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Abra: o Uber das remessas de dinheiro

De olho no vasto mercado de remessas de baixo custo, que em 2013 movimentou mais de US$ 500 bilhões, uma startup surgiu para incomodar a concorrência utilizando uma tecnologia revolucionária no seu modelo de negócios. Que tecnologia é essa? Sim, exatamente, nada menos que o Bitcoin. A Abra (A Better Remmittance App) acaba de levantar US$ 14 milhões com a Arbor Ventures, a RRE Ventures e a First Round Capital. O modelo de negócios é bastante similar ao do Uber. Inclusive, entendendo como funciona o Uber, podemos explicar facilmente como funciona a Abra.
Por  Fernando Ulrich
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Se você é um imigrante brasileiro em Nova York, por exemplo, e precisa enviar dinheiro para sua família em São Paulo, há algumas soluções no mercado, mas cada uma com vantagens e desvantagens a considerar. Se você utilizar o sistema bancário tradicional, o melhor é economizar uma boa quantia (acima de US$ 2 mil) para diluir o alto custo cobrado pelos bancos, que em alguns casos pode superar os US$ 100 por transação.

Se você não dispõe de toda essa renda e tem de mandar somas menores todos os meses, a forma mais rápida e segura é por meio de empresas como a Western Union. Mas a rapidez e a segurança têm um custo alto. As tarifas para remessas, dependendo das cidades rementes e destinatárias, podem ser ao redor de 10% – embora nos “corredores” com maior volume esse percentual já tenha caído para quase 5%. Para quem envia cerca de US$ 100 a US$ 200, deixar 10% na mesa todos os meses não é nada agradável. Quem simplesmente não tem conta bancária então, tem mais obstáculos a enfrentar, pois precisa ir fisicamente até alguma agência dessas empresas.

De olho no vasto mercado de remessas de baixo custo, que em 2013 movimentou mais de US$ 500 bilhões, uma startup surgiu para incomodar a concorrência utilizando uma tecnologia revolucionária no seu modelo de negócios. Que tecnologia é essa? Sim, exatamente, nada menos que o Bitcoin.

A Abra (A Better Remittance App) acaba de levantar US$ 14 milhões com a Arbor Ventures, a RRE Ventures e a First Round Capital. O modelo de negócios é bastante similar ao do Uber. Inclusive, entendendo como funciona o Uber, podemos explicar facilmente como funciona a Abra.

Imagine um filipino chamado Juan vivendo em Nova York. Para enviar dinheiro para as Filipinas, basta baixar o app da Abra, buscar um “Abra Teller” (espécie de “caixa de banco da Abra”), comprar com o Teller US$ 100 dólares, por exemplo, e enviar a quantia por meio do app ao seu parente nas Filipinas. Quando seu parente, o Pablo, receber os US$ 100 no seu app, basta ele buscar um “Abra Teller” local e vender os US$ 100 dólares no ato. As taxas cobradas pelos Tellers são sabidas e negociadas de antemão, assim como as corridas do Uber.

Juan e Pablo são os usuários comuns, assim como os passageiros que usam o Uber. Os Abra Tellers equivalem aos motoristas do Uber. Assim como um motorista do Uber, para tornar-se um Abra Teller, é preciso registrar-se previamente com a empresa. Na prática, é como se cada Teller fosse uma espécie de agência ambulante da Western Union.

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A transferência de valores entre os usuários do app da Abra é instantânea e segura, porque o que os usuários estão de fato transferindo são bitcoins. O Teller compra bitcoins pelo app da Abra e revende-os a qualquer usuário do app, mas as partes nem precisam ter esse conhecimento, pois as transações são denominadas em dólares. Como a ideia da Abra não é oferecer investimento na moeda digital, a empresa garante a cotação do bitcoin durante três dias. Nenhum Teller precisa manter um estoque de bitcoins, caso não tenha esse interesse.

Para muitos entusiastas da tecnologia, o app da Abra tem o potencial de ser justamente o “killer app” do Bitcoin.

Do ponto de vista legal, o app é uma grande invenção, porque facilita um serviço essencial sem realizá-lo de fato, evitando todo o emaranhado de regulação na indústria financeira que atravanca – quando não impede por completo – a inovação no setor.

Assim como o Uber – que é um app para quem deseja transporte individual urbano, mas não tem frota de táxis e nem motoristas na sua folha de pagamento –, a Abra é uma empresa de tecnologia. Os Tellers não são empregados pela companhia. O saldo que cada usuário mantém no app não é custodiado pela Abra, pois se trata de bitcoins registrados no blockchain, os quais são propriedade do e controlados pelo próprio usuário. Dessa forma, a Abra não pode ser caracterizada como uma intermediária financeira ou uma “transmissora de dinheiro” (nos EUA as leis e regulações para “money transmitters” são bastante complexas e inibem novos entrantes).

O app da Abra é um grande exemplo de como o mercado vai seguir nos surpreendendo com soluções originais e engenhosas, quebrando velhos paradigmas e causando disrupção em indústrias maduras e consolidadas. E é também um ótimo exemplo de como a tecnologia do Bitcoin está – e seguirá – propiciando uma quantidade enorme de inovações antes impensáveis, solucionando problemas que nem imaginávamos ter.

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Vale ressaltar que o Bitcoin tem sido bastante publicitado pelos seus entusiastas – eu inclusive – como um grande potencial a esse mercado de remessas de dinheiro. Contudo, não podemos deixar de enxergar a realidade: é um setor extremamente competitivo, com players centenários, com uma abrangência e experiência global. Que há potencial, é inegável, mas os mais céticos alegam que não será uma tarefa tão fácil abocanhar fatias de mercado de concorrentes tão sólidos.

Para uma visão bastante imparcial e pragmática, recomendo a leitura deste post, no blog da SaveOnSend, um site especializado em remessas internacionais.

Por enquanto, a Abra é apenas uma startup capitalizada; é uma promessa de um futuro peer-to-peer para as remessas entre fronteiras. Aguardemos os próximos meses para ver seu modelo de negócios ser testado.

No longo prazo, porém, com uma adoção do Bitcoin mais massificada, um app como o da Abra não será tão essencial para o mercado de remessas, porque a necessidade de converter a moeda digital em moeda nacional não será mais tão premente. No instante em que ter bitcoins e usar a tecnologia for algo corriqueiro, o próprio Bitcoin será o “Killer app”. Como afirmei alhures, “dinheiro é o killer app do Bitcoin”. Para o mercado de remessas de baixo custo, o potencial da tecnologia é extraordinário.

Para uns, esse é um cenário otimista ou até mesmo irrealista. Prefiro pensar que é apenas uma questão de tempo, é inevitável. E creio que a velocidade com que isso ocorrerá vai surpreender tanto os mais céticos quanto os próprios entusiastas. O dinheiro para a era digital veio para ficar.

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Fernando Ulrich Fernando Ulrich é Analista-chefe da XDEX, mestre em Economia pela URJC de Madri, com passagem por multinacionais, como o grupo ThyssenKrupp, e instituições financeiras, como o Banco Indusval & Partners. É autor do livro “Bitcoin – a Moeda na Era Digital” e Conselheiro do Instituto Mises Brasil

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