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Carta resposta ao economista do PT: você realmente vai propor as mesmas medidas que levaram o Brasil ao caos?

Não, Pochmann, o ajuste fiscal não foi uma escolha pela recessão; pelo contrário, mas a única saída para tirar o Brasil da UTI e estancar as toxinas econômicas geradas pelo descontrole das contas públicas dos governos Lula e Dilma.
Por  Alan Ghani
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

É impressionante como alguns economistas não aprendem com os erros do passado e com o choque de realidade. O economista Marcio Pochmann, um dos formuladores do programa de governo do PT para a corrida presidencial, propõe a mesma receita que levou o Brasil ao caos recentemente.

Em entrevista para o Estado de São Paulo (aqui), no último domingo (29), Pochmann disse que a recessão começou com as medidas propostas pelo ministro da fazenda, Joaquim Levy, logo quando a ex-presidente Dilma é reeleita, e continuadas no governo Temer. Para Pochmann, Levy optou pela recessão ao adotar uma política econômica neoliberal (seja lá o que este jargão queira dizer). O economista teve ainda a cara de pau de dizer que o problema fiscal de hoje não é fruto do PT (“a questão fiscal era visível, mas sem comparação com hoje”). Disse também que “a Lava Jato asfixiou as empresas” e que o setor privado não é a solução (“é uma visão equivocada a de o Estado é problema e solução é o privado”). 

O erro principal do Pochmann é tratar a questão fiscal como um mal menor. O economista não entende que foi a farra fiscal dos governos Lula e Dilma que levou o país para o caos. Se para um leigo não é trivial a ligação entre deterioração fiscal e crise econômica; para um economista, deveria ser.

Na prática, a deterioração fiscal significa que governo começou a gastar muito mais do que arrecadava (veja abaixo o gráfico de superávit primário). O aumento do gasto público adveio da elevação das despesas com funcionalismo e com a máquina estatal, créditos subsidiados do BNDES, entre outros fatores. Para financiar este aumento do gasto, o governo teve que se endividar com a população, criando mais despesas financeiras a serem pagas posteriormente (mais juros e amortizações). A forte elevação da dívida pública levou a um aumento do risco, piorando as expectativas do mercado financeiro e empresarial. Com a piora do humor, os investidores pararam de investir e as empresas retiveram o caixa. Pronto, a crise se inicia: menos investimento e retenção de caixa significam menos produção das empresas, o que gera desemprego e queda da renda da população.

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Uma vez que o problema fiscal foi o principal causador da maior crise econômica do Brasil – o PIB cai 6,89% em 2 anos -, é óbvio que a solução para a crise passasse por um ajuste das contas públicas. Prova disso é que bastou a equipe econômica de Michel Temer adotar algumas medidas de ajuste fiscal (extinção da TJLP, PEC dos gastos, etc.), que a bolsa subiu fortemente, antecipando um cenário de melhora da economia brasileira para os próximos anos – desde o afastamento de Dilma Rousseff, o Ibovespa subiu 90% (uma média de 29,5% ao ano).

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Se de um lado o mercado reagiu positivamente às medidas da equipe econômica de Michel Temer; por outro, Pochmann acreditou que elas foram equivocadas. Para o economista do PT, numa situação de forte déficit e alto endividamento, o governo deveria gastar ainda mais, elevando a sua dívida, para estimular a demanda e produzir crescimento econômico, o que aumentaria a arrecadação do governo, de acordo com a sua visão contaminada de keynesianismo. O que Pochmann ignora é que tanto os preços quanto as expectativas irão se ajustar, provocando inflação e queda dos investimentos no curto prazo. Não, Pochmann, o ajuste fiscal não foi uma escolha pela recessão; pelo contrário, mas a única saída para tirar o Brasil da UTI e estancar as toxinas econômicas geradas pelo descontrole das contas públicas dos governos Lula e Dilma.

Aliás, a solução proposta por Pochmann não é exatamente a mesma receita econômica, iniciada no segundo mandato de Lula e continuada no governo Dilma, que levou o país ao caos? Numa visão excessivamente voltada para o consumo, acreditaram que os problemas econômicos se resolvem por medidas administrativas, no porrete estatal. A “gerentona” Dilma aumentou o gasto público, deu estímulos fiscais pontuais, diminuiu, na marra, a taxa de juros e segurou o preço da energia e da gasolina. Acreditou que bastava o porrete estatal para estimular o consumo, manter a inflação sob controle e gerar crescimento econômico, tudo ao mesmo tempo. Parece que a estratégia não foi muito bem sucedida: a dívida aumentou exponencialmente, houve retração de investimentos no setor energético, o setor sucroalcooleiro foi destruído, a inflação subiu, as expectativas pioraram, o desemprego aumentou fortemente, houve decréscimo do PIB e a renda da população caiu. 

Além de defender a volta das soluções heterodoxas que destruíram o Brasil, Pochmann disse que a reforma da Previdência é problema para “economista cabeça de planilha” (apelido dado a economistas mais liberais do mercado financeiro). Além de ignorar a realidade – um risco considerável de calote da dívida pública, que prejudicará principalmente os mais pobres (veja aqui entrevista  com Paulo Tafner no InfoMoney) -, Pochmann não propõe nenhuma solução concreta para a previdência. 

No mais, acredita que a Lava Jato prejudicou a economia, asfixiando as empresas. Não, Pochmann, o combate a corrupção e o cumprimento das regras do jogo sinalizam para os investidores um fortalecimento das instituições, fundamental para geração de crescimento econômico a médio e longo prazo.

Em suma, as propostas de Pochmann, carregadas de uma visão desenvolvimentista estatal, é um convite ao retrocesso, a tudo que deu errado no Brasil.  Para defender suas ideias na entrevista (aqui), chegou ao cúmulo da falta de vergonha de dizer que “os governos anteriores e posteriores à experiência do PT desorganizaram as finanças públicas”. Uma afirmação desta é no mínimo desonestidade intelectual (basta olhar os dados). Se um candidato do PT for eleito, tomara que ignore as medidas de Pochmann; caso contrário, estaremos no abismo.

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Alan Ghani É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.

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