Dez BDRs para quem busca dividendos em 2022; mineradoras dominam, mas apenas uma deve pagar acima da Selic

Produtoras de commodities se beneficiam da alta dos preços das matérias-primas; segmentos tradicionais incluem telecomunicações e até tabaco

Katherine Rivas

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Para o investidor que busca gerar renda passiva investindo em ações, existem opções também no mercado internacional para receber dividendos, por meio dos BDRs (Brazilian depositary receipts, recibos de ações listadas no exterior).

Além de investir em ativos internacionais – atrelados a uma moeda forte – e fugir do risco Brasil, criar uma estratégia de BDRs com foco em dividendos amplia as opções para o investidor. Enquanto na Bolsa brasileira existem cerca de 400 ações, o número de BDRs listados (incluindo patrocinados e não patrocinados) era 958 até esta quarta-feira (16).

Cerca de 1,4 milhão de pessoas físicas investem em BDRs, segundo a B3. O produto foi o que mais cresceu em 2020, registrando um aumento de 994% no número de CPFs cadastrados.

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Como montar uma carteira de dividendos com BDRs?

No entanto, existem algumas diferenças no pagamento de dividendos por ações brasileiras e por BDRs que não podem ser ignorados pelo investidor. Jennie Li, estrategista de ações da XP, explica que as principais estão ligadas à obrigatoriedade ou não de distribuir dividendos e à tributação.

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No Brasil, por exemplo, todas as empresas de capital aberto precisam distribuir um dividendo mínimo obrigatório. Quando previsto no estatuto da companhia, ele pode ser de qualquer tamanho – por exemplo, 1% do lucro líquido ajustado. Contudo, se o valor não estiver descrito no documento, a obrigação de pagar proventos passa a ser de 50%.

Mas o movimento mais comum nas empresas de capital aberto brasileiro é a distribuição de 25% do lucro líquido ajustado aos investidores como dividendos mínimos, previstos no estatuto da companhia.

Já nos Estados Unidos, não existe obrigação de distribuição de dividendo mínimo, explica Jennie Li. “Pode ter o caso de uma empresa que gera muito lucro, que não apresenta forte crescimento, e que deveria pagar dividendo, mas vai usar o recurso para investir em outra coisa”, reforça.

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Outra diferença importante para o acionista é a tributação. Enquanto no Brasil os dividendos são isentos de Imposto de Renda e os juros sobre capital próprio estão sujeitos a uma tributação de 15% retida na fonte, nos Estados Unidos os dividendos são tributados em 30%.

Segundo Jennie, somados os descontos do imposto que incide sobre os dividendos e as taxas cobradas pela instituição financeira que originou o BDR, o investidor receberá em média de 60% a 70% do provento pago.

Mesmo com estas diferenças, a estrategista da XP considera importante ter uma exposição dolarizada em BDRs por conta da diversificação. “Auxilia o investidor a se proteger de riscos domésticos, principalmente em ano eleitoral, e da desvalorização do real, muito comum nos últimos anos”, destaca.

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Considerando que nem todos os BDRs pagam dividendos, a Economatica realizou um levantamento, a pedido do InfoMoney, dos dez melhores pagadores de proventos para o investidor obter uma renda em dólar em 2022. Foram considerados os dividendos projetados para os próximos 12 meses, a partir do dia 11 de fevereiro.

Conheça os dez BDRs que devem pagar mais dividendos em 2022:

BDR  Dividend yield projetado para os próximos 12 meses Setor
Rio Tinto (RIOT34) 11,95% Mineração de metais
Mobile Telesystems (M1BT34) 9,90% Operadoras de telecomunicações sem fio (exceto satélite)
BHP Group (BHPG34) 8,60% Mineração de metais
Sibanye Stillwater (S1BS34) 8,03% Mineração de metais
China Petroleum (C1HI34) 7,31% Indústria de produtos de petróleo e carvão
Ternium (TXSA34) 7,18% Transformação de aço em produtos de aço
Lumen Technologies (L1MN34) 6,90% Operadoras de telecomunicações a cabo
British American Tobacco (B1TI34) 6,41% Indústria de tabaco
Telefônica (TLNC34) 5,79% Operadoras de telecomunicações a cabo
Sl Green (S1LG34) 5,78% Outros fundos

Fonte: Economatica Brasil

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*O DY projetado é válido desde que a empresa mantenha a política de distribuição de dividendos de 2021, tenha lucro em 2021 igual ou superior ao de 2020 e a ação tenha sido adquirida no último pregão de 2021.

Entre os dez maiores pagadores se destacam os BDRs de empresas dos segmentos de mineração, telecomunicações, indústria de petróleo, aço e indústria de fumo.

Apenas um BDR deverá oferecer uma taxa de retorno com dividendos (dividend yield) acima dos juros básicos da economia brasileira – a Selic atual está em 10,75% ao ano. É o caso do BDR da mineradora Rio Tinto, com dividend yield projeto de 11,95% para os próximos 12 meses.

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Que setores são os melhores para ganhar com dividendos?

No Brasil, tradicionalmente, as boas pagadoras de dividendos se concentram em setores resilientes como bancos, telecomunicações, saneamento, seguros e energia elétrica.

Segundo especialistas consultados pelo InfoMoney, para quem busca dividendos em dólar, destacam-se os BDRs de companhias perenes, que geram muito caixa e não se encontram em um processo acelerado de crescimento. Entre os segmentos que mais remuneram os acionistas lá fora, os especialistas citam commodities, energia, utilites (produtos ou serviços essenciais), bancos, telecomunicações, petróleo, indústria de fumo e imobiliário.

Felipe Paletta, sócio-fundador e analista da Monett, aponta que os segmentos mais tradicionais são telecomunicações, petróleo e indústria de fumo. Já o setor de commodities carrega um pouco da sazonalidade do setor.

“Na indústria de fumo, os preços das ações vêm apresentando queda há décadas, o que acaba propiciando um dividend yield maior”, explica Paletta. Isso porque a taxa de retorno é calculada dividindo o valor distribuído em dividendos pela cotação da ação – portanto, quando o preço da ação diminui, o resultado aumenta.

O setor de telecomunicações oferece previsibilidade, segundo o analista. E no de petróleo, a retomada dos preços favorece um dividend yield acima da média.

Mineradoras e outras empresas de commodities também pagam bons dividendos, mas têm se beneficiado especialmente do ciclo de alta dos preços das matérias-primas nos últimos anos, puxados seja pelos estímulos da China ou pelo movimento de transição energética.

Embora mais cíclicas, as empresas de commodities são apontadas por analistas como uma boa alternativa para ganhar dividendos com BDRs em 2022, dolarizar a carteira e se proteger da inflação. Segundo Sidney Lima, analista da Top Gain, com o dólar forte, estas companhias tendem a acumular mais caixa. “Isso torna esses BDRs ainda mais atrativos”, diz.

Os BDRs com dividend yield mais alto

Rio Tinto (RIOT34)

Segundo o levantamento da Economatica, o BDR que mais deve pagar dividendos em 2022 é o da Rio Tinto, com um dividend yield projetado de 11,95%, o único acima da Selic.

Nos últimos três anos, a companhia remunerou bem seus acionistas. Em 2020, teve retorno em dividendos de 6,05%, enquanto em 2021 o dividend yield foi de 12,48%.

Comparando com as empresas brasileiras, a tese da Rio Tinto se parece com a da Vale (VALE3), segundo Paletta, da Monett. Ambas se beneficiam do ciclo de alta do minério de ferro, que no preço atual garante bons lucros para as mineradoras. “Rio Tinto tomou a posição da Vale como maior produtora de minério de ferro do mundo”, destaca.

Além de minério, a Rio Tinto também diversifica a produção com outras commodities metálicas, como cobre e alumínio, minerais com forte tendência de alta nos próximos anos. “Esta diversificação vai ajudar a destravar valor da companhia, que se encontra muito barata no momento”, diz.

Segundo Rodrigo Crespi, analista de ações da Guide Investimentos, Rio Tinto é conhecida por pagar bons dividendos aos acionistas. Ele destaca que o payout da mineradora – parcela do lucro líquido destinada ao pagamento de proventos – é de 60%. “E pode se elevar por meio de dividendos extraordinários”, destaca. Ambos os analistas mantêm Rio Tinto nas carteiras recomendadas de BDRs.

Mobile Telesystems (M1BT34)

O BDR que ocupa a segunda posição no ranking de melhores pagadores para 2022 é o da empresa de telecomunicações Mobile Telesystems. Segundo a Economatica, o papel deve ter um retorno em dividendos de 9,90% nos próximos 12 meses. Em 2021, o dividend yield foi de 8,67%.

Antonio Samad Júnior, CEO da mesa proprietária Axia Investing, explica que a Mobile é a maior operadora de telefonia móvel na Rússia, fundada em 2003. “A companhia paga dividendos regularmente na Rússia desde 2006”, destaca.

Os BDRs são listados no Brasil desde 2020. “O investidor local pode aproveitar esse histórico de bons pagamentos de dividendos da empresa russa e pegar carona nos BDRs para participar dos proventos aqui no Brasil”, aponta Samad.

BHP Group (BHPG34)

Na terceira posição se encontra a mineradora BHP, com um retorno em dividendos de 8,60% previsto para os próximos 12 meses. Em 2021, o BDR apresentou dividend yield de 9,25%, superior ao de 2020, de 4,93%.

Rodrigo Crespi, da Guide Investimentos, destaca que o minério de ferro é a maior fonte de lucros da mineradora, gerando mais caixa e remunerando melhor seus acionistas graças à elevação dos preços. No entanto, a BHP também possui outras fontes de receita como cobre e níquel, que fornece para empresas como a Tesla.

Entre os pontos de atenção, Crespi lembra que a BHP é uma das proprietárias da Samarco, por meio de uma joint venture com a Vale. A companhia esteve envolvida na tragédia de Mariana (MG), em 2015, quando uma barragem se rompeu causando 18 mortes.

Sibanye Stillwater (S1BS34)

Ocupando o quarto lugar no ranking está uma mineradora de metais preciosos da África do Sul. A Sibanye Stillwater é a maior produtora de platina do mundo e uma das maiores em paládio e ouro.

Segundo Crespi, a mineradora é fornecedora industrial, especialmente no segmento de conversores de automóveis. “A Sibanye vai se beneficiar com a retomada de produção de automóveis”, destaca. Outro foco de atuação é a exploração de cobre e níquel para uso em baterias em carros elétricos.

Crespi destaca que a mineradora paga dividendos semestralmente e tem como meta distribuir de 25% a 35% do seu lucro aos acionistas. De acordo com a Economatica, o retorno em dividendos projetado para os próximos 12 meses é de 8,03%.

China Petroleum (C1HI34)

Para quem gosta de petróleo e não se sente confortável de se expor a Petrobras (PETR4), o BDR da China Petroleum pode ser uma boa alternativa, segundo analistas. O dividend yield da companhia projetado para os próximos 12 meses é de 7,31%.

Sidney Lima, da Top Gain, aponta que a China Petroleum é uma oportunidade por sua capacidade de gerar caixa, com boa parte da receita dolarizada, ultrapassando a média de pagamentos de empresas internacionais.

“Nós últimos quatro anos, a empresa foi uma boa pagadora de proventos, se comparada a pares internacionais. Em 2018 ela pagou 9,86% em dividendos. Em 2019, foram 6,6% e em 2020, 4,82%”, destaca. Segundo a Economatica, em 2021, o retorno da China Petroleum em dividendos foi de 8,78%.

Crespi, da Guide, destaca também que apesar das preocupações ESG (social, ambiental e governança), que têm levado o mundo a buscar fontes de energia renovável, os dividendos devem continuar polpudos. Isso porque no lugar de ter que investir no refinos do petróleo, a companhia passaria a distribuir proventos.

BDRs para ganho de capital, além de dividendos

Fora as maiores pagadoras, há ainda outras oportunidades de mercado para inserir em uma estratégia de dividendos, porém com um retorno menor. São BDRs recomendados pelos analistas para uma estratégia mista – de crescimento com proventos.

Paletta, da Monett, recomenda ativos que entregam um dividend yield ainda acima da média do índice S&P 500, como Coca-Cola (COCA34) e Unilever (ULEV34), que podem se beneficiar da retomada do varejo no pós-pandemia. Paletta estima um retorno em dividendos para as empresas de 3% e 4% ao ano, respectivamente.

O megainvestidor Warren Buffett investe na Coca-Cola desde a década de 1980, por exemplo, porque a companhia expande seu lucro por ação todo ano.

Outros presentes na carteira da Monett são a mineradora de ouro Newmont (N1EM34), com um retorno em dividendos projetado de 3% para 2022, e a CME Group (CHME34), maior bolsa de derivativos financeiros do mundo, com um dividend yield de 2,7%.

Para quem quer surfar na onda do petróleo e ainda ganhar com a valorização da ação, Crespi cita ConocoPhillips (COPH34), Exxon Mobil (EXXO34) e Royal Dutch (RDSA34), BDR da Shell. “Todos remuneram abaixo da China Petroleum, mas podem ser uma mistura de ganho de capital com dividendos”, destaca o analista da Guide.

Mas atenção: nem todos os BDRs pagam dividendos. Algumas empresas podem optar por investir no negócio ou até mesmo recomprar ações. Jennie Li, da XP, explica que a recompra de ações é também uma forma de recompensar os acionistas, um indicativo de que ação está desvalorizada. “Com menos papéis disponíveis no mercado, o preço da ação sobe e beneficia o acionista”,  diz.

Entre os setores conhecidos por não pagar dividendos ou pagar proventos baixos entre os BDRs, Jennie destaca tecnologia e consumo discricionário (bens e serviços não essenciais).

As chamadas big techs geralmente não pagam dividendos, por se focarem no crescimento futuro. Além disso, algumas empresas de tecnologia demoram anos para dar lucro. Os BDRs da Alphabet (GOGL34) – conglomerado que engloba o Google – nunca pagaram dividendos. Os da Apple (AAPL34) têm retorno com dividendos projetado de 0,5% até 2023. A Microsoft (MSFT34), por sua vez, tem dividend yield de 0,8%.

Curiosamente, estes BDRs integram a lista de queridinhos dos brasileiros. Segundo levantamento da Dividendos.me a pedido do InfoMoney, considerando uma base de 130 mil investidores, os cinco BDRs mais presentes nas carteiras em janeiro de 2022 eram Apple (AAPL34), Meta (FBOK34), Alphabet (GOGL34), Walt Disney (DISB34) e Tesla (TSLA34). Dentre elas, apenas a Apple pagou dividendo nos últimos 12 meses, oferecendo um dividend yield de 0,52%. A companhia também recomprou ações.

Outras que recompraram papéis foram Alphabet e Meta (antigo Facebook). Já no caso da Tesla, não houve nem dividendos nem recompra de papéis. Também é famosa por não pagar dividendos a holding do megainvestidor Warren Buffett, a Berkshire Hathaway (BERK34).

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.