Gabriel Galípolo: quem é o diretor de política monetária que pode assumir a presidência do Banco Central

Além de defensor da queda dos juros, o ex-número um de Haddad é considerado pelo mercado um mediador entre política fiscal e monetária

gabriel galipolo
Nome completo:Gabriel Muricca Galípolo
Formação:Bacharel em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política, ambos pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP)
Ocupação:Pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), secretário executivo do Ministério da Fazenda
Atuação profissional:Chefe de Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos de SP (2007), Professor da faculdade de Economia da PUC-SP (2006 a 2012), Diretor da Unidade de Estruturação de Projetos da Secretaria de Economia e Planejamento de SP (2008), presidente do banco Fator (2017 a 2021).

Poucos meses após ter assumido como secretário executivo do Ministério da Fazenda do terceiro mandato do governo Lula, Galípolo deixou o cargo para integrar a diretoria do Banco Central, por indicação do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A sua estreia no Copom “coincidiu” com a primeira queda da Selic desde que o ciclo de alta da taxa básica iniciou, em março de 2021.

Considerado um heterodoxo moderado, acredita-se que o ex-número um de Haddad possa acelerar o ritmo da queda dos juros. Embora tenha prestado apoio à candidatura do atual presidente e participado ativamente de sua equipe de transição, o mercado não vê em Galípolo alguém da bancada do PT, mas sim alguém bastante preparado para servir de ponte entre o mercado e o governo, e possivelmente suceder Campos Neto na presidência do Banco Central.

Integrante da equipe de transição de governo e peça importante na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gabriel Muricca Galípolo é o novo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, conduzido por Fernando Haddad.

Em abril do ano passado, o economista chamou atenção ao participar de um jantar com empresários na companhia de Gleisi Hoffmann, deputada federal e presidente do Partido dos Trabalhadores. O evento, organizado pelo grupo Esfera Brasil, reuniu nomes de peso do empresariado e mercado financeiro, como André Esteves (BTG Pactual) e Abílio Diniz (Grupo Península).

Na ocasião, Galípolo já era visto como possível nome capaz de promover uma integração entre o então candidato à presidência do PT e o mercado. Ao que tudo indica, a postura heterodoxa em relação à economia e passagem pelo mercado financeiro são vistas como um importante fator de ponderação na interlocução do atual governo com o empresariado. Não é à toa que a capacidade de diálogo e convencimento junto a atores diversos são características destacadas por quem o conhece.

O perfil “fora da caixa” do economista também chama atenção de ortodoxos de forma geral. Nesse sentido, defende conceitos econômicos desenvolvimentistas, como o apoio do Estado na industrialização e a crítica ao teto de gastos. Mas rejeita a oposição de políticas públicas ao setor privado, optando por concessões, parcerias público-privadas (PPPs) ou mesmo privatizações em determinados casos. Apesar de não ser filiado ao PT, tem  relações com o partido há mais de dez anos, quando ajudou, em 2010, na construção do plano de governo de Aloizio Mercadante, atual presidente do BNDES.

Como braço direito de Haddad, Galípolo tem a dura missão de gerir um rombo inicial de cerca de R$ 300 bilhões nos cofres públicos e acomodar uma demanda crescente por políticas públicas e promessas de programas sociais feitas na campanha. Segundo o ministro da Fazenda, a atual situação financeira do país é fruto de benesses e desonerações fiscais concedidas sem critérios, que equivalem a 3% do PIB.

Leia mais: BNDES com Mercadante: risco ou oportunidade para a economia?

Quem é Gabriel Galípolo?

Gabriel Galípolo é formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela PUC de São Paulo, instituição na qual também foi professor nos cursos de graduação, de 2006 a 2012. Além disso, lecionou no MBA de PPPs e Concessões da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo). É também pesquisador sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). 

Sua passagem pela máquina pública teve início em 2007, no governo de José Serra (PSDB) em São Paulo. Naquele ano, o economista chefiou a Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos, e em 2008 foi diretor da Unidade de Estruturação de Projetos da Secretaria de Economia e Planejamento do estado de São Paulo.

De 2017 a 2021, Galípolo foi presidente do banco Fator, instituição com expertise em parcerias público-privadas e programas de privatização. Em sua atuação no banco, conduziu os estudos para a privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), processo que teve início em 2018. Em 2021, o banco Fator e o BNDES lideraram o leilão da estatal, operação que arrecadou R$ 22,6 bilhões com a venda de três dos quatro blocos ofertados. 

Um heterodoxo moderado

No jargão econômico, as ideias heterodoxas (ou desenvolvimentistas) são aquelas que defendem a participação do Estado em setores estratégicos para o desenvolvimento do país. Ou seja, é o Estado ajudando a financiar infraestrutura, saneamento, tecnologia de ponta e outros segmentos cujos resultados demoram a aparecer e que seriam muito dispendiosos para o setor privado assumir sozinho.

Esse é o perfil que Galípolo construiu em sua vida acadêmica. Embora defenda claramente a atuação estatal como propulsora do desenvolvimento econômico, é conciliador e aberto ao diálogo. Ao lado do economista Luiz Gonzada Belluzzo, também heterodoxo e um dos fundadores da Facamp (Faculdade de Campinas), escreveu três livros: Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo (2017); A escassez na abundância capitalista (2019) e Dinheiro: o poder da abstração real (2021).

Ainda antes de integrar o governo Lula, Galípolo havia se posicionado contra o teto de gastos. Em novembro do ano passado, durante participação no Fórum Esfera Brasil, afirmou que o teto já havia passado da fase final do funeral e estava mais para “missa de sétimo dia”.

“Uma regra fiscal que funciona por excepcionalidades o tempo todo é uma regra que já não existe”, afirmou. Na ocasião, disse também que não via incompatibilidade entre o crescimento do Brasil e a sustentabilidade ambiental, nem entre a responsabilidade fiscal e o combate à desigualdade social.

No mesmo evento, Galípolo defendeu a necessidade de diálogo entre economistas e a sociedade sobre o orçamento. Na sua opinião, ao contrário do que muitos pensam, o problema do Brasil não é o tamanho do Estado, mas sim uma má qualidade da arrecadação e do gasto público. 

“Quando olho para a média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), não vejo o Brasil como um quasímodo, não tenho distorção. Mas quando olho para a estrutura de arrecadação, e para a estrutura de gastos do Brasil, aí sim eu tenho um monstro de gastos e concentrador de renda”, enfatizou o economista.

A relação com Haddad e a moeda única do Mercosul

Galípolo e Haddad compartilham pensamentos e posições muito semelhantes em relação à economia. No ano passado, escreveram juntos um artigo sobre como a criação de uma moeda do Mercosul poderia acelerar a integração regional.

A ideia não seria o fim da moeda de cada país, mas sim eleger uma que pudesse ser utilizada nas transações comerciais e financeiras entre os países da América do Sul.

O assunto não é novidade, pois o presidente Lula já havia abordado o tema em sua última passagem pela Presidência. E, logo após a publicação do artigo de Haddad e Galípolo, Lula voltou a defender a ideia.

“Vamos voltar a restabelecer nossa relação com a América Latina. E se Deus quiser vamos criar uma moeda na América Latina, porque não tem esse negócio de ficar dependendo do dólar”.