Ata do Copom: BC projeta inflação de 4% em 2023 e juros mais altos por mais tempo

BC fala em trazer o IPCA para o 'redor da meta no horizonte relevante' e diz que Selic precisará subir e ficar mais tempo acima do cenário de referência

Lucas Sampaio

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O Banco Central admitiu na ata do Copom (Comitê de Política Monetária) divulgada nesta terça-feira (21) que a inflação não deve convergir para o centro da meta em 2023, apesar da extensão do ciclo de alta de juros, e disse que a Selic vai precisar subir mais e permanecer mais alta por mais tempo para combater a alta de preços.

A meta de inflação do BC para 2023 é de 3,25%, com uma margem de 1,5 ponto percentual (ou seja, será cumprida se ficar entre 1,75% e 4,75%), e a autoridade monetária fala agora em “trazer a inflação projetada em 4,0% para o redor da meta no horizonte relevante” (deixando de usar a expressão “centro da meta”, como já havia feito no comunicado divulgado após elevar a Selic para 13,25% ao ano).

O Copom diz que o IPCA não deve convergir para a meta mesmo com a continuação do clico de alta de juros e com a Selic mais alta por mais tempo (e acima do cenário de referência). Atualmente, o BC projeta uma taxa de juros de 13,25% ao ano no fim de 2022, 10,0% em 2023 e 7,50% em 2024; nessas condições, a inflação terminaria os respectivos anos em 8,8%, 4,0% e 2,7%, respectivamente. Já o mercado projeta um IPCA menor neste ano (8,5%) e maior nos seguintes (4,7% e 3,25%).

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“O Comitê avalia, com base nas projeções utilizadas e seu balanço de riscos, que a estratégia requerida para trazer a inflação projetada em 4,0% para o redor da meta no horizonte relevante conjuga, de um lado, taxa de juros terminal acima da utilizada no cenário de referência e, de outro, manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência”, diz a ata do Copom.

“Dessa forma, a estratégia de convergência para o redor da meta exige uma taxa de juros mais contracionista do que o utilizado no cenário de referência por todo o horizonte relevante”, aponta o documento (comunicação diferente do Copom em maio, quando o BC não citou a palavra “estratégia” nem a expressão “redor”). Para o cenário de referência, o BC projeta o câmbio a US$ 1 = R$ 4,902 e o barril de petróleo a US$110 no fim do ano, além de bandeira tarifária amarela nas contas de luz em dezembro de 2022, de 2023 e de 2024.

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Essa projeção, no entanto, não incorpora o impacto dos projetos que estão sendo votados no Congresso para reduzir os preços dos combustíveis, da energia elétrica e das telecomunicações, como o PLP 18/2022 e a PEC dos combustíveis, e o Copom ressalta que “a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual e cresceu desde a última reunião”. A ata do Copom diz que esses projetos diminuem a projeção da inflação para 2022, mas elevam a dos próximos anos (em menor grau). “As medidas tributárias em tramitação reduzem sensivelmente a inflação no ano corrente, embora elevem, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante de política monetária”.

Problemas globais e inflação persistente

O documento voltou a ressaltar que os efeitos da guerra na Ucrânia e dos lockdowns na China “podem ter consequências de longo prazo e se traduzir em pressões inflacionárias mais prolongadas na produção global de bens” e também destacou a degradação do cenário internacional com maiores taxas de juros em todo o mundo, o que levará a uma desaceleração da economia global. “O ambiente externo seguiu se deteriorando, marcado por revisões negativas para o crescimento global prospectivo em um ambiente de fortes e persistentes pressões inflacionárias”.

No Brasil, a ata do Copom diz que “a inflação o consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, se mostrando mais persistente que o antecipado”, e que os últimos dados vieram acima do esperado “tanto em componentes mais voláteis como naqueles mais associados à inflação subjacente”. “Os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária seguem com inflação elevada e as diversas medidas de inflação subjacente aceleraram, mantendo-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”.

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Nova alta na próxima reunião

O Copom avalia que tanto a dinâmica inflacionária de curto prazo quanto suas projeções mais longas se deterioraram, apesar de o ciclo de aperto monetário corrente ter sido “bastante intenso e tempestivo” (a Selic saiu de 2% em março do ano passado para 13,25% em cerca de 15 meses, o aperto monetário mais forte desde 1999). O documento também destaca que a forte alta dos juros ainda não foi sentida completamente na economia (“devido às defasagens de política monetária, ainda não se observa grande parte do efeito contracionista esperado bem como seu impacto sobre a inflação corrente”).

Com a 11ª elevação consecutiva da taxa básica de juros, a Selic atingiu o nível mais alto desde janeiro de 2017 (quando estava em 13,75% ao ano). Ao mesmo tempo, o IPCA desacelerou em maio e veio abaixo do esperado pelo mercado (0,47%), mas a inflação acumulada em 12 meses ainda segue acima de dois dígitos (11,73%). A alta de preços está muito acima da meta do BC para 2022 (que é de 3,5% com margem de 1,5 ponto percentual), mas a autoridade monetária já admite que não vai conseguir cumpri-la pelo segundo ano consecutivo.

Diante do atual cenário, o comitê avaliou que manter a Selic em 13,25% ao ano por mais tempo “não asseguraria, neste momento, a convergência da inflação para o redor da meta no horizonte relevante”, por isso decidiu sinalizar ao mercado que haverá uma nova alta de 0,5 ou 0,25 ponto percentual na próxima reunião, no começo de agosto. “Essa estratégia foi considerada a mais adequada para garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos”, diz a ata. O documento ressalta que essa postura “reflete o aperto monetário já empreendido, reforça a postura de cautela da política monetária e ressalta a incerteza do cenário”.

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Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.