Como a Vale pode mexer com o Ibovespa a partir de segunda-feira

Ações da Vale correspondem à terceira maior participação do Ibovespa; assim, uma queda de cerca de 10% dos ativos após o rompimento da barragem em Brumadinho pode levar a uma forte pressão para o índice

Giuliana Napolitano

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SÃO PAULO – Com valor de mercado de R$ 291 bilhões, a Vale é a terceira maior empresa brasileira de capital aberto. Também é uma das companhias que ditam o comportamento do Ibovespa, já que responde por quase 11% do índice.

Nesta sexta-feira, com a bolsa brasileira fechada em razão do feriado em São Paulo, os ADRs (American Depositary Receipts) da Vale chegaram a cair 13% após o rompimento de uma barragem da empresa em Brumadinho (MG). Os papéis amenizaram a queda na NYSE durante o pregão, mas as baixas seguiram bastante expressivas, de cerca de 8%.

Na segunda-feira (28), com o mercado local aberto, deverá ser feito o ajuste de preço das ações negociadas na B3. Para a equipe de analistas do banco Itaú BBA, o acidente deve influenciar os papéis no curto prazo. Pode, por exemplo, dificultar a obtenção de licenças ambientais e operacionais e até atrasar (ainda mais) a retomada das operações da Samarco, escrevem em relatório distribuído nesta sexta-feira.
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Além disso, a reconstrução da barragem demandará investimentos e a Vale deve ter de pagar indenizações, segundo o BBA. Se as ações da Vale caírem em torno de 10%, o Ibovespa perde cerca de 1 ponto percentual apenas por causa da empresa.

Isso não significa, claro, que o Ibovespa vá cair. Hoje, o ETF EWZ, que inclui os papéis de maior peso do Ibovespa e é negociado no exterior, chegou a registrar ganhos mesmo quando a queda da Vale na NYSE era mais expressiva. Contudo, vale destacar, a queda das ações da Vale reduziu drasticamente o ritmo da alta ao longo do dia.

Por enquanto, faltam informações sobre as causas do acidente e o número exato de vítimas, mas estima-se que o desastre seja menor que o de Mariana em termos ambientais, cujo rompimento da barragem liberou 62 milhões de metros cúbicos de rejeito, enquanto as barragem em Brumadinho teriam capacidade para 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Contudo, o número de pessoas vitimadas deve ser maior, como admite o próprio presidente da Vale.  

Em entrevista coletiva, Fabio Schvartsman afirmou que no momento não está preocupado “com a produção (da Vale), só com as vítimas”. No relatório do terceiro trimestre de 2018 divulgado pela companhia, o volume de produção do complexo Paraopeba foi de 7,3 milhões de toneladas de minério de ferro, o equivalente a 7% da produção total de minério de ferro da Vale no período. 

Cabe destacar ainda o movimento que os papéis da Vale tiveram após o desastre de Mariana. No dia do acidente, 5 de novembro de 2015, os ativos caíram 2,59% (vale destacar que o noticiário sobre o assunto ganhou força somente no final do pregão) e, no dia seguinte, os ativos tiveram queda ainda maior, de 7,55%. Contudo, as ações se recuperaram e, desde então, acumulam ganhos de 258%. 
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Até o acidente em Brumadinho, as expectativas para a Vale eram positivas, com o mercado de olho principalmente na recuperação do preço do minério de ferro e no desenrolar da guerra comercial entre EUA e China. As atenções se voltavam ainda para os resultados do quarto trimestre, que serão divulgados no próximo dia 14.

A expectativa, segundo o Bradesco BBI, era de que a companhia entregasse mais uma vez sólidos resultados, em meio à alta do preço do minério e o maior prêmio por qualidade da commodity. Contudo, agora, todos esses possíveis catalisadores foram ofuscados no momento com essa tragédia.

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Giuliana Napolitano

Editora-chefe do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre finanças e negócios. É co-autora do livro Fora da Curva, que reúne as histórias de alguns dos principais investidores do país.