentos e cita um estudo que aponta que o novo Caged registrou um saldo positivo de 300 mil vagas a mais do que o antigo entre abril e dezembro de 2019.

Grande Renúncia: fenômeno global

Os trabalhadores que estavam insatisfeitos no emprego em 2020 preferiram continuar com a segurança de um holerite mensal a enfrentar o desconhecido. Passado o que se imagina ser o momento mais crítico do embate com o coronavírus, esses profissionais decidiram “largar a caneta” — de vez.

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É nesse panorama que surge o movimento conhecido como Great Resignation (Big Quit ou Great Reshuffle também são usados), que pode ser traduzido como a “Grande Debandada” ou a Grande Renúncia, em uma tradução livre para o português.

O movimento passou a ser usado, primeiro, nos Estados Unidos e vem se espraiando em alta velocidade  pelo mundo — como mostram os números recentes de demissões a pedido no Brasil.

Especialistas apontam quatro grandes motivos para essa onda global de pedidos de demissão:

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1) cultura tóxica das companhias;
2) insegurança dentro da organização;
3) excesso de pressão;
4) falta de reconhecimento profissional.

Para Alexandre Pellaes, ex-CEO da 99jobs, consultor de gestão e mestre em psicologia do trabalho pela USP, a crise não foi apenas sanitária.

“Durante a pandemia, muitas empresas entraram em crise, o mercado mudou e ainda está em transformação. Todas essas mudanças geram uma insegurança para quem faz parte dessas organizações”, afirma.

O excesso de pressão, para o especialista, tem a mesma raiz.

“O discurso nas corporações é que precisamos mudar, nos reinventar, criar coisas novas imediatamente. É tudo para ontem. E isso leva ao quarto ponto, de falta de reconhecimento profissional: ao mesmo tempo em que existe o estresse e a pressão por inovar, os funcionários não estão sendo reconhecidos”, diz Pellaes. “Os quatro motivos formam uma espécie de quarteto fantástico que pode levar um grande número de colaboradores a pedir para sair”.