Paulo Guedes critica Meirelles e diz que teto de gastos foi “mal construído”

“Se nós ganharmos, serão dez anos de crescimento”, promete ministro da Economia em conversa com empresários

Fábio Matos

O ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto por Andressa Anholete/Getty Images)

Publicidade

Em um discurso em tom de campanha a quatro dias do segundo turno das eleições, o ministro da Economia, Paulo Guedes, mirou em seu antecessor na pasta, Henrique Meirelles, que declarou apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Palácio do Planalto.

Nesta quarta-feira (26), em palestra a empresários em Belo Horizonte, o chefe da equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro (PL) afirmou que o teto de gastos – criado por Meirelles em sua gestão no Ministério da Fazenda, entre 2016 e 2018, no governo Michel Temer (MDB) – foi “mal construído”.

[O teto de gastos] É tão mal construído que o ministro que estão falando que vai ser ministro do Lula, o Meirelles, nem economista é”, ironizou Guedes. “Ele fez um teto, passou dois anos falando, e hoje fala todo empolado: ‘estão furando meu teto’. Já anunciou que vai entrar furando. Porque é um teto muito mal construído”.

Continua depois da publicidade

Engenheiro de formação, Meirelles é um dos nomes mais respeitados pelo mercado e tem vasta experiência na área financeira. Além de comandar a Fazenda no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), ele foi presidente do Banco Central (BC) nos dois mandatos de Lula (2003-2010) e presidente mundial do Bank Boston. O último cargo que ocupou foi no comando da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, durante o governo João Doria (ex-PSDB).

Em entrevista ao InfoMoney, há duas semanas, Meirelles afirmou que o cenário econômico do país para 2023 ainda é nebuloso, tanto no caso de vitória de Lula quanto com uma eventual reeleição de Bolsonaro. Para ele, o próximo governo terá de ser rigoroso na política fiscal, tendo em vista o ambiente externo mais desafiador e o quadro mais restritivo das contas públicas. Assista na íntegra clicando aqui.

Ao InfoMoney, o ex-presidente do BC disse que, em relação a Bolsonaro, a dúvida é se prevaleceria o candidato que vendeu ao eleitorado um discurso liberal em 2018 ou aquele que driblou sistematicamente o teto de gastos e expandiu o uso da máquina pública no ano eleitoral, para tentar aumentar suas chances de conquistar um novo mandato.

Continua depois da publicidade

“Ele (Bolsonaro) gastou muitos recursos, agora em 2022, que tinham finalidades eleitorais. A pergunta é: ele adota o governo que foi prometido, de responsabilidade fiscal, de visão liberal, ou continuará em uma postura eleitoral? Não faz muito sentido isso durante o início de governo, mas teremos que ver”, afirmou Meirelles.

Crescimento por 10 anos

Durante o evento desta quarta-feira, Paulo Guedes criticou Lula e disse que o Brasil não terá crescimento econômico se o petista voltar ao poder.

“No ano que vem, eu acredito que o PIB não vai crescer se o outro candidato ganhar. Se nós ganharmos, serão dez anos de crescimento de 3%, 3,5%, 4%”, projetou o ministro, que foi muito aplaudido pelos empresários.

Continua depois da publicidade

Em sua fala, Guedes voltou a refutar as informações de que o governo pretenderia retirar os descontos com despesas médicas e educacionais do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) e acabar com o reajuste do salário mínimo e das aposentadorias com base na inflação a partir do ano que vem.

“Não se impressionem com mentiras. É uma mentira por dia. A mentira agora é a de que nós vamos mexer no Imposto de Renda. Agora mesmo eu desci no aeroporto e alguém falou: ‘tira a mão do meu salário’. Eu falei: ‘calma aí que o ladrão está chegando, ele vai ajudar você’”, disse Guedes.

“É evidente que eu acho que quem vai ganhar a eleição somos nós. Eu estava só alertando para que lado ele tem que olhar”, finalizou. O discurso do ministro da Economia foi proferido durante um evento organizado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em Belo Horizonte.

Continua depois da publicidade

No encontro com empresários, o ministro voltou a sinalizar que o governo pretende alterar a faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física. “Nós vamos subir a taxa de isenção para os mais vulneráveis justamente não pagarem”, prometeu.

Ao citar a participação de Tiradentes na Inconfidência Mineira, disse: “Nós representamos essa filosofia de liberdade, de impostos mais baixos, de liberdade de religião, de liberdade de imprensa, religiosa”.

Guedes também afirmou que não há “nenhum Plano Guedes” e que a proposta para um possível novo governo de Jair Bolsonaro é continuar o “plano que todo mundo conhece”.

Continua depois da publicidade

“O que estamos fazendo é o que vamos continuar fazendo. Se demos aumentos para salário mínimo e para aposentadorias, pensões e benefícios durante a tragédia e a guerra, o que vamos fazer agora que a pandemia foi embora? Vamos dar aumento acima da inflação”, disse.

“Rolagem da desgraça”

Para Guedes, desde o início do governo Bolsonaro há uma “rolagem da desgraça”. No primeiro ano, segundo o ministro, a “desgraça” era atrelada à hipótese de não governabilidade e de o governo ser uma ameaça à democracia. No segundo, passou a ser uma previsão do PIB cair. “Agora a rolagem foi para o ano que vem”, pontuou.

No evento da Fiemg, o ministro afirmou que “em toda arca de Noé tem um pica-pau” e que hoje “está cheio de sabotador a bordo também.”

O ministro voltou a dizer que o País cresceu em “V” após a pandemia e que os “pica-paus” erraram de novo. “Caímos menos que outros países e voltamos mais rápido, em V. Diziam que iríamos ficar em depressão”, afirmou. “Esse ano previam que o PIB iria cair 1,5%, depois ficar em zero, depois subir 1,0%, 2,0% e agora estão em 2,7%. Eu avisei que vão ficar fazendo revisão para cima até o final do ano”.

Guedes declarou ainda que o País está crescendo mais do que os países pertencentes ao G7, e que entre os países do G20 somente três estão com a inflação mais baixa que o Brasil, são eles, segundo o ministro, Japão, China e Arábia Saudita. A autoridade também afirmou que o País virou uma máquina na geração de empregos e citou que a taxa de desemprego, que está em 8,9%, vai rumo a 8,0%.

Pandemia

O ministro declarou que o governo teve coragem política de fazer “em tempos de guerra o que ninguém tem coragem de fazer em tempos de paz”, ao se referir ao período de pandemia.

“Que é dizer, vocês funcionalismo público estão com salários bem acima do setor privado, estão em home office, tem estabilidade de emprego, vamos sacrificar um pouquinho pela população para a gente superar essa guerra”, afirmou.

Guedes disse, ainda, que o Brasil foi a única economia do mundo que “pagou pela guerra em tempo real”. “Nós podemos bater no peito com orgulho e falar assim: Nós pagamos essa guerra. A dívida/PIB era 77% quando chegamos e hoje é 77%. Tudo pago. Não jogamos nada para nossos filhos e netos no futuro”, disse.

(com Agência Estado)

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”