Quais estados devem ser decisivos para a vitória de Trump ou Biden na eleição dos EUA

Entre os chamados "swing states" e estados com grande número de delegados, algumas regiões são mais importantes que outras na eleição americana

Rodrigo Tolotti

(Getty Images)

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SÃO PAULO – Diferentemente do Brasil, a eleição nos Estados Unidos não considera os votos totais de um candidato, o que implica em uma série de dificuldades para as pesquisas apontarem o real cenário, ao mesmo tempo que faz com que os votos de cada eleitor tenham pesos diferentes dependendo do estado em que ele está.

Os americanos usam um sistema de voto indireto, em que o eleitor, apesar de marcar o nome do candidato na urna, vê seu voto indo para os chamados delegados, que são como representantes estaduais. Estes delegados então, após a eleição, confirmam o voto no candidato (clique aqui para entender como funciona a eleição nos EUA).

São 538 delegados em disputa, sendo necessários 270 votos para a vitória. A questão é que cada estado tem uma quantidade diferente de delegados, proporcional à sua população, gerando algumas distorções.

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Por exemplo, a Califórnia dá 55 delegados ao vencedor no estado, enquanto em Nevada são apenas 6. Além disso, existe o sistema do “winner-take-all” (o vencedor leva tudo), em que o candidato vencedor naquele estado fica com todos os delegados, não importa qual seja sua margem de ganho.

E, por conta deste sistema, na hora da corrida eleitoral, alguns estados ganham mais importância que outros, sendo o foco dos candidatos para fazerem campanha, são os chamados “battleground states” (estados campos de batalha). Cada um tem sua importância: em alguns casos é por conta do alto número de delegados que o estado pode dar; em outros, por serem estados que alternam entre elegerem republicanos ou democratas a cada eleição – os “swing states” ou “estados pêndulo” – ou ainda por suas características demográficas.

Em 2020, são 11 estados no centro das atenções de Donald Trump e Joe Biden e que prometem ser decisivos para quem quiser ser o vencedor: Texas, Flórida, Pensilvânia, Ohio, Geórgia, Carolina do Norte, Arizona, Michigan, Minnesota, Wisconsin, Nevada e Iowa.

Flórida e Pensilvânia

Estes são os dois maiores “campos de batalha” desta eleição, e são dois estados muito diferentes entre si. A Pensilvânia, com 20 delegados, foi decisiva para a vitória de Trump em 2016, quando foi revertida uma história de décadas de vitórias democratas na região.

Formada por grandes subúrbios, a Pensilvânia mostrou grande descontentamento com o governo de Barack Obama e agora o candidato democrata tenta usar o descontentamento com Trump e os problemas da gestão atual com a crise do coronavírus para voltar a ganhar no estado. As pesquisas colocam Biden com leve vantagem na região, mas dado o que ocorreu há quatro anos, não há muita garantia de vitória ainda.

Além disso, a indústria de extração de gás pode pesar no resultado. Há uma técnica usada por empresas do tipo chamada de fracking, ou fraturamento hidráulico, que recebe muitas críticas de ambientalistas e Biden já afirmou que irá acabar com essa fonte de renda. Isso pode pesar muito contra ele na contagem de votos.

Já a Flórida é o terceiro estado com maior número de delegados, empatada com Nova York: 29. Nesta região, porém, predomina o eleitor latino e mais idoso, sendo que cada lado, atualmente, está pendendo para um lado da disputa.

Biden tem conseguido capturar votos dos mais idosos por conta da má condução da pandemia do atual governo. Enquanto isso, do outro lado, Trump está melhor com os latinos, principalmente cubanos e venezuelanos, por sua postura contra os os regimes dos dois países. Até o momento as pesquisas não dão vantagem para nenhum dos dois na Flórida.

Texas, Arizona, Minnesota, Michigan e Geórgia

Estes cinco estados costumam ter uma tendência, mas podem surpreender e serem decisivos para a vitória. Um dos principais é o Texas, tradicional reduto republicano, mas que não tem registrado vantagem para Trump até o momento.

Com 38 delegados, este é o segundo maior estado americano e até o momento aparece praticamente empatado nas pesquisas eleitorais. O foco está no eleitorado urbano e cosmopolita, que pode reverter a tendência e dar a vitória para Biden. Há dois anos, já surgiram sinais de que a tendência local estava mudando com a disputa pelo Senado no estado registrando a derrota democrata pela menor diferença em 30 anos, de 3%, entre Beto O’Rourke contra o republicano Ted Cruz.

Arizona e Geórgia são outros dois estados que tendem a votar nos republicanos, mas onde nada está garantido. Assim como na Flórida, o foco de Biden para tentar reverter o cenário será nos idosos, descontentes com os problemas do governo em gerir a atual crise da Covid-19.

Já em Michigan e Minnesota, o ambiente é o oposto: os democratas costumam vencer, mas Trump tem boas chances de ficar com estes delegados. Em ambos Biden aparece ligeiramente à frente nas pesquisas.

Minnesota ficou marcado este ano pelo caso da morte de George Floyd em uma ação da polícia em Minneapolis. Mas mesmo com o descontentamento, Trump tenta levar o discurso de “lei e ordem” na região e pode conseguir conquistar o eleitorado, revertendo um cenário em que nenhum republicano vence desde 1972, com Richard Nixon.

Enquanto isso, Michigan é uma região que estava conseguindo um bom avanço econômico, com aumento de empregos, antes da pandemia chegar. A estratégia do republicano será usar este discurso de prosperidade dada pelo seu governo antes da crise para tentar capturar os votos.

Carolina do Norte, Ohio e Wisconsin

Estes são três estados vencidos por Trump em 2016, mas que estão divididos nesta eleição. Com características bem diferentes, eles somam 43 delegados em disputa e podem ser bem importantes para a vitória.

Ohio tem uma relação interessante com candidatos vitoriosos: a última vez que alguém foi eleito presidente sem vencer aqui foi em 1960, com John F. Kennedy. Tanto Trump quanto Biden estão de olho no eleitor trabalhador com baixa escolaridade, que deve ser decisivo na região.

Já a Carolina do Norte tem uma mistura de perfis dos dois lados do espectro. De um lado, o eleitor jovem e cosmopolita das universidades tende a votar nos democratas. Do outro, o eleitorado rural prefere os republicanos.

Nesta disputa, quem deve desequilibrar promete ser o negro. Trump tem conseguido mais votos deste eleitorado desde 2016, mas Biden ainda aparece com vantagem.

Já o Wisconsin é uma grande mistura de características, com cidades cosmopolitas, subúrbios industriais e zonas rurais expressivas. O debate econômico tem sido importante para este eleitorado, mas a questão de segurança pública e racismo é bem forte, principalmente após a morte de Jacob Blake por policiais em agosto na cidade de Kenosha.

Iowa e Nevada

Estes são dois dos chamados “swing states”, ou “estados pêndulo”, e que oferecem 6 delegados cada um. Apesar de um número pequeno de delegados, estas regiões podem ser decisivas em uma eleição bastante acirrada.

Iowa tem mesclado bem sua preferência, com vitórias de Obama nas duas eleições que participou, enquanto Trump venceu em 2016.

Já Nevada tem se destacado por ter sido um local em todos os presidentes eleitos venceram entre 1980 e 2012, passando por candidatos dos dois partidos. Na última eleição, porém, o estado votou em Hillary Clinton, que acabou derrotada por Trump.

O que dizem as pesquisas

O mapa acima mostra quem a maior parte dos estados que prometem ser decisivos nesta eleição ainda estão indefinidos, ou seja, nenhum dos dois candidatos aparece com vantagem maior que 5 pontos percentuais no compilado das pesquisas eleitorais. Os dados são do jornal Financial Times.

Apesar disso, o democrata Joe Biden aparece com uma vantagem quando analisado este cenário estadual. Das regiões apontadas como importantes para este pleito, ele tem uma vantagem ligeiramente acima de 5 pontos na Pensilvânia, Minnesota, Michigan e Wisconsin, enquanto Trump ainda não conseguiu ganhar tração em nenhum destes estados.

No mapa, as cores mais escuras, tanto em vermelho quanto azul, representam estados em que o candidato já tem uma vantagem mais sólida e que dificilmente veremos uma reversão de cenário.

É importante lembrar, porém, que pesquisas eleitorais não fazem previsão, mas mostram um recorte do momento atual. Após estes levantamentos não conseguirem captar uma mudança na tendência em 2016, para esta eleição muitas mudanças foram feitas para tentar se aproximar mais do real cenário (clique aqui para saber mais).

Principalmente nos EUA, onde o voto não é obrigatório, um cenário em que muitos eleitores decidam ir votar na última hora pode acabar levando a uma mudança de resultado em determinadas regiões, o que pode pesar na eleição geral.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.