Magazine Luiza (MGLU3): o que explica a derrocada de mais de 70% das ações em 2021 – e o que esperar para os ativos

Depois de um 2020 forte, 2021 tem sido de queda expressiva para os ativos, assim como de outros de e-commerce, com economia fraca e maior concorrência

Lara Rizério

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Nem mesmo o dado de inflação de novembro abaixo do esperado – que gerou alívio para a curva de juros futuros e impulsionou papéis de varejistas na B3 – havia animado a ação do Magazine Luiza (MGLU3) durante boa parte da sessão desta sexta-feira (10). Na mínima do dia, os papéis chegaram a cair 4,30%, a R$ 6,01, ainda que tenham se recuperado e fechado em alta de 1,43%, a R$ 6,37.

A volatilidade dos papéis e a forte queda já se estendem por um longo período, com a ação da companhia saindo da casa dos R$ 25 no final de dezembro de 2020 para negociar na casa dos R$ 6 ao final deste ano. A baixa em 2021 chegou a superar os 75%, ultrapassando inclusive os seus pares como Via (VIIA3) e Americanas (AMER3) entre as maiores quedas do Ibovespa no período, com baixas respectivas de 66% e 62%.

Assim, a ação, de quarta maior alta do benchmark em 2020 com alta de 110% no período,  figura entre as maiores quedas do índice em 2021. A baixa se acentuou especialmente a partir da segunda metade do ano, caindo de julho até o fechamento da véspera cerca de 70%.

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Confira o desempenho das ações em 2021 no gráfico abaixo:

Fonte: B3

As projeções mais pessimistas para a economia e a inflação alta levando a um cenário de juros também mais elevados, impactando as expectativas para o consumo, têm levado a uma maior cautela dos analistas com a ação do Magazine Luiza, somados aos números pouco animadores do terceiro trimestre e cenário de maior competição.

Em relatório do final de novembro, Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday, analistas da XP, destacaram dentre os motivos para a baixa principalmente incertezas de investidores quanto à dinâmica de margens para o quarto trimestre deste ano, além de uma sinalização negativa de alguns investidores frente ao provisionamento de estoques de R$ 350  milhões no período.

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A companhia, destacaram os analistas, teve no terceiro trimestre uma performance sólida no canal online, mas com margens pressionadas. As vendas brutas de mercadoria (GMV) online cresceram 22% na base anual, impulsionado pelo marketplace (3P) em alta de 67% na base anual e estoque próprio (1P) com dado positivo de 6,7%, mesmo diante da base de comparação mais forte de 2020 (altas de 150% e 145%, respectivamente). No entanto, as vendas das lojas físicas apresentaram queda de 8% na mesma base de comparação, impactadas pela deterioração macroeconômica.

No terceiro trimestre, a margem Ebitda (Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, sobre receita líquida) caiu 2,5 pontos percentuais na base anual, devido a uma margem bruta pressionada pela maior participação do e-commerce (72% das vendas, alta de 6 pontos na base anual) e inflação de custos enquanto houve um aumento de despesas de marketing no e-commerce e a performance das lojas físicas levou a uma menor diluição de despesas operacionais.

Olhando para a rentabilidade e geração de caixa das companhias do segmento levando em conta as três companhias do Ibovespa, ainda é destaque que o Magalu tenha apresentado a pior margem Ebitda, enquanto a Americanas apresentou a melhor, com todas as companhias tendo queima de caixa no trimestre decorrente do reforço nos níveis de estoque para a temporada de compras de fim de ano.

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Para eles, o resultado do período, que levou a uma queda de 18% dos ativos em apenas uma sessão, deu apenas os primeiros sinais dos efeitos da deterioração econômica.

Já Marcelo Ornelas, gestor de renda variável da Kínitro Capital, aponta que o cenário macroeconômico tem um efeito secundário em relação a maior competição, que aumentou de forma muito rápida no Brasil e assimetricamente.

O gestor ainda ressalta que mesmo o Mercado Livre, a empresa mais valiosa do setor na América Latina, registra queda de suas ações em meio ao cenário mais complicado para o setor, sendo que ela conta com vantagens frente a seus pares como um menor custo de aquisição de clientes (CAC).

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Entre 2020 e 2021, cabe lembrar, houve a entrada de players estrangeiros como a Shopee e o AliExpress, que abriu a plataforma para vendedores, enquanto a Amazon tem aumentado os investimentos por aqui.

Para Ornelas, essa competição tem levado as empresas a operarem com uma tendência de lucro econômico zero, traçando assim um paralelo com outros setores, como de adquirência, que têm sofrido na Bolsa com o ambiente concorrencial maior.

Cautela aumenta 

Entre a forte queda e os grandes desafios a serem enfrentados no setor, o que esperar para os papéis de Magalu e de outras companhias do setor? É uma boa hora para entrar nos ativos?

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Na visão da XP, é necessário cautela, e investidores precisam considerar outros fatores antes de comprar as ações de qualquer companhia nesse momento, como apetite a risco, prazo de investimento do investidor, comparação do valuation das companhias comparáveis, entre outros.

Para os analistas, embora o setor de varejo com exposição ao e-commerce tenha sido de longe o que mais sofreu dentro da cobertura de varejo em 2021, quatro pontos devem ser levado em conta.

Em primeiro lugar, ainda existe um grande risco para os resultados das companhias, dado que a demanda pode ser mais fraca e a concorrência deve continuar bastante acirrada. O segundo ponto é que os produtos eletrônicos e de linha branca, que são categorias-chave para o comércio eletrônico, tendem a ser mais cíclicos devido ao tíquete médio mais alto. Neste caso, a demanda dos consumidores por essas categorias pode ter sido de certa forma antecipada durante a pandemia.

Em terceiro lugar, os players listados estão mais expostos às classes mais baixas, que também sofrem mais em um ambiente macroeconômico mais difícil. E, com o cenário competitivo devendo permaneça desafiador, isso acaba aumentando a pressão na rentabilidade das companhias.

Desta forma, os analistas da XP possuem recomendação neutra não apenas para a ação do Magazine Luiza, possuindo preço-alvo de R$ 18 para os ativos, mas também para Via, com preço-alvo de R$ 10, e para os ativos AMER3, com target de 45%.

Também nesta semana, a XP ressaltou a percepção de investidores locais sobre o setor, apontando que a visão negativa com e-commerce permanece. “Encontramos investidores mais céticos com o cenário estrutural do segmento, enquanto a perspectiva de curto prazo é bastante negativa”, avaliam.

O BTG Pactual, por sua vez, reduziu o preço-alvo de Magalu de R$ 26 para R$ 16 nesta semana, mas manteve recomendação de compra, destacando que a companhia será uma das vencedoras do e-commerce brasileiro.  “Com uma proposta omnichannel, as lojas do Magalu aumentam o reconhecimento da marca (loja como custo de aquisição do cliente) e atraem vendedores (alguns utilizam os canais online pela primeira vez, via Parceiro Magalu)”, apontaram.

Por outro lado, reduziram a recomendação para os ativos da Via de neutra, cortando o preço-alvo de R$ 21 para R$ 8,  baseando-se na combinação de maior competição, exposição ao segmento de eletrônicos e eletrodomésticos e incertezas com relação às provisões futuras e monetização de créditos fiscais em seu balanço patrimonial, o que, para o banco, poderia afetar a capacidade da empresa de investir no crescimento de sua operação. Cabe ressaltar que os papéis da Via também tiveram forte queda após o balanço em meio a provisões trabalhistas.

Para a Americanas, o BTG também tem recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 45, apontando que o recente negócio que culminou na fusão da LAME com a B2W (dando origem à Americanas SA) deve desbloquear valor, com a AMER a ser vista (e avaliada) como um player multicanal.

Em meados de novembro, o Credit Suisse ressaltou suas projeções para o setor, após a divulgação dos resultados e de uma oferta de ações do Mercado Livre que levou a uma captação total de US$ 1,55 bilhão, aumentando o “poder de fogo” da empresa e elevando os temores sobre o cenário concorrencial.

Para o banco, o curto prazo seguirá difícil para as empresas de comércio eletrônico, devido ao fraco crescimento dos canais físicos e das bases de comparação fortes nas categorias principais. No entanto, acreditam no aumento da penetração do e-commerce e no crescimento atrativo para 2022, o que pode representar um ponto de inflexão para o Magazine Luiza e Americanas, ambos com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) pela instituição.

Em relação à Via, os analistas do banco seguem sendo menos construtivos, uma vez que o recente aumento nas provisões trabalhistas provavelmente exigirá muito caixa que antes era esperado para ser investido no crescimento, o que ajuda a justificar a recomendação underperform (projeção de desempenho abaixo da média do mercado).

Outros setores ganham apelo

Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, uma questão que se deve fazer em meio à queda dos papéis é se existem outros segmentos mais interessantes para entrar na Bolsa.

Cruz avalia que sim, principalmente levando em conta que o tema eleitoral vai começar a dominar o debate e também impactar o mercado de ações.

“Esse é um setor que não é alheio ao cenário doméstico, que vai sofrer se a inflação tiver alta, se as pessoas estiverem consumindo menos e com a confiança menor, com mais medo de perder emprego”, avalia, ressaltando que empresas do setor frigorífico, papel e celulose, mineradoras e de saúde podem ganhar mais apelo.

Assim, depois de “brilhar” em 2020, a ação do Magalu e de outras do e-commerce têm sido vista com cada vez mais cautela. Ainda que algumas casas de análise vejam oportunidades no setor, o ambiente de curto prazo é visto como desafiador em meio à atividade econômica mais fraca, enquanto outros apontam para um horizonte complicado mais além  com a concorrência vindo para ficar.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.