Ibiuna monta kit “anti-Brasil”: short em bolsa, long em dólar e tomado em juros

Gestor acredita que os juros tendem a subir dado que a situação fiscal do país está se deteriorando rapidamente

Matheus Soares

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No Coffee & Stocks dessa quarta-feira (13), conversamos com Mário Torós, gestor e fundador da Ibiuna Investimentos, casa com mais de 10 anos de história e mais de R$ 10 bilhões sob gestão. A gestora tem um DNA macro forte já que dois fundadores (Mário Torós e Rodrigo Azevedo) trabalharam no setor privado com macroeconomia e no setor público na direção de política monetária do Banco Central.

Mário Torós participou do episódio 41 do Stock Pickers que gravamos antes do carnaval e naquele momento ele havia comentado duas coisas fundamentais: a primeira que a bolsa brasileira estava cara, e a segunda que estava preocupado com o lockdown na China. A combinação de bolsa cara com China parada já era suficiente para deixá-lo cauteloso. Os fundos macro da casa estão indo muito bem no ano (Ibiuna Hedge STH +9,86% e Ibiuna Hedge + 5,96% em 2020)

Durante o papo dessa manhã, Torós divulgou uma operação que o fundo fez nos últimos dias e que não estava na carta mensal divulgada pelos fundos em abril:

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“Estamos pessimistas com Brasil. Nosso fundo está vendido em bolsa brasileira contra o S&P500, comprado em dólar e tomado na inclinação da curva (acreditando que o juro terá que subir)”.

A seguir, os principais destaques da conversa:

E nesses preços, o que você acha de bolsa?

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Nos preços atuais, não justifica o investimento em bolsa, tanto aqui quanto lá fora. Há uns meses, perguntaram para o Ben Bernanke, que foi presidente do Fed durante a crise financeira de 2008, o que ele teria feito de diferente na crise. E ele disse que, se soubesse, ele teria reagido mais fortemente e mais rapidamente. E foi o que fizeram dessa vez. O Fed fez em 2 meses o equivalente a 90% de tudo o que foi feito durante todo o Quantitative Easing (4 anos). O Fed seguiu o que Bernanke sugeriu.

Até por isso, lá fora nós achamos que grande parte dos preços está influenciada por essas medidas.

Já no Brasil, nós estamos com uma visão bastante negativa. Estamos vendidos em bolsa brasileira contra o S&P500, comprados em dólar e investidos na inclinação da curva. Há uma limitação fiscal muito grande e, junto a isso, há o problema do coronavírus. O Brasil é um dos países que a curva está mais demorando para se achatar. O índice de contaminação ainda é muito alto, nem a Itália foi assim. Fora o nosso problema político. Essa posição foi montada ao longo dessa quinzena.

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E a Selic? Ainda dá para ganhar dinheiro nos juros?

A taxa de juros de longo prazo (TLP) está subindo há quatro semanas. Nós até acreditamos que dá para ganhar dinheiro nos juros, mas acreditamos que as condições são muito mais de aperto monetário do que de relaxamento monetário. O Brasil está uma confusão e acreditamos que vai haver uma deterioração de cenário e, consequentemente, de preço dos ativos.

Em fevereiro você estava cauteloso, mas não pessimista com Brasil. Hoje, podemos dizer que você está pessimista?

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Com Brasil sim. Está uma festa do caqui em Brasília com a questão fiscal. Não existe uma relação fluida entre legislativo e executivo e por isso não acho que essa questão fiscal é perene. Exemplo disso aconteceu recentemente com manchetes dizendo que o auxilio emergente continuaria sendo distribuído até mesmo depois da crise. O impacto disso é de 8% do PIB. Temos uma visão muito cautelosa em relação a Brasil.

Apresentado por Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos, o Stock Pickers vai ao ar toda quinta-feira às 17h. Você pode seguir e escutar pelo Spotify, Spreaker, Deezer, iTunes e Google Podcasts.

Matheus Soares

Matheus Soares é analista da Rico Investimentos e um dos responsáveis pela Carteira Rico Dividendos 8+