Vamos falar de Bolsonaro?

A idolatria a Bolsonaro é mais pelo o que ele representa e menos pela sua pessoa. Talvez se tivéssemos mais candidatos conservadores e liberais, o culto à sua figura seria menor. Como um bom conservador, carrego um certo ceticismo e pessimismo em relação à politica. Isso não significa que sou ingênuo para cair naquele reducionismo bocó em acreditar que nenhum politico presta. Mas também não acredito em salvadores da pátria.
Por  Alan Ghani
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Algumas reflexões sobre o fenômeno Jair Bolsonaro. Quando digo “fenômeno”, me refiro menos às suas qualidades e mais ao que ele representa. Levantar alguns pontos positivos não significa necessariamente que irei votar nele. Assim como criticar alguns pontos não significa que eu o odeie ou que eu seja um socialista fabiano infiltrado. Após fazer este “hedge de opinião”, vamos lá:

1. Bolsonaro trata a violência como um problema em si, dissociado das questões sociais. Além disso, propõe soluções concretas no combate ao crime. Os demais candidatos falam pouco de segurança pública e geralmente tratam a criminalidade como consequência de outros problemas sociais. Para eles, basta mexer no “social”, que a violência diminui (visão de esquerda). Tratam a violência de maneira abstrata e não real. O povão, maior atingido pelo crime, vê muito mais sentido na fala menos polida -porém, concreta- de Bolsonaro, ao discurso vago, abstrato e broxante do PSDB sobre violência.

2. Ao defender valores conservadores num oceano de ideias de esquerda, Bolsonaro se torna uma opção para o eleitorado de direita que votou 24 anos no PSDB, mais contra o PT, e menos por identificação genuína com as suas propostas.

3. Suas declarações dadas há 20 anos são muito ruins e custam caro a Bolsonaro ainda hoje. Não só a esquerda utiliza essas declarações na guerra política contra ele, como parte da direita o enxerga com desconfiança, principalmente na defesa das liberdades econômicas.

4. A desconfiança não advém apenas das ideias do passado. Bolsonaro é contra a reforma da previdência, além de carregar uma visão nacionalista estatal – fetiche pelo nióbio e defesa de um modelo de privatização seletiva (não quer vender para China, por exemplo).

5. Por mais bem intencionado que seja Bolsonaro, não vejo ele, ou qualquer candidato, governando sem apoio do PMDB, infelizmente. Em política não existe o mundo do ideal, mas do possível. Embora a aprovação de reformas traga um ônus (concessões, cargos, emendas parlamentares) – não confundir isso com corrupção – os benefícios gerados podem mais que compensar esses custos a longo prazo (ex: reforma trabalhista). Política é o jogo do possível e não do ideal.

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Por fim, acho que a idolatria a Bolsonaro é mais pelo o que ele representa e menos pela sua pessoa. Talvez se tivéssemos mais candidatos conservadores e liberais, o culto à sua figura seria menor. Como um bom conservador, carrego um certo ceticismo e pessimismo em relação à politica. Isso não significa que sou ingênuo para cair naquele reducionismo bocó em acreditar que nenhum politico presta. Mas também não acredito em salvadores da pátria. Acho, sem duvida, Bolsonaro uma opção melhor à corrupção comuno-petista de Lula ou à covardia psdbista de Alckmin. Mas não vejo Bolsonaro (e nenhum político) como um salvador da pátria – até porque muitas decisões não dependem dele, mas do Congresso, do STF e de outras instituições. Felizmente ou infelizmente, democracia é assim mesmo.

 

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Alan Ghani É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.

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